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Olhar Olímpico

Por Olimpíada, profissionais voltam ao Mundial amador de surfe

Demétrio Vecchioli

23/05/2017 04h30

(ISA/Ben Reed)

O surfe começa a experimentar, nesta semana, na França, como é a sensação de ser um esporte olímpico. É que o ISA World Surfing Games (Jogos Mundiais de Surfe, da Associação Internacional de Surfe) de 2017, em Biarritz, é o primeiro evento amador a receber atletas profissionais de alto rendimento. É o início de uma interação que ainda não está clara como vai acontecer entre o surfe profissional e o esporte amador. A consequência que todos esperam é que os melhores do mundo estejam nos Jogos Olímpicos de Tóquio, algo que o golfe não conseguiu no Rio-2016, por exemplo.

Até o ano passado, a ISA era responsável por administrar apenas o surfe amador, tendo como seu principal evento os Jogos Mundiais de Surfe. Como o rito natural na modalidade em países como Brasil, França, EUA e Austrália é os atletas migrarem para as competições profissionais na tentativa de chegar à ASP (Associação dos Surfistas Profissionais), o evento da ISA se acostumou a contar com surfistas de países periféricos e os jovens de países com tradição.

Mas, com a inclusão do surfe como modalidade olímpica, a ISA, que é a federação internacional de surfe reconhecida pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), ganhou status. E conseguiu ampliar o diálogo com a ASP, a principal liga profissional de surfe, onde estão nomes como Gabriel Medina e Kelly Slater.

A melhora nessas relações abriu a possibilidade de atletas que disputam a Liga Mundial de Surfe participarem também dos Jogos Mundiais de Surfe. O mesmo aconteceu no Brasil, onde os surfistas profissionais, historicamente ligados à Abrasp (Associação Brasileira de Surfe Profissional) passaram a reconhecer o poder da polêmica CBS (Confederação Brasileira de Surfe), que praticamente só atua no nordeste – o presidente Adalvo Argolo é da Bahia.

Junte-se a isso o interesse político do governo brasileiro que, mesmo com os cofres fechados para as confederações olímpicas, fechou um convênio de mais de R$ 200 mil com a CBS para levar os atletas convocados à França. Além disso, o ministro Leonardo Picciani (PMDB-RJ) foi até Saquarema (RJ), no encerramento da etapa do Rio da Liga Mundial de Surfe, para se encontrar com o presidente da ISA e apresentar a candidatura de Búzios para a edição do ano que vem.

A soma desses fatores permitiu que a CBS convocasse uma equipe relativamente forte, com Miguel Pupo, Wiggolly Dantas e Ian Gouveia, todos profissionais da ASP. Pupo, porém, tornou-se pai recentemente e desistiu da viagem. Além deles, foram convocados Wesley Dantas, irmão de Wiggolly e campeão mundial júnior no ano passado, e Elivélton Santos, campeão brasileiro amador.

Em Biarritz eles competem individualmente, em competição parecida com a da Liga Mundial de Surfe, e também por países, quando os resultados dos competidores de uma mesma nação são somados. Diferente do surfe profissional, não há premiação em dinheiro e os surfistas têm que usar o uniforme de suas respectivas confederações, não a roupa própria.

A competição vai só até o dia 28, numa janela bem mais curta que dos eventos profissionais, também num teste para como será a competição em Tóquio-2020. Por isso, o COI está acompanhando de perto o evento na França. Depois disso, em julho, é que COI, ASP e ISA vão sentar para conversar para discutir o processo de classificação para os Jogos Olímpicos. Tudo que se sabe por enquanto é que serão 20 vagas masculinas e outras 20 femininas.

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.