Caixa corta R$ 98 milhões de confederações; Petrobras reduz apoio a zero
A crise chegou de vez às confederações olímpicas e paraolímpicas brasileiras. Na nova rodada de assinaturas de contratos de patrocínio, a Caixa Econômica Federal cortou os repasses em R$ 98 milhões na comparação com o ciclo olímpico passado. Já a Petrobras enfim admitiu, ao Olhar Olímpico, o fim da sua política de patrocínios a confederações, especulada desde o fim dos Jogos do Rio, cortando mais de R$ 50 milhões. Somadas, elas deixam na mão oito modalidades.
Só a Petrobras deixou de renovar com seis confederações olímpicas: boxe, esgrima, levantamento de peso, remo, taekwondo e judô. Dessas, apenas a CBJ, do judô, tem outras fontes de renda que não o valor repassado pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB) pela Lei Agnelo/Piva. As demais tinham a Petrobras como patrocinadora única desde 2011, quando teve início o projeto da estatal.
Em volume financeiro, quem mais perde é a CBJ, que recebeu R$ 20 milhões da Petrobras nos últimos quatro anos, a partir de contrato assinado em 2013. A confederação continuava chamando a Petrobras de "patrocinadora oficial" em seu site até ontem, apesar do contrato ter se encerrado em janeiro. O logo foi retirado à noite, depois de a resposta da estatal ao blog ser informada à assessoria de imprensa da CBJ.
As demais confederações já não consideravam a Petrobras como patrocinadora. As tratativas de renovação vinham desde o ano passado, mas pouco a pouco elas foram notando a impossibilidade de um acordo. No ciclo olímpico passado, o boxe ganhou R$ 8,4 milhões, a esgrima R$ 5,7 milhões, o remo R$ 5,5 milhões, o levantamento de peso R$ 4,4 milhões e o taekwondo R$ 5,2 milhões. Com exceção do remo, todas elas tiveram, no Rio, o melhor resultado da história dos Jogos Olímpicos.
Além disso, também já não existe mais o Time Petrobras, estratégia pontual da estatal apresentada em julho de 2015 e que durou só até os Jogos do Rio. À época, foi apresentada uma equipe de 25 patrocinados, incluindo atletas que viriam a ser medalhistas olímpicos, como Mayra Aguiar e Robson Conceição. Na lista de investimentos apresentados pela Petrobras ao blog, porém, consta investimento único de R$ 1,8 milhões em 2015, o que daria R$ 72 mil por atleta. Hoje, nenhum atleta é patrocinado e o site do Time Petrobras já nem existe mais. À Folha, a Petrobras disse que ainda avalia a "continuidade" do projeto.
Já a Caixa Econômica Federal até manteve o patrocínio às confederações de atletismo e ginástica e ao Comitê Paraolímpico (CPB), mas com substancial redução de verbas. Além disso, o banco estatal não renovou os contratos com as confederações de ciclismo e wrestling (antiga CBLA, agora CBW). No caso da confederação de luta, a Caixa segue sendo tratada como patrocinadora, ainda que a última parcela do patrocínio tenha sido paga em janeiro. A entidade ainda tem esperanças de conseguir a renovação.
O atletismo (CBAt) é o maior prejudicado em valores totais. Se no ciclo olímpico passado recebeu R$ 90 milhões da Caixa, até Tóquio terá apenas R$ 60 milhões. Proporcionalmente, porém, quem mais perdeu foi a CBG, da ginástica, que viu seu contrato ser reduzido de R$ 35 milhões para R$ 20 milhões depois de ganhar três medalhas nos Jogos Olímpicos do Rio. Nos dois casos, nem as confederações nem o banco divulgaram as renovações à imprensa, ainda que os valores tenham sido publicados em Diário Oficial há mais de 10 dias.
A Caixa só havia revelado a renovação com o Comitê Paraolímpico Brasileiro, o menos prejudicado do grupo. O contrato de R$ 120 milhões no último ciclo olímpico foi reduzido para R$ 95 milhões pelos próximos quatro anos – uma redução de 22,5%, como mostrou o Olhar Olímpico.
Ao blog, a Caixa confirmou que não assinou novos contratos com a Confederação Brasileira de Wrestling (CBW) e com a Confederação Brasileira de Ciclismo (CBC), que receberam, respectivamente, R$ 11,2 e 17 milhões no quadriênio passado. A CBW fez uma proposta para ficar com R$ 10 milhões (o que seria a menor redução entre as confederações olímpicas), mas ainda não obteve resposta e segue esperançosa.
Em nota ao Olhar Olímpico, a Petrobras explicou que o patrocínio às confederações visavam o ciclo olímpico Rio-2016 e que, ainda que não apoie formalmente nenhuma confederação, "o patrocínio ao esporte olímpico continuará fazendo parte da estratégia de comunicação da Petrobras". Ainda segundo a estatal, a revisão no Programa Petrobras Esportivo será anunciada em breve.
A Petrobras inicialmente patrocinava o esporte olímpico por meio do Instituto Passe de Mágica, da Magic Paula, que investia diretamente nos atletas. Em 2013, a estatal mudou sua política e passou a transferir o dinheiro diretamente para as confederações.
Já a Caixa disse brevemente que, "em função do fim do Plano Brasil Medalhas, o banco readequou os valores dos contratos de patrocínio com as Confederações de Ginástica e Atletismo e com o Comitê Paraolímpico Brasileiro, e ainda não renovou com as Confederações de Ciclismo e de Lutas Associadas". Questionada sobre os motivos, não respondeu.
CORREIOS – Antes da Caixa e da Petrobras, os Correios já haviam definido sua estrategia de patrocínio aos esportes olímpicos, com cortes de até 80%. A estatal aceitou pagar apenas R$ 11,4 milhões à Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) pelos próximos dois anos, o que dá R$ 5,7 milhões ao ano. No último triênio, ela pagou R$ 18 milhões ao ano.
No handebol, a redução foi de mais de 77%: de R$ 6,7 milhões para R$ 1,6 milhão, apenas. A modalidade tem o Banco do Brasil como patrocinador principal. Já o patrocínio à Confederação Brasileira de Tênis foi reduzido de R$ 8,9 milhões ao ano para apenas R$ 2 milhões. Diferentemente da Caixa, que já garantiu o ciclo olímpico inteiro, os Correios assinaram contratos de dois anos.
Caso renove esses acordos até Tóquio-2020 pagando os mesmos valores do atual biênio, os Correios irão gastar R$ 37 milhões em patrocínios às três confederações apoiadas. Só no ano passado a estatal gastou quase R$ 34 milhões. Em quatro anos, a redução também pode chegar a R$ 100 milhões.
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