Agência Antidoping volta a funcionar, mas governo corta orçamento pela metade
Após quase cinco meses, a Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD) foi novamente declarada "em conformidade" com o código mundial pela Agência Mundial Antidoping (Wada). Mas não há muito que se comemorar. Poucos dias antes da decisão do órgão sediado em Montreal, o governo brasileiro havia decidido cortar radicalmente o orçamento da ABCD no ano, de cerca de R$ 12 milhões para R$ 6 milhões.
"Como todas as outras secretarias, a gente também tem as dificuldades financeiras. Faz umas duas semanas houve um corte de 51% em relação ao orçamento inicial. São números que nós vamos cumprir", contou ao Olhar Olímpico o secretário nacional da ABCD, o ex-judoca e medalhista olímpico Rogério Sampaio.
O corte do orçamento é ainda maior quando se leva em consideração a meta de não reduzir o número de exames antidoping planejados. O objetivo da ABCD para 2017 é colher entre 3,5 mil e 4 mil amostras entre o final de semana passado, quando voltou a ter permissão para realizar exames, e o fim do ano. Só para realizar essas análises no Laboratório Brasileiro de Controle de Dopagem (LBCD), no Rio, a ABCD vai gastar cerca de R$ 4 milhões.
Ou seja: se o planejamento era ter R$ 8 milhões para investir, o dinheiro disponível agora caiu para R$ 2 milhões, sendo que boa parte desse montante já foi gasta em uma campanha publicitária de prevenção ao doping que teve como estrelas Rafaela Silva, Daniel Dias, José Roberto Guimarães e Gabriel Medina.
"A gente está equacionando questões de educação antidoping, também as operações. Vamos ver se conseguimos equacionar", afirmou um otimista Rogério Sampaio, que recentemente fechou a contratação de um consultor internacional na área de passaporte biológico. Também já existe um edital aberto para a chegada de um consultor em educação. "Fazemos palestras para pessoas de diversos níveis, e a linguagem precisa ser diferente, as informações passadas também. Precisamos de alguém que nos ensine a fazer isso", argumenta.
Em novembro, a Wada colocou a ABCD em uma lista de entidades nacionais que não estavam em conformidade com o código mundial antidoping. Na prática, isso tirou da ABCD a legitimidade para cuidar do combate ao doping no Brasil. Para ficar novamente apta a realizar esse serviço, a agência conseguiu que o governo federal criasse o Tribunal de Justiça Desportiva Antidopagem (TJAD), um tribunal único para julgar casos de doping. Até recentemente, cada confederação esportiva tinha seu tribunal.
Pelo menos desde julho do ano passado o governo fala do TJAD, que só foi de fato implantado no fim do ano passado. Os auditores tomaram posse em dezembro, mas o estatuto interno só foi aprovado em março. O órgão é formado por Fernanda Bini, Luísa Parente (ex-ginasta), Marcel de Souza (ex-jogador de basquete), Luciano Hostins, Guilherme da Silva, Gustavo Delbin, Humberto de Moura, Tatiana Nunes e Eduardo de Rose.
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