Como Fratus superou 'pesadelo' da Rio-2016 para coroar melhor fase da carreira com prata

(Satiro Sodré/SSPress/CBDA
Há dois anos, Bruno Fratus estava exatamente como agora: com uma medalha de Mundial no peito. Só que, em 2015, após o bronze em Kazan, ele tinha uma Olimpíada dali as 12 meses. Candidato ao ouro, porém, o brasileiro se viu em uma frustrante sexta colocação na final dos 50m livre, sem nenhuma condição física de fazer melhor do que aquilo. Mas o mundo dá voltas e, neste sábado, Fratus não só faturou a prata no Mundial de Budapeste, como anotou a melhor marca da vida: 21s27.
"A Olimpíada do Rio foi um pesadelo para mim. Eu sentia que eu acordava todo dia para viver um pesadelo, porque sabia que não estava em condição de fazer o que eu fiz aqui hoje (sábado). Hoje, antes da prova, eu queria nadar logo, sair para a briga, porque sabia que ia sair coisa boa. Não sabia que fosse sair um 21s2, mas sabia que ia vir uma p… duma prova", conta Fratus.
Ele não conseguiu o ouro, que foi para o fantástico norte-americano Caeleb Dressel (21s15), mas alcançou a terceira melhor marca da história da prova para atletas sem os trajes tecnológicos, que foram permitidos entre 2008 e 2009. Só fica atrás do resultado de Dressel neste sábado e do 21s19 que o francês Florent Manaudou alcançou para ganhar o ouro em Kazan.
Antes, no domingo, Fratus já havia brilhado para que o Brasil conquistasse a medalha de prata no revezamento 4x100m livre, fechando a prova em 47s18, contra 47s25 do norte-americano Nathan Adrian, que viria a ser o vice-campeão dos 100m livre.
"Nadei para 21s2 hoje, dei uma parcial de 47s1 no revezamento. Estou na melhor forma da minha vida agora, sem dúvida. Quando você treina pra c… você se machuca e eu aprendi a lidar com isso. Mudei alguns métodos de treino, principalmente na sala de peso. Comecei a escutar mais meu corpo na parte de dieta, emocional", explica.
Antes do Troféu Maria Lenk do ano passado, disputado no Estádio Aquático e que valeu como seletiva olímpica para os nadadores brasileiros, Fratus já sofria com dores lombares. O Comitê Olímpico do Brasil (COB) chegou a enviar um fisioterapeuta aos Estados Unidos, onde o nadador mora, para acompanhá-lo. Fratus se classificou para a Rio-2016, continuou sofrendo com as dores, e voltou a receber o especialista Nathan Cunha antes da Olimpíada.
"O COB cuidou de mim da melhor forma que eles podiam. E teve um pouco da CBDA também. É o apoio que você espera de uma instituição como eles. Ter eles acreditando no seu resultado te faz querer mais, te dá a sensação de que tem muita gente não só torcendo, mas trabalhando pelo seu resultado", ressalta. Mas, apesar de todo o apoio, Fratus foi só sexto no Rio. "Toda lesão tem um fator emocional por trás. Acho que a ansiedade, o nervosismo por nadar em casa, acho que acabou ajudando."
No fim do ano, foi informado pelo Skype de que o Pinheiros, clube que defendeu durante praticamente toda a carreira, não renovaria seu contrato. O clube passou a exigir que seus atletas treinassem no Brasil, o que Fratus não aceitaria – Marcelo Chirighini, que treina com ele nos Estados Unidos, se comprometeu a voltar para São Paulo a partir do segundo semestre e foi mantido.
Fratus se viu sem clube (e consequentemente sem salário) e se apoiou na esposa, a ex-nadadora Michele Lenhardt, que passou a aplicar os treinos montados pelo treinador Brett Hawke. "A Michele estava me treinando na beira da piscina, escrevendo meu plano alimentar, fazia meus treinos na musculação. Aqui no hotel (em Budapeste), chego para comer, mando foto, ela consegue escolher, me ajudar. Ela me ajuda na parte de preparação mental e emocional", conta.
Com o mercado de natação no Brasil restritíssimo, com apenas outros três clubes (Sesi, Unisanta e Minas Tênis Clubes) pagando salários do nível que um medalhista de Mundial merece, Bruno ficou desempregado. Só pôde nadar o Maria Lenk oficialmente, participando de finais, porque o Internacional de Santos o federou. "O pessoal do Inter foi extremamente receptivo. Eles me acolheram quando eu precisava nadar o Maria Lenk conforme as regras. Sou grato por eles terem aberto as portas do clube quando eu precisava", agradeceu Fratus.
Mais maduro, aos 28 anos, Fratus aproveitou a chance que teve. Venceu o Maria Lenk, se classificou para Budapeste, e iniciou ali uma sequência de bons resultados, todos na casa de 21s7. Só na Europa foram cinco torneios preparatórios vencidos. Uma campanha que o qualificou para chegar à Hungria como um dos favoritos nos 50m livre.
Neste sábado, ele correspondeu, ajudando a natação brasileira a conquistar sua quinta medalha no Mundial, a quarta de prata. Além do revezamento, também Nicholas Santos (50m borboleta) e João Luiz Gomes Jr (50m peito) foram prata. Etiene Medeiros ganhou o único ouro, nos 50m costas, se tornando a primeira brasileira campeã mundial.
Sobre o autor
Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.