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Olhar Olímpico

Medalhista mais velho da história da natação, Nicholas é prata aos 37 anos

Demétrio Vecchioli

24/07/2017 13h25

Nicholas Santos é prata em Budapeste (Foto: Satiro Sodré/SSPress/CBDA)

Nicholas Santos não alcançou o recorde mundial que tanto queria, nem se sagrou campeão mundial dos 50m borboleta. Mas, nesta segunda-feira, garantiu a segunda medalha do Brasil na Duna Arena, em Budapeste (Hungria), no Mundial de Natação. Com 22s79, ficou com a prata na prova, atrás apenas do britânico Benjamin Proud, que fez 22s75 e venceu por quatro centésimos. Henrique Martins, com 23s14, terminou em sétimo. Tanto ele quanto Henrique tinham marcas melhores que Proud e continuam líderes do ranking mundial, com 22s61 e 22s70, respectivamente.

A prova reuniu alguns dos melhores velocistas da atualidade. Proud é o líder do ranking mundial nos 50m livre e Caeleb Dressel, quarto colocado, bateu o recorde norte-americano dos 100m livre ontem, durante o revezamento 4x100m livre. Quinto, o cingapuriano Joseph Schooling venceu Michael Phelps nos 100m borboleta no Rio. Ambos ficaram atrás do ucraniano Andrii Govorov, medalhista de bronze, que é treinado pelo brasileiro Arilson Santos.

"Estou super feliz. Hoje eu me torno o medalhista de campeonato mundial mais velho da história. Eu falei que o Proud era um adversário à altura. Continuo com o melhor tempo do mundo", comemorou o brasileiro ao "SporTV". Nicholas, no entanto, queria ainda mais e lamentou ter ficado atrás do britânico por centésimos. "Estava bem concentrado, focado, são detalhes, uma batida de mão mais forte."

Alcançar uma medalha aos 37 anos e cinco meses é um feito bastante expressivo para a natação, ainda mais se levarmos em conta que Nicholas não só é o atleta mais velho do Mundial como é mais de quatro anos mais velho que o segundo desse ranking. Ou seja: ele está conseguindo não só prolongar a carreira, mas chegar ao topo, um ciclo olímpico inteiro depois da idade que parece ser a limite para a maior parte dos nadadores.

Nadador de seleção brasileira há 16 anos, Nicholas inicialmente se destacou como nadador de provas de velocidade, especialmente os 50m livre. Em 2004, formou, com Cesar Cielo e Thiago Pereira, a equipe de revezamento 4x100m livre que conquistou a medalha de prata no Mundial de Piscina Curta. Era o início de uma série de conquistas que essa geração teria.

O próprio Nicholas iria ao pódio em Dubai-2010, Istambul-2012 e Doha-2014, todos Mundiais de Piscina Curta, ganhando o ouro nos 50m borboleta em 2012. Mas, já no que parecia ser um fim de carreira (afinal, tinha 33 anos em 2013), ele ainda tentou se reinventar para estar nos 100m borboleta na Olimpíada do Rio. "Todo mundo falava: você tem que treinar para os 100m borboleta, a Olimpíada é no Brasil", contou ao Olhar Olímpico. Faltava, afinal, um resultado expressivo em uma Olimpíada.

Ele se reinventou, chegou a fazer o índice olímpico, mas não conseguiu ficar com as vagas na Olimpíada, que foram para Henrique Martins e Marcos Macêdo. No meio do caminho, foi prata no Mundial de Kazan, em 2015. No Mundial de Piscina Curta de Windsor, no ano passado, ele chegou com boa expectativa para os 50m borboleta, mas relaxou demais na semi e nem foi para a final.

Poderia ser o fim da linha da carreira de Nicholas, mas Marcelo Teixeira, presidente da Unisanta (e ex-presidente do Santos) o convenceu a renovar o contrato para mais um ciclo olímpico. No começo da temporada, uma lesão muscular no peitoral atrapalhou sua preparação para o Maria Lenk e ele só conseguiu se concentrar nos treinos para os 50m borboleta. E isso acabou por ajudá-lo. No Rio, fez duas vezes a melhor marca da temporada. O 22s61 da final do Maria Lenk foi o melhor resultado da prova sem trajes, só abaixo do recorde mundial do espanhol Rafa Munhoz: 22s43.

Antes do Mundial, Nicholas não escondia de ninguém que sua meta era bater o recorde mundial em Budapeste. Para isso, precisaria dosar bem as passagens das eliminatórias e da semifinal, o que conseguiu fazer. Marcou 23s24 ontem pela manhã e 22s84 à tarde. Não foi à final balizado com o melhor tempo, mas era exatamente esse o plano.

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.