Pan foi responsável pelo início da derrocada do Autódromo de Jacarepaguá

Como era o autódromo antes do Pan

Faltavam exatos 494 dias para a cerimônia de abertura dos Jogos Pan-Americanos do Rio quando oficialmente foi iniciada a obra de construção daquilo que hoje conhecemos como Parque Olímpico da Barra. Ali, começava a chegar ao fim a história do Autódromo de Jacarepaguá, que viu cinco vitórias de Alain Prost durante a década de 1980.

"O Pan foi início do fim. Foi por causa do Pan que começou a mutilação da pista, que tinha 3,9 quilômetros até então. Foi ali que abriram o precedente. Antes do Pan a gente tinha a MotoGP, tinha um Brasileiro de Marcas com 70 carros, transmissão na TV. Fomos atropelados pela ganância e por uma conjuntura econômica muito maior do que o automobilismo representava na época", critica André Buriti, que durante anos foi o principal ativista em defesa do circuito.

Palco de corridas de carros desde a década de 1960, o Autódromo de Jacarepaguá foi inaugurado oficialmente em 1977, já com a promessa de ser internacional. No ano seguinte e de 1981 a 1989, recebeu a Fórmula 1, sendo palco de vitórias de Carlos Reutemann, Alain Prost, Nelson Piquet e Nigel Mansell.

Em meados da década de 1990, uma pista oval foi construída para que Jacarepaguá recebesse a Indy (1996 a 2000) e a Moto GP (1995 a 2004). "O traçado misto foi recapeado e foi feito um investimento pesado. O autódromo foi entregue a um grupo, que o PPE, que passou a fomentar um campeonato de carros de turismo. Foi o auge do circuito. A Moto GP e a Indy traziam faturamento equivalente ao carnaval", avalia Buriti.

A partir de 2002, porém, o fim do autódromo passaria a ser uma questão de tempo. Buriti tem certeza que a região de Jacarepaguá só foi escolhida para receber o Pan e, depois, a Olimpíada, por causa da especulação imobiliária. "A Barra estava estagnada e havia muito terreno vazio", lembra.

A briga em defesa do autódromo começou em 2004. "Os pilotos fizeram uma vaquinha, contratamos um escritório que impetrou vários mandatos de segurança. Recebemos vários recadinhos de vereador, pessoas ligadas ao evento, dizendo que a gente queria atrapalhar o esporte olímpico. Mas por que precisava ser dentro do autódromo?", questiona Buriti. A Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA) também entrou na briga, mas acabou derrotada.

Em 6 de março de 2006 começaria a obra que cortaria um pedaço importante da pista, no setor norte, onde foram construídos o Parque Aquático Maria Lenk e a Arena Multiuso. O velódromo do Pan, hoje desmontado, ficava na área mais a leste, onde fica a Arena do Futuro.

"A gente tinha feito vários eventos que foram cancelados em cima da hora. A prefeitura pressionando, a federação do Rio de mãos atadas. Perdemos um ano de evento, em uma época na qual estávamos recebendo a Stock Car duas vezes para o ano, que tinha um regional forte", lembra Buriti.

Pós Pan – Passado o Pan, o autódromo ainda sobreviveu mais cinco meses. Ainda em 2007 ele foi devolvido aos organizadores de corridas, que conseguiram adaptar o circuito, deixando-o com cerca de 3,1 metros. Foi nessa pista que a Stock correu de 2008 a 2012. Durante esse período, em 2010, o autódromo ainda recebeu melhorias promovidas pela Fórmula Truck, de caminhões, inclusive com a reforma dos boxes.

Mas a vitória do Rio como sede dos Jogos de 2016, em 2 de outubro de 2009, com a promessa de utilizar o terreno de Jacarepaguá, sepultou a possibilidade de o autódromo renascer. A CBA ainda conseguiu decisões judiciais para que o autódromo fosse mantido em funcionamento até que um novo fosse construído, mas acabou derrotada. Em outubro de 2012, o Autódromo Internacional Nelson Piquet recebeu sua última prova.

"A gente começou a perder o autódromo quando eles já botaram o pé aqui dentro. Eles já haviam destruído uma parte, o que custava destruir o resto? Hoje o autódromo é só lembrança e temos um Parque Olímpico que só vai servir para receber o Rock in Rio", critica Buriti.

Desde que assumiu a prefeitura do Rio, Marcelo Crivella (PRB) vem defendendo a possibilidade de desengavetar o projeto de um novo autódromo em Deodoro, em área próxima ao Parque Radical. A pista seria construída pela iniciativa privada, em área pública.

Após o Pan

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