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Olhar Olímpico

Sites de apostas já patrocinam 65% do Brasileirão, mesmo sem regulamentação

Demétrio Vecchioli

17/12/2019 04h00

Estudo da Ibope/Repucom

Ao transformar em lei uma Medida Provisória nascida para alterar a distribuição de recursos das loterias federais, o então presidente Michel Temer (MDB) permitiu que as apostas esportivas deixassem de ser proibidas no Brasil. Sua regulamentação ainda deve levar mais alguns meses, com intensos debates no Congresso, mas já faz diferença no mercado de patrocínio esportivo.

Levantamento feito pelo Ibope/Repucom mostra que, ao longo do Brasileirão, 13 dos 20 clubes da Série A foram patrocinados por oito casas de apostas. Novidade no mercado de patrocínios, esse setor já o sexto maior em número de marcas, atrás de serviços de saúde (nove), alimentação (16), construção (16) e financeiro (23), além dos fornecedores de material esportivo.

Além disso, nunca tantas marcas estiveram presentes nos uniformes dos 20 clubes da Série. Ao longo do ano, 155 patrocinadores diferentes estiveram nas roupas dos jogadores, um crescimento de 30% na comparação com o ano anterior, quando 111 marcas foram exibidas. Isso significa que, em média, cada clube faz propaganda de sete marcas diferentes durante o torneio.

Fortaleza e Vasco ajudaram a inflar esses números. A equipe cearense teve 21 patrocinadores diferentes durante o Campeonato Brasileiro, enquanto o time cruzmaltino exibiu 16 marcas. Só pelo peito do uniforme do Fortaleza passaram cinco marcas diferentes. Na chamada "frente superior" (omoplata) foram exibidas outras quatro.

Para o diretor-executivo do Ibope Repucom, José Colagrossi, o ano foi de evolução e de novas tendências. "[O ano de] 2019 será lembrado como o ano de crescimento, de novidades e interessantes tendências no patrocínio no Brasil. O vácuo gerado pela saída da Caixa no futebol brasileiro acabou cedendo espaço para novos entrantes, como os bancos digitais, sites de apostas esportivas e novas marcas que aproveitaram o mercado comprador e passaram a se exibir, orgulhosamente, nas camisas de muitos clubes pela primeira vez", analisou ele, em texto publicado no relatório.

Em 2017, a Caixa Econômica Federal teve 39 propriedades diferentes no decorrer do ano em todos os time da Série A – normalmente frente, costas e calção. Em 2018 esse número caiu para 32, mas manteve o banco estatal como maior patrocinador do futebol brasileiro. O governo Jair Bolsonaro, porém, determinou que nenhum contrato fosse renovado.

Esse vácuo foi ocupado principalmente pelos setor financeiro, com destaque para os bancos digitais. Foram 23 marcas do marcado financeiro anunciando nos clube da Série A em 2019, contra 12 no ano passado. Dos 20 clubes, oito têm bancos digitais como patrocinadores máster, e outros três têm acordo com outas empesas do setor financeiro. Com a saída da Caixa também despencou o investimento de empresas públicas no futebol. Apenas dois patrocínios são delas: do Banrisul, a Inter e Grêmio.

Também chama a atenção a criação de novas propriedades, com a gola e a "lateral", que não constavam no estudo até o ano passado. Nos meiões, se nos últimos dois anos apenas duas marcas fizeram contratos com times da Série A, este ano foram seis. Na barra frontal, o número de clubes com patrocinador contínuo passou de três para 10 entre 2018 e 2019.

 

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.