Topo

Olhar Olímpico

Empresa aberta em abril é contratada sem licitação para 'cobrir' velódromo

Demétrio Vecchioli

23/08/2017 13h00

Reprodução/TV Globo

A Autoridade de Governança do Legado Olímpico (AGLO) contratou uma empresa ligada a um ex-dirigente da Rio-2016, aberta apenas no último mês de abril, para tapar de forma paliativa a cobertura do Velódromo Olímpico, que pegou fogo em julho. Alegando que o serviço era emergencial, o órgão ligado ao Ministério do Esporte não realizou licitação para encontrar o menor preço. E ainda divulgou que a contratação, por R$ 204 mil, serviria para consertar a cobertura, o que não é verdade.

"É um trabalho emergencial, para tentar cobrir o buraco, para que não tenha nenhum tipo de infiltração de água e permita ao ar condicionado funcionar corretamente. É um serviço paliativo até que consigam fazer a reparação do teto. Não é serviço um serviço de reparo, não envolve construção civil. É só uma cobertura temporária", explica Felipe Penteado, gerente de negócios da UpDown e engenheiro responsável pelo serviço.

Não é o que informou a AGLO ontem. Questionada sobre quanto custaria a reforma da cobertura, que pegou fogo depois que um balão caiu sobre o local na noite de 30 de julho, a autarquia informou a respeito da contratação da UpDown, que já constava no Diário Oficial, como "recomposição da cobertura da Arena do Velódromo Olímpico".

Em seu site, a UpDown diz ser "referência" nos mercados de "rigging, iluminação extra para esportes, locação de equipamentos de áudio, luz e vídeo, limpeza de fachadas e produções de eventos". Além disso, diz acumular "grandes clientes e experiências". Só não diz que a empresa (UpDown Equipamentos para Eventos) só foi aberta no último dia 6 de abril pelos sócios Marcelo Beda dos Reis e Mauro Fernando Machado. Eles ainda ganharam o reforço de Penteado, que foi coordenador de contratos do Comitê Rio-2016.

O blog tentou contato com Mauro, que pediu que a reportagem ligase para Marcelo. Quando o repórter se apresentou, ele desligou o telefone e não mais atendeu. Coube ao antigo coordenador da Rio-2016 explicar a situação. "A gente tem três empresas e essa é a mais nova, para uma nova área de negócios. O grupo tem mais de 30 anos de experiência", garante, citando que a CAT Rio (mesmo nome fantasia da UpDown, mas com outro CNPJ) prestou serviços de içamento para o Comitê Rio-2016 em quatro arenas, além de ter fornecido energia temporária no Engenhão.

Questionado sobre a experiência da UpDown, ele citou eventos que aconteceram antes de a empresa ser aberta, em abril, alegando que o grupo econômico é o mesmo. Depois, perguntado sobre os motivos de a firma contratada pela AGLO ser a UpDown, ele foi seco: "Questões meramente tributárias", se negando a explicar o que isso significava. Com capital de R$ 20 mil, a UpDown receberá 10 vezes esse valor após apenas quatro meses.

A AGLO foi questionada no fim da tarde de terça-feira sobre a contratação de uma empresa sem experiência e sem passar por licitação. O blog perguntou: "Quantas e quais empresas participaram da concorrência?", "Como uma empresa com quatro meses de existência demonstrou capacidade técnica de realizar a obra?" e "Como a empresa foi escolhida para ser contratada?", mas não obteve resposta.

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.