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Olhar Olímpico

Astro da natação e namorado lideram campanha por casamento gay

Demétrio Vecchioli

25/08/2017 04h00

(Reprodução)

Quando lembra do garoto de 15 anos que se tornou o mais jovem campeão mundial da natação, Ian Thorpe pensa que ele teria sido mais feliz se, desde então, tivesse tido a liberdade de assumir sua homossexualidade. Quase uma década depois, é em jovens como ele mesmo já foi que o 'Torpedo' se inspira para liderar uma campanha pela legalização do casamento entre pessoas do mesmo gênero na Austrália.

"A razão pela qual é pessoalmente importante para mim essa campanha é a mensagem que ela envia a um jovem eu: que a forma como eu me sentia era igual à maneira que os outros se sentem. Quando temos esse tipo de reconhecimento na igualdade de casamento é que os jovens podem sentir isso e começarem a se livrar de todas essas camadas de discriminação que a comunidade LGBT pode enfrentar", disse Thorpe, em entrevista ao jornal australiano The Sydney Morning Harold.

Thorpe, que há anos tinha sua sexualidade discutida pela opinião pública australiana, negando diversas vezes ser gay, assumiu ser homossexual em 2014, em entrevista a um canal de televisão britânico. "Eu estou confortável de dizer que sou um homem gay. Eu não quero que as pessoas se sintam como eu me sentia. Você pode crescer estando confortável em ser gay", afirmou na ocasião.

Em agosto do ano passado, ele assumiu um relacionamento com o modelo Ryan Channing, com quem continua comprometido. Os dois fizeram campanha juntos pelo casamento gay e, nos últimos dias, apareceram em comerciais na televisão da Austrália incentivando as pessoas a votarem.

É que o plebiscito, incentivado pelo governo liberal australiano, será feito por correspondência, depois de o Senado vetar em duas oportunidades uma votação mandatória. Os australianos tinham até esta quinta-feira para atualizarem endereço e informações pessoais junto à comissão eleitoral, para poderem receber as células de votação no mês que vem.

Na propaganda, Thorpe é quem aparece dentro da piscina, com o namorado prestes a largar para uma prova de 100 metros. O astro da natação, aposentado desde 2006 (ele tentou voltar ao esporte sem sucesso em 2011), diz que pode fazer seu cadastro, pelo celular, mais rápido do que o tempo de Channing ir e voltar na piscina.

A campanha, porém, poderá ser em vão, porque a Suprema Corte da Austrália ainda vai julgar duas ações que podem suspender o plebiscito. A própria campanha pelo "Sim", chamada "Igualdade", é contrária à necessidade do plebiscito e cobra que o governo de Camberra tome a decisão de autorizar o casamento gay. A expectativa é de que o "Sim" vença com facilidade, mas o resultado não será obrigatoriamente transformado em lei.

Thorpe é considerado o grande nome da história da natação australiana. Ele fez sua estreia internacional aos 14 anos e, aos 15, já era campeão mundial dos 400m livre, em 1998. Apelidado de "O Torpedo", ele dominou as provas de 400m e 200m livre até os Jogos de Atenas, em 2004, foi novamente campeão olímpico nas duas distâncias.

Após a Olimpíada na Grécia, o australiano tirou um ano sabático, voltando ao esporte no final de 2005. A partir dali, uma série de lesões o fizeram se aposentar já no fim de 2006, quando tinha apenas 24 anos. Em 2011, ele chegou a voltar à natação, para tentar se classificar para a Olimpíada de Londres nos 100m livre e nos 200m, falhando na missão.

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.