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Olhar Olímpico

Picciani desiste de visitar Wimbledon para ajudar Temer na CCJ e salvar AGLO

Demétrio Vecchioli

06/07/2017 19h45

O ministro do Esporte, Leonardo Picciani (PMDB-RJ) desistiu da "visita técnica" que faria ao Torneio de Wimbledon, em Londres, a partir do próximo domingo. Ele preferiu continuar em Brasília para resolver dois assuntos muito mais urgentes: interceder pelo presidente Michel Temer (PMDB-SP) junto ao deputado Sergio Zveiter (PMDB-RJ), relator da denúncia contra Temer na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), e para tentar salvar a Autoridade de Governança do Legado Olímpico (AGLO).

Como publicou o UOL Notícias, Temer recorreu a Picciani, antigo líder do PMDB na Câmara, para chegar até Zveiter. O relator da denúncia contra o presidente, afinal, é do PMDB do Rio, que tem como cacique o pai de Leonardo, Jorge Picciani, presidente da Assembleia Legislativa fluminense. Ontem, Temer chamou o ministro do Esporte para uma conversa reservada.

Mas Picciani também tem interesses próprios. O ministro do Esporte corre contra o tempo para salvar a AGLO, autarquia responsável por gerir os Parques Olímpicos da Barra e de Deodoro. Na quarta-feira à noite, a Câmara dos Deputados aprovou o relatório de Altineu Côrtes (PMDB-RJ) a respeito da Medida Provisória 771/17, que cria a AGLO. Agora, ela precisa passar pelo Senado até 10 de agosto. O problema é que, no meio do caminho, o Congresso poderá ficar de recesso entre 17 de julho e 1º de agosto.

No plenário da Câmara, foi mantido o texto de Cortês, com apoio de toda a base aliada de Temer. Apenas PT, PSOL e PCdoB tentaram obstruir a votação, enquanto Rede, PSD e PSB liberaram seus deputados. A votação teve 219 votos a favor do texto, 75 contra e quatro abstenções.

Como a comissão mista de senadores e deputados que analisou a MP fez pequenas alterações no texto, a Medida Provisória virou um Projeto de Lei de Conversão. E isso significa que ela precisa ser aprovada pela Câmara e pelo Senado e, depois, sancionada pelo Presidente da República.

A MP atribui à AGLO a função de administrar o legado patrimonial e financeiro deixado pela Rio-2016. Com sede no Rio, nas Arenas Cariocas, a autarquia funcionará até que sejam tomadas as providências de longo prazo necessárias à destinação do legado olímpico ou até 30 de junho de 2019, o que ocorrer primeiro.

Ainda não está claro o que pode acontecer caso a MP de 29 de março vença sem passar pelo Senado. Picciani, porém, parece otimista. Nesta quinta-feira, fez pelo menos mais cinco nomeações para a autarquia. Ontem, nomeou o campeão olímpico Pampa para ser superintendente. No total, a AGLO tem 86 cargos de comissão, que perfazem R$ 9,2 milhões em impacto anual aos cofres públicos.

Wimbledon – Por conta da AGLO e da denúncia contra Temer, Picciani abriu mão da viagem de oito dias que deveria começar no domingo.  A turnê incluiria uma "visita técnica" a Wimbledon, com direito a reunião com o presidente da Federação Internacional de Tênis, David Haggerty, e uma viagem à Rússia para a VI Conferência Internacional de Ministros do Esporte".

De acordo com a agenda oficial, nesta quinta-feira Picciani apenas teve "reuniões e despachos internos". Na quarta, o encontro com Temer, confirmado pelo ministro, não constou em sua agenda.

 

 

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.