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Olhar Olímpico

Enferrujado e desmontado, velódromo do Pan tem novo prazo para reabrir: 2019

Demétrio Vecchioli

21/07/2017 04h00

Imagem: Julie Jacobson/AP Photo

2015, 2016, 2017… O prazo para que o velódromo construído para os Jogos Pan-Americanos de 2007 esteja novamente à disposição dos ciclistas brasileiros já foi diversas vezes alterado. Quando o Pan do Rio completa 10 anos, uma nova data é prometida pela prefeitura de Pinhais, na região metropolitana de Curitiba: segundo semestre de 2019. Isso se absolutamente tudo correr como previsto. Algo que, até agora, passou longe de acontecer.

A novela do velódromo é antiga e vale a pena relembrá-la. Para poder receber as competições de ciclismo de pista do Pan, o Rio construiu entre 2006 e 2007 aquele que seria o primeiro velódromo coberto do país. Orçada em R$ 7,096 milhões em 2003, a obra acabou custando R$ 14,116 milhões (R$ 25,785 milhões corrigidos pelo IGP-M). Só que ela foi projetada sem seguir os padrões cobrados pela União Ciclística Internacional (UCI) para os Jogos Olímpicos, com dois pilares centrais que impediam a visão completa da pista por parte dos árbitros. Além disso, a capacidade de público era pequena (1,5 mil pessoas) e a pista considerada lenta. Em 2012, após relutar, o governo federal aceitou construir um novo velódromo.

O antigo velódromo do Pan, que à época servia como centro de treinamento da seleção brasileira de ginástica artística, foi desmontado e entregue pela prefeitura ao governo federal, que inicialmente pretendia levá-lo a Goiânia. Na falta de interessados, porém, a prefeitura de Pinhais ganhou a estrutura em 2013, após firmar um convênio de R$ 24,9 milhões com o governo federal. Só no transporte do material foram gastos R$ 1,5 milhões.

Descontando também custos com projeto e armazenamento, já foram consumidos cerca de R$ 3 milhões. Agora, a prefeitura faz as contas para tentar descobrir se os R$ 21,9 milhões restantes serão suficientes para a obra. "A gente está fazendo a parte de levantamento de todos os materiais. Nós não queremos que tenha aditivos, então temos que fazer levantamento peça a peça do que queremos na obra e com descritivo. Tem que falar qual é a fechadura que tem que ter na porta. São 1.300 itens", diz Ricardo Pinheiro, que desde sempre é o responsável pela obra na prefeitura. Ele já foi secretário de Esporte, trabalhou no setor de obras e agora é Secretário de Governo.

"Nós temos até o final de julho para entregar para a Caixa Econômica Federal a planilha e os projetos. A Caixa nos pediu de 90 a 120 dias para analisar o projeto. A gente quer lançar a licitação em novembro, para abrir os envelopes em janeiro. Se tudo der certo, a empresa vencedora começa a trabalhar no início de 2018 e, a partir daí, tem 18 meses para entregar a obra", projeta. O dinheiro já foi liberado pelo Ministério do Esporte e será repassada pela Caixa Econômica Federal de acordo com a execução das obras.

O otimismo de Ricardo, porém, contrasta com as reviravoltas pelas quais o projeto já passou. A ideia inicial era que a obra fosse entregue antes da Olimpíada do Rio. Mas a licitação feita pela prefeitura de Pinhais só teve uma empresa interessada, um consórcio formado pela SIAL Construções Civis e pela PJJ Malucelli Arquitetura, que demorou a entregar o projeto.

Analisando o material, o Tribunal de Contas do Estado do Paraná identificou um sobrepreço de R$ 4 milhões no projeto e embargou a obra. O consórcio não aceitou a readequação de preço e desistiu da obra, o que exigiu que a Prefeitura começasse todo o processo do zero. Ou de antes disso.

É que o governo municipal optou por mudar o regime de contratação da empresa que vai executar os serviços. E isso exige esse levantamento detalhado das peças que já existem e do que precisará ser comprado. Só quando esse processo acabar é que a prefeitura vai ter um inventário do que foi perdido ou roubado desde que o velódromo chegou à cidade, em 2015. Muita coisa enferrujou, como mostrou reportagem da Folha de um ano atrás.

Entre as peças que precisarão ser compradas novas, uma é fundamental: a pista em si. Afinal, a pista de pinho siberiano de R$ 2,0 milhões utilizada no Pan não poderia ser aproveitada na sua função original e virou estaca para fazer viga de cimento na obra do velódromo olímpico. Uma economia mínima numa obra que custou R$ 149,9 milhões.

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.