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Olhar Olímpico

Polêmico, contrato de patrocínio do BNDES à canoagem só não é maior que do vôlei

Demétrio Vecchioli

01/06/2017 04h00

Enquanto outras empresas estatais como Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil, Correios e Petrobras fizeram cortes substanciais no investimento em esportes olímpicos, o Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES) manteve o volume de recursos que disponibiliza para a canoagem. Só em 2017, a previsão é que o banco disponibilize R$ 15 milhões em um patrocínio que adota um modelo único no país.

O BNDES não fornece recursos diretamente à Confederação Brasileira de Canoagem. O apoio do banco é a partir do patrocínio a projetos de Lei de Incentivo aprovados no Ministério do Esporte pela CBCa e também por uma outra proponente, a pouco conhecida Academia Brasileira de Canoagem, a Abracan.

Essa entidade foi criada em 2010, num momento que a CBCa estava proibida de receber recursos públicos, em consequência de dívidas que vinham da gestão de bingos (quando isso ainda era permitido no Brasil). Atualmente, a Abracan tem como presidente um antigo secretário-geral da CBCa e fica alojada no mesmo prédio onde a confederação tem sua sede.

Só nos últimos dois anos, as duas entidades, juntas, receberam mais de R$ 40 milhões do BNDES, para projetos que vão de compra de barcos a ida a competições internacionais, passando pela montagem de CT e manutenção das seleções brasileiras. Para 2017, o BNDES tem a expectativa de desembolsar R$ 15 milhões, desde que a CBCa consiga a aprovação dos projetos no Ministério do Esporte.

Como comparação, a Confederação Brasileira de Judô, tida como exemplo de gestão, recebe em torno de R$ 12 milhões do seu patrocinador principal, o Bradesco. Os R$ 15 milhões que o BNDES promete oferecer à canoagem em 2017, assim, só são comparáveis ao patrocínio da Caixa ao atletismo (R$ 13 milhões por ano em 2017) e ao contrato anterior dos Correios com os desportos aquáticos (R$ 16,2 milhões ao ano). Com a diferença que ambos os patrocínios tiveram corte considerável de valores (o atletismo tinha 22,5 milhões ano ano, enquanto a CBDA foi para R$ 4,7 milhões). Contrato maior, só o histórico acordo entre a CBV, do vôlei, e o Banco do Brasil.

O sucesso esportivo justifica em parte esse investimento. Afinal, Isaquias Queiroz foi o grande nome do Brasil nos Jogos Olímpicos do Rio, com três medalhas, e, na canoagem slalom, Pepê quase beliscou uma medalha. Para o próximo ciclo, a expectativa é de crescimento, com a inclusão das provas femininas de canoa (o Brasil vai ao Mundial deste ano já com chance de medalhas) e com a promessa de evolução na canoagem slalom.

Essa evolução técnica e, de alguma forma, administrativa, porém, não se reflete na área política. Presidente da CBCa, João Tomasini está no poder desde 1989, quando criou a confederação. Como comparação, ele chegou à presidência ao mesmo tempo que Coaracy Nunes assumia o comando da CBDA. Além disso, a CBCa é uma das confederações menos transparentes em suas contas – o balanço financeiro publicado no site é uma folha de jornal escaneada.

Inscrita no Refis, a CBCa conseguiu reaver sua certidão negativa de débitos e hoje pode receber recursos públicos, mas ainda tem uma grande dívida a pagar. Toda a verba do BNDES entra por Lei de Incentivo, de forma que a confederação obriga a alocar as verbas nas rubricas de projetos aprovados pelo Ministério do Esporte.

 

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.