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Olhar Olímpico

Como seu próprio recorde atrapalha Cielo em busca de vaga no Mundial

Demétrio Vecchioli

02/05/2017 04h00

18 de dezembro de 2009. Aproveitando os últimos dias antes da proibição dos trajes tecnológicos na natação, Cesar Cielo nadou os 50 metros da piscina do Pinheiros em 20s91 e cravou um recorde mundial que ainda parece distante de ser batido. Agora, oito anos e meio depois, esse mesmo recorde pode atrapalhar Cielo na sua tentativa de voltar à elite da natação mundial.

Isso porque a Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) definiu no ano passado que usaria o índice técnico como critério de convocação para o Mundial de Natação de Budapeste, que vai acontecer em julho. Como vivia (e ainda vive) momento de instabilidade financeira, precisava restringir o número de vagas, a espera de saber quantos atletas conseguirá bancar. Por isso, estipulou um critério que permite a comparação de resultados de provas distintas.

Os índices são valores numéricos, até 1.100, atribuídos a partir do tempo feito em cada uma das provas da natação. A base para essa tabela é o recorde mundial, que vale 1.000 pontos. No caso dos 50m livre, o forte recorde de Cielo atrapalha os velocistas brasileiros.

No Open de Natação do ano passado, que também valeu como tomada de tempo, a oitava melhor marca foi de Manuella Lyrio, com 872 pontos nos 200m livre. Mas a expectativa é que bons resultados no Maria Lenk, disputado até sábado no Parque Aquático Maria Lenk, no Rio, façam com que a linha de corte chegue a algo em torno de 900 pontos.

Neste caso hipotético, para que um velocista dos 50m livre fique entre os oito convocados, ele precisa nadar a prova em 21s65. Ou seja: fazer o quarto melhor tempo do ranking mundial. Como comparação, seria um resultado equivalente ao quarto lugar da Olimpíada passada.

O mesmo problema os brasileiros terão nos 100m livre, onde o recorde mundial, também de Cielo, é 46s91. Pela tabela, para chegar a 900 pontos um velocista precisa fazer 48s58 – nono melhor tempo do mundo em 2017. Neste caso, ainda pesa contra Cielo o fato de, há algum tempo, ele não estar entre os dois melhores do país nos 100m livre.

Esses números, bom reforçar, são suposições – ainda que o cenário de fato seja esse.  Ainda que a linha de corte oscile para cima ou para baixo, ela parece mais difícil de ser alcançada pelos nadadores dos 50m livre. Pelos resultados do Open, Thiago Simon (915 pontos nos 200m peito) , Pedro Cardona (904 pontos nos 100m peito) e Brandonn Pierry (900 pontos nos 400m medley) saem na frente, assim como Gabriel Santos (899 nos 100m livre).

Só na véspera do início do Maria Lenk, ontem, a CBDA definiu que os tempos serão medidos pela tabela da Fina de 2016, que não considera os recordes mundiais batidos no ano passado. Isso ajuda Pedro Cardona e Felipe França, que seguem entre os oito primeiros – se os tempos fossem avaliados pela tabela de 2017, eles ficariam fora, uma vez que o recorde do britânico Adam Peaty é fortíssimo. Muito dificilmente a delegação não terá dois peitistas, deixando só seis vagas em aberto.

O Maria Lenk começa na manhã desta terça-feira. A prova dos 100m livre será na quinta-feira, com Cesar Cielo inscrito para nadar a quarta bateria. Depois, no sábado, ele tentará a classificação nos 50m livre, já sabendo melhor que marca vai precisar fazer. Antes, vai nadar os 50m borboleta, que não conta como critério de classificação, por não ser prova olímpica.

Ainda há a possibilidade de a CBDA convocar mais de oito atletas, sempre levando em consideração os índices técnicos. Mas isso só vai ser discutido no próximo dia 11 de maio. Ou seja: quem terminar abaixo do Top 8 só vai saber mais tarde se será convocado ou não.

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.