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Olhar Olímpico

Escândalo sexual derruba campeão olímpico na Hungria

Demétrio Vecchioli

29/10/2019 14h47

(REUTERS/Laszlo Balogh/File Photo)

O Comitê Olímpico da Hungria (MOB, na sigla em húngaro) decidiu expulsar o campeão olímpico Zsolt Borkai, que foi seu presidente entre 2010 e 2017 e que atualmente é prefeito da sexta maior cidade do país, Gyor. Borkai está no centro de um escândalo sexual desde o início do mês, quando imagens dele transando em um iate com uma suposta prostituta foram publicadas em um site de conteúdo erótico.

O político era o líder local do Fidesz, o partido de direita radical e ultraconservador que comanda a Hungria pelas mãos do presidente Viktor Orbán, Borkai inicialmente disse que as imagens eram uma "mentira" publicada como parte de uma campanha de oposição a ele, dias antes das eleições municipais no país. Depois, voltou atrás, afirmando que as gravações haviam sido feitas "anos atrás" e que somente parte daquelas imagens eram "genuínas" – outra parte havia sido manipulada.

Nas fotografias e vídeos publicados, Borkai e um amigo aparecem em meio a diversas jovens mulheres em um iate na Croácia, cercados também de bebidas alcoólicas. Em um dos vídeos, o prefeito, que é casado e pai de dois filhos, faz sexo com uma dessas mulheres. Outra daquelas garotas, de acordo com um jornal oposicionista, recebeu o equivalente a US$ 10 mil dólares em ajuda do governo para abrir uma loja de aluguel de vestidos de festa.

Os vídeos foram publicados por um blog apócrifo assinado pelo "advogado do Diabo", que se define como alguém que já trabalhou para Borkai. O texto que relata a viagem com prostitutas pelo Mar Adriático também cita o consumo regular de cocaína por parte do prefeito. Essas denúncias causaram mais repercussão do que outras, do mesmo blog, relacionadas a corrupção.

Mesmo assim Borkai se reelegeu, com uma margem irrisória de 614 votos, garantindo a permanência no poder enquanto oposicionistas ganharam 10 das 31 maiores cidades húngaras, inclusive Budapeste, muito por conta do escândalo. No comando de Gyor desde 2006, Borkai não teve agenda pública desde o pleito municipal, há duas semanas. Logo depois da vitória, deixou o Fidesz. 

Na semana passada, a Federação Húngara de Ginástica (MATSZ), que indicava Borkai como delegado ao comitê olímpico, retirou sua associação. O MOB acatou e disse que "nenhuma outra ação disciplinar ou ética deve ocorrer sobre assunto, e o caso deve ser considerado encerrado". 

Mas o debate não acabou. Campeão olímpico no cavalo com alças em 1988, Borkai recebe uma espécie de pensão do estado, de cerca de 1 mil euros ao mês. Hoje deputado, o campeão olímpico de polo aquático Ádám Steinmetz cobrou de Orban que cortasse a pensão, o que foi inicialmente recusado. Ele, porém, promete levar adiante um projeto de lei para dar ao MOB liberdade para encerrar o benefício.

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.