Topo

Olhar Olímpico

Defensor de francês preso diz que tapa no bumbum de mulher foi 'molecagem'

Demétrio Vecchioli

10/12/2019 04h00

(reprodução/Youtube)

O advogado de defesa do francês Earvin N'Gapeth alega que o jogador foi preso por uma "molecagem", uma "falta de educação". O craque da equipe de vôlei do Zenit Kazan foi detido em flagrante na madrugada desta segunda-feira (9), por importunação sexual, depois de dar um tapa no bumbum de uma mulher de 29 anos, a quem ele não conhecia. Dino Mariglia ainda comparou o ato ao comportamento do presidente Jair Bolsonaro.

"No caso foi uma grosseria uma falta de educação, uma falta de respeito, igual o Bolsonaro faz o tempo todo, mas não é crime. Ele deu um tapa e escondeu a cara, como se fosse engraçadinho. O amigo dela, que tava atrás, viu e falou que foi ele. Ela é a namorada do dono da festa e, em cinco minutos, conseguiu uma cópia do vídeo e apareceu com o vídeo na delegacia. Por muito menos que isso o Bolsonaro quase sofreu impeachment, porque pegou o vídeo na portaria", argumentou o defensor.

LEIA MAIS

+ Cachorrão bateu 3 recordes em 4 dias e agora quer medalha olímpica

+ MP tenta impedir que Tijuca Tênis Clube seja transformado em shopping

+ Opinião: Punição à Rússia é correta e preserva credibilidade do controle de doping

O suposto crime ocorreu por volta das 4h no Chalezinho, uma boate frequentada pela alta-sociedade de Belo Horizonte. A vítima, que não teve o nome revelado, prestou queixa na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher, onde o francês foi ouvido e enquadrado no crime de importunação sexual, que consiste em "praticar contra alguém e sem a sua anuência ato libidinoso com o objetivo de satisfazer a própria lascívia ou a de terceiro" e prevê pena de reclusão de um a cinco anos.

Mariglia diz que o ato do seu cliente foi "uma brincadeira estúpida, que eu reprovo, que você reprova, todo mundo reprova". "Foi uma grande molecagem. Ele foi um moleque", resume, rejeitando, porém, a tipificação de crime de importunação sexual.

"Não houve conotação sexual. A conduta em nenhum momento teve aspecto nem mesmo de cantada. Ela falou que levou um tapa, mas não quis ir no IML, porque não tinha o que mostrar. Não houve apalpada, dedada, não houve tentativa anterior, não houve nada. Ele foi abusado, mas existe diferença entre ser um cara abusado, equivocado, e ser um criminoso", afirma Mariglia.

Segundo o advogado, N'Gapeth saiu com amigos do vôlei após participar do Mundial de Clubes, encerrado domingo em Betim, na região metropolitana de Belo Horizonte. Já por volta das 4h, viu uma mulher de vestido preto, achou que fosse "uma menina que ele já tinha dado uns beijos durante a noite" e deu um tapa em seu bumbum.

"Ela passou sozinha, com o namorado vindo atrás, com o amigo, e ele deu essa de gaiato, de bobo, de otário, de dar um tapa e esconder o rosto. Só que o amigo dela que vinha atrás apontou para ele. Ficou todo mundo muito constrangido, porque viram que ele ficou profundamente sem graça. Ele pediu desculpas na hora, mas ela não quis mais conversa. Pegou a fita, que não poderia ter levado, e levou para a delegacia. Mas o vídeo nem foi visto. Ela falou que foi tapa, ele falou que foi tapa, a testemunha falou que foi tapa", continuou o advogado, que acompanhou a oitiva na delegacia.

A defesa vai alegar na audiência de custódia, marcada para esta terça-feira (10), que  N'Gapeth não cometeu crime. A expectativa é que o juiz ao menos conceda liberdade provisória para o jogador, que ficaria livre para retornar à Rússia, onde tem emprego e residência. "A gente não sabe nem se o MP vai denunciar, se vai aceitar como assédio sexual, importunação sexual ou lesão corporal", diz.

Por enquanto, o jogador vai passar a noite no Complexo Penitenciário Nelson Hungria, em Contagem, Região Metropolitana de Belo Horizonte, onde deu entrada no começo da noite. O local é o mesmo onde o goleiro Bruno ficou detido entre novembro de 2014 até setembro de 2015. Este ano, a Justiça chegou a determinar que ele voltasse para o presídio de Contagem, mas a decisão foi derrubada antes de ser aplicada. 

Em duas oportunidades, em 2018 e mais recentemente em agosto, a Justiça chegou a interditar o presídio, proibindo a chegada de novos presos, por falta de condições de segurança. A capacidade da Nelson Hungria é de 1.640 presos, mas com regularidade o número de detentos ultrapassa os 2 mil.

Earvin N'Gapeth foi algoz do Brasil na final da Liga Mundial de 2017, quando marcou 29 pontos e ajudou a França a vencer por 3 sets a 2. Em maio do ano passado, ele foi condenado por um acidente de carro que provocou em novembro de 2015, na Itália. Na ocasião, o francês avançou com seu carro contra três homens em um estabelecimento nos arredores da cidade de Modena.

O jogador já havia sido condenado a três meses de prisão em 2016 por agressão ao controlador de um trem no percurso de Bordeaux a Paris, na França. Ele tentou bloquear a porta do trem, impedindo sua partida; ao ser abordado pelo funcionário, N'Gapeth o insultou e o agrediu com um soco.

 

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.