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Olhar Olímpico

Judô brasileiro testa sua capacidade de renovação em Mundial

Demétrio Vecchioli

27/08/2017 04h00

(Reprodução/Instagram)

Ainda que a sensação seja de que vai tudo bem, obrigado, com o judô brasileiro, isso só é verdade para as mulheres. Basta ver o histórico em Mundiais. Das 12 medalhas conquistadas em três Mundiais no ciclo olímpico passado, só três foram conquistados por homens – duas com Rafael Silva, uma com Victor Penalber. De toda a fantástica geração nascida entre 1980 e 1983, só Luciano Corrêa continua na seleção. Chegou a hora de novos judocas mostrarem suas caras e não há momento melhor do que o Mundial de Budapeste, que começa nesta segunda-feira.

Não que a equipe esteja completamente renovada. Luciano Corrêa, aos 34 anos, ainda é o melhor do país no meio-pesado e as maiores chances de medalha parecem ser dos pesados David Moura e Rafael Silva, ambos de 30 anos. Mas claramente há um gás novo com a presença dos novatos Phelipe Pelim (27 anos) e de Eduardo Yudi (22). Além disso, Eric Takabatake, Charles Chibana e Marcelo Contini já ganharam rodagem para dar o "passo a mais".

Passo que praticamente não foi dado em durante o ciclo olímpico passado. Nas cinco categorias intermediárias do judô (exatamente as quais mais se destacou no passado), o Brasil só chegou às quartas de final em três momentos: com Charles Chibana competindo bem em casa no Rio, em 2013, e com Victor Penalber, em 2014, quando foi sétimo, e 2015, na campanha do bronze. E foi só, em 20 oportunidades. Muito pouco para a modalidade que se orgulha, com razão, de ser o carro-chefe do esporte olímpico brasileiro.

Em Budapeste, a grande chance de quebrar essa rotina é David Moura, que lidera o ranking mundial no peso pesado e, depois de ficar fora da Olimpíada, só não foi ao pódio em um dos cinco torneios internacionais que disputou. Enquanto isso, Rafael Silva, também convocado, foi sétimo nos últimos dois Grand Slams que disputou, mas, dono de duas medalhas olímpicas e outras duas em Mundiais, sabe como ninguém no judô brasileiro se superar nas grandes competições.

No feminino, por outro lado, o cenário parece ser de evolução. As principais chances de medalha são as mesmas de sempre: Sarah Menezes, Erika Miranda (cada uma dona de três medalhas em Mundiais), Mayra Aguiar (quatro), Rafaela Silva e Maria Suelen Altheman (duas cada). Como equipe de altíssimo nível, mesmo que duas ou três delas não correspondam, ainda assim sobra ao menos outras duas para ir ao pódio.

Se no masculino o último ciclo olímpico foi de transição entre gerações, entre as mulheres o time é exatamente o mesmo desde 2011 – só Mariana Silva não vai a Budapeste, por lesão. E foi exatamente esse problema que permitiu a convocação de Sarah Menezes, que deixou a categoria até 48kg, na qual foi campeã olímpica em Londres, e agora divide espaço com Érika Miranda entre as judocas de até 52kg.

Sarah ainda não se adaptou aos confrontos contra atletas mais fortes e é só a terceira brasileira no ranking, mas acabou ganhando um voto de confiança da CBJ. E a mudança de categoria da piauiense abriu caminho para que, após seis longos anos, o Brasil enfim olhasse com esperança para uma nova judoca que não as cinco de sempre.

Trata-se de Stefannie Koyama, de apenas 21 anos que, assim como Eduardo Yudi, a grande novidade da equipe masculina, é formada na escola japonesa de judô e só passou a competir pelo Brasil recentemente – no caso dela, desde 2017 mesmo. Ainda assim, Stefannie já é a sexta do ranking mundial.

Stefannie está entre as primeiras brasileiras a lutarem no Mundial. Atleta do peso ligeiro, ela compete já na segunda-feira. Deu azar no sorteio e, na segunda luta, deve encarar a a japonesa Funa Tonaki – se for derrotada nesta fase, ela não disputa a repescagem. Pior ainda se deu Eric Takabatake, outro que luta na segunda. Ele era cabeça de chave, mas vai estrear diante do casaque Yeldos Smetov, vice-campeão olímpico no Rio.

Outra que se deu mal foi Suelen, que deve encarar a ex-campeã mundial Song Yu, chinesa, já na segunda rodada – mas isso só no sábado que vem. Por outro lado, Mayra Aguiar tem caminho livre até as quartas de final, mesma situação de Erika Miranda.

 

 

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.