Presidente do COB nega irregularidades e provoca opositor: 'Entra na fila'
Vinte dias depois de uma crise estourar no Comitê Olímpico do Brasil (COB), o presidente Paulo Wanderley falou pela primeira vez em público sobre a auditoria em contratos de tecnologia do comitê e sobre a tentativa de alterar o estatuto para enfraquecer o Conselho de Ética e regras de compliance. A fala aconteceu em uma esvaziada audiência na Comissão do Esporte da Câmara dos Deputados, após requerimento do deputado Luiz Lima (PSL-RJ), ex-atleta olímpico.
"Eu não gosto de citar nomes, porque não tem nada provado. Esse senhor (Leonardo Rosário, então gerente-executivo de TI) já não trabalha no COB. Foi demitido. Estamos mexendo, estamos trabalhando. A questão de contratação de empresa do Espírito Santo… É, é do Espírito Santos sim. Trabalhou na CBJ comigo e fez excelente trabalho. A questão da esposa do funcionário que recebeu. Recebeu! Recebeu por prestação de serviços, que me garantiram que foi entregue", disse o presidente, sobre as supostas irregularidades.
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Quando foi "ungido" (nas suas palavras) à presidência do COB, Paulo Wanderley, que fez carreira no Espírito Santo e na Confederação Brasileira de Judô, logo contratou Rosário para prestar consultoria ao comitê. Com o técnico vieram também contratos com diversas empresas e pessoas ligadas a ele, inclusive sua esposa. Depois, este ano, Rosário foi contratado como gerente.
Para explicar a contratação, Paulo Wanderley disse que se cercou de pessoas de confiança ao se tornar presidente. "Quando eu vim, eu trouxe a Isabele (Duran, diretora financeira), que é também do Espírito Santo, que é da minha confiança. O Luciano (Hostins, diretor jurídico) faz 16 anos que atua no judô brasileiro. Veio por competência, capacidade. A Manoela (Penna, diretora de comunicação) também trabalhou comigo no judô. Quem vai ser contra a capacidade profissional dela? Tirei o Rogério (Sampaio, CEO do COB, do governo)? Tirei mesmo."
Ainda que o convite tenha sido apenas a Paulo Wanderley, ele fez questão de levar uma tropa de choque para defendê-lo diante de uma comissão vazia – o Congresso aprovou o orçamento federal de 2020 ontem (17) e a grande maioria dos deputados foi embora para seus estados hoje (18). Foram a Brasilia não apenas diretores que poderiam responder questões técnicas como o membro do COI Bernard Rajzman, a membro do Comitê de Atletas Iziane Marques, o presidente da Confederação de Levantamento de Peso Enrique Montero Dias, o presidente da Fenaclubes Arialdo Boscolo e o vice-presidente do COB Marco La Porta.
Questionado por Luiz Lima – que fez um protesto na porta do COB no dia que Paulo Wanderley se tornou presidente, exigindo eleições diretas -, o cartola negou que haja qualquer tipo de descontentamento no movimento olímpico. "Não sei de onde vem tanta reclamação. Não vi ninguém dizendo que fez reclamação. Antes da assembleia orçamentárias tivemos reuniões com a Sou do Esporte, com a Atletas pelo Brasil, nós escutamos", alegou. Rogério Sampaio, depois, reclamou quando Luiz Lima falou das críticas de confederações "progressistas", dizendo ser contra essa divisão.
Ainda que tenha feito extensiva defesa de sua gestão, lembrando que a criação do Conselho de Ética e a ampliação do voto dos atletas, o presidente o COB se esquivou de responder questões mais pontuais, como de quem foi a ideia de alterar as prerrogativas do Conselho de Ética. Também não respondeu por que o escopo das investigações de uma auditoria independente não incluem os superiores de Rosário.
Assim, repetiu postura apresentada em conversas reservadas com membros do Conselho de Ética, atletas e outros interessados. Pessoas que o questionaram nas últimas semanas saíram reclamando de respostas arrogantes e evasivas do presidente.
Diante de toda a crise, Paulo Wanderley começou a colecionar desafetos e inclusive ganhou um concorrente para a eleição do ano que vem, o ex-presidente da Confederação de Rúgbi Sami Arap. Questionado sobre um novo mecanismo no estatuto que passa a exigir que membros do Conselho de Ética (como Arap) renunciem a sete meses da eleição, Paulo Wanderley aproveitou para lançar um recado ao adversário: "A fila (para sucessão) está grande, mas aviso quem quiser entrar (na fila) tem que entrar rápido, senão não vai conseguir".
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