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Olhar Olímpico

Estrela italiana mostra que experiência ainda tem vez contra novinhas da natação

Demétrio Vecchioli

26/07/2017 19h00

Tamas Kovacs/MTI via AP

Ao ganhar a medalha de prata nos 200m livre nos Jogos de Atenas, em 2004, poucos dias depois de completar 16 anos, Federica Pellegrini se tornou a mais jovem italiana a subir a um pódio olímpico. O feito dela, somado a tantos outros, ajudou a criar a máxima de que, na natação feminina, pouca idade não é problema – é praticamente uma solução. Nesta quarta-feira, a mesma Pellegrini mostrou que paradigmas existem para serem quebrados. Veterana de 28 anos, quase 29, venceu a então invencível Katie Ledecky nos 200m livre no Mundial de Natação de Budapeste. Justo em sua última prova da carreira na distância.

Quem apostasse em um resultado como esse antes da largada, ou mesmo na virada dos 150 metros da final, seria taxado de louco. Ledecky até então nunca havia perdido uma prova em Campeonatos Mundiais, no alto dos seus 20 anos. Tinha (e ainda tem) 12 medalhas de ouro, sendo quatro em 2013, cinco em 2015 e três em 2017. É verdade que nunca havia ganhado os 200m livre, mas vinha de ouro na Olimpíada, liderava o ranking mundial e havia se "poupado" na final dos 1.500m, um dia antes, vencendo sem o recorde mundial.

Mesmo durante a mais parte da prova, uma vitória de Pellegrini parecia impossível. Na última virada, ela estava em quarto, a meio segundo de Ledecky e da australiana Emma McKeon, com quem a americana acabou dividindo a prata. Nem a italiana acreditava que poderia vencer.

"Queria uma medalha, mas com certeza não pensava no ouro. Vi que estávamos todas meio juntas. Quando vi o resultado no telão, não conseguia acreditar", contou. Nem Ledecky, que fez cara de insatisfação assim que ficou sabendo do resultado e manteve o sorriso amarelo até o pódio, quando a torcida húngara acompanhou o hino italiano marcando-o com palmas.

Era uma forma de homenagear uma das maiores nadadoras deste século, que, depois da prova, revelou à tevê italiana que não mais vai nadar os 200m livre, prova na qual consagrou sua carreira. "Era importante ganhar uma medalha, porque esse para mim é o último 200m livre. Posso voltar com outra prova, mas essa é a última vez em nível internacional", revelou, para a surpresa dos jornalistas italianos informados a respeito na zona mista. "Não sei de onde tirei essa energia", completou, diante de repórteres que se acotovelavam para ouvi-la.

A entrevista foi curta e Federica logo saiu em direção à área reservada pelos atletas. Antes, porém, ganhou abraço de um homem encapuzado. Era Filippo Magnini, seu ex-namorado, que a estava esperando. Era tudo que a imprensa italiana queria para voltar a falar de um dos seus casais prediletos.

"Fede", afinal, é uma estrela no país e um dos alvos preferidos da imprensa de fofoca. Quando ela começou a namorar Magnini, seu ex-namorado, o também nadador Luca Marin, fez comentários nada elegantes sobre o casal. Aliás, a própria "musa" da natação italiana (como é tratada pela imprensa local) já havia sido ela a pivô de outro fim de relacionamento midiático, entre o próprio Marin e sua então rival Laure Manaudou, francesa.

Ao ganhar o ouro em Budapeste, porém, Pellegrini volta às manchetes pela via esportiva, apagando o fracasso na Rio-2016, quando ficou em quarto lugar, superada exatamente por Ledecky e McKeon. A medalha é a quinta de ouro dela em Mundiais, a décima no total. É a sétima edição seguida da competição que ela vai ao pódio.

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.