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Olhar Olímpico

Primeira campeã mundial de Venezuela pede fim de 'guerra entre irmãos'

Demétrio Vecchioli

08/08/2017 04h00

Dylan Martinez/Reuters

Em toda a história dos Campeonatos Mundiais de Atletismo, a Venezuela só havia chegado a uma final, em 2011, obtendo um oitavo lugar. Em apenas dois dias da competição em Londres, porém, o país que vive um conturbado momento político ganhou suas duas medalhas. A primeira a ir ao pódio foi a surpreendente Robeilys Peinado, de apenas 19 anos, bronze no salto com vara. Nesta segunda, Yulimar Rojas venceu uma disputa eletrizante contra a estrela colombiana Catherine Ibargüen, então bicampeã, e se tornou a primeira medalhista de ouro de seu país, no salto triplo.

"Creio que meu país não é conhecido por ser de muitas medalhas nos Campeonatos Mundiais, por ter atletas de tão alto nível, mas meu país está celebrando tanto quanto eu essa conquista. Quero agradecer por todo apoio e espero que sigam apoiando o atletismo, não só ao futebol, beisebol e basquete. O atletismo também tem potencial", disse Rojas, após a conquista no Estádio Olímpico de Londres.

Apesar de ter apenas 21 anos, Rojas já tem um currículo invejável. Foi campeã mundial indoor no começo do ano passado e medalhista de prata nos Jogos Olímpicos do Rio, quando perdeu exatamente para então imbatível Ibarguen. À época, recebeu condecorações do presidente Nicolás Maduro e chegou a posar com a medalha em frente a uma foto de Chávez.

Rojas não tem o que reclamar do governo venezuelano. Há dois, mora e treina na Espanha, bancada pelo estado. "Meu país sempre foi caracterizado por me apoiar, para tratar de que eu me sinta muito bem. Estou há dois anos na Espanha treinando com Ivan (Pedroso, cubano), foi o melhor que aconteceu na minha vida. Espero seguir recebendo apoio do meu país e que apoiem mais o atletismo", afirmou.

 

Questionada pelo Olhar Olímpico sobre o momento político da Venezuela, que recentemente elegeu uma polêmica assembleia constituinte, disse estar triste com a situação. "É um país maravilhoso. Vamos sair de todo isso, acabar com a guerra entre os irmãos venezuelanos. Estou feliz de poder dar essa felicidade a eles".

O blog insistiu no tema e pediu que ela comentasse sobre as críticas de imprensa internacional, que tem tratado Maduro como ditador. Rojas, porém, não quis problemas para ela. "Não gostaria de falar sobre esse tema, que é muito delicado. Quero falar sobre o que passou aqui."

Emocionante – E o que se passou em Londres durante toda a final do salto triplo foi de acelerar corações. Desde o primeiro salto, Rojas e Ibargüen estavam nas duas primeiras colocações. A venezuelana fez 14,82m e 14,83m no segundo e terceiros saltos, mas a colombiana respondeu com 14,89m. "Achei que seria campeã com esse salto", admitiu, depois.

Mas não foi. Rojas não sentiu a pressão e respondeu no quinto salto, passando a rival por dois centímetros, com 14,91m. Como estava em primeiro na metade da prova, Ibargüen tinha o privilégio de saltar sempre depois. Assim, foi para o último salto com a chance de título. No visual, pareceu chegar onde precisava, mas a medição não deixou dúvida: com 14,88m, ficou com a prata. Foi a primeira derrota dela em grandes competições desde os Jogos de Londres, exatamente no Estádio Olímpico.

Campeã naquela ocasião, em 2012, a casaque Olga Rypakova terminou com o bronze, com 14,77m. Ocupou o lugar que poderia ser da brasileira Núbia Soares, quarta colocada no ranking mundial, que sofreu uma lesão na última competição antes do Mundial e acabou cortada. Também aos 21 anos, a brasileira chegou a vencer Rojas no Campeonato Sul-Americano deste ano, disputado em Assunção, no Paraguai.

Sul-americanos – Os bons resultados alcançados por Colômbia e Venezuela evidenciam ainda mais a má campanha feita pelo Brasil em Londres até agora. Vide o salto com vara, prova na qual o país sequer mandou representante, depois da aposentadoria de Fabiana Murer e da decisão de Thiago Braz de não disputar o Mundial. Em uma prova de nível técnico baixo, a venezuelana Peinado confirmou o potencial mostrado na base e beliscou um bronze dividido com a cubano Yarisley Silva.

Enquanto isso, o Brasil só fez uma final até aqui, com Rosângela Santos, sétima nos 100m. A segunda final será na terça, quando Thiago André vai representar a tradição brasileira na prova de 800m, ainda que tenha poucas chances de medalha.

Outros candidatos, como Darlan Romani, ficaram pelo caminho, a maioria deles com resultados muito ruins. Só nesta segunda-feira, Aldemir Gomes foi 36º nas eliminatórias dos 200m, com 20s82, e Matheus Adão terminou na 27ª colocação entre 30 atletas no salto triplo. Nos dois casos, são atletas que sabem fazer muito mais. Se tivessem repetido o desempenho do Troféu Brasil, teriam avançado com o terceiro e oitavos lugares, respectivamente.

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.