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Olhar Olímpico

Caio Bonfim ataca falta de espírito olímpico entre militares e volta atrás

Demétrio Vecchioli

27/10/2019 15h45

Reprodução/Instagram

Um dos principais nomes do esporte brasileiro, Caio Bonfim criou polêmica neste domingo (27) ao reclamar de um suposto beneficiamento à China nos Jogos Mundiais Militares que acabaram hoje em Wuhan. Eliminado a 20 metros da chegada da prova de 20 quilômetros da marcha atlética, logo depois de ultrapassar um chinês para chegar em primeiro lugar, ele citou outros episódios em que a China, dona da casa, teria sido beneficiada. Horas depois, apagou a postagem.

A polêmica vem apenas dois depois de Brasil e China assinarem oito acordos de cooperação durante visita do presidente Jair Bolsonaro (PSL) ao país asiático que estreitou os laços entre o governo brasileiro e o governo comunista. Na quarta, o secretário especial do Esporte, o general Décio Brasil, participou de reunião de trabalho com pares do governo chinês e saiu otimista com cooperação também no esporte.

Por isso chamou atenção a reclamação pública de Caio. "Quando em uma prova você marcha 19.980 metros e os oito árbitros (todos chineses) não te dão falta o árbitro chefe decide te dar cartão vermelho direto aí você vê que o espírito olímpico não existe mais, nem em competição militar", postou no Instagram.

"A torcida me aplaudiu, e não o chinês. Um dos árbitros me pediu desculpas. Sim, algo de errado aconteceu. Já não bastava a seleção chinesa de orientação ser desclassificada por ter acesso aos mapas antes das provas. E a descoberta de uma atleta chinesa de 70kg lutando entre as de 50kg", continuou. A reportagem do Olhar Olímpico chegou a ler a postagem pela manhã, mas quando retornou no link para escrever esta matéria, o mesmo havia sido deletado. O perfil do Surto Olímpico, no Twitter, porém, havia reproduzido a postagem.

Neste meio tempo, o Olhar Olímpico procurou o diretor do Departamento do Desporto Militar do Ministério da Defesa, general Jorge Antonio Smicelato, que disse que o Brasil não fez qualquer queixa formal neste sentido. "Apresentamos os recursos devidos [para a situação específica da marcha]. Mas tratava de erro de fato, e perdemos. Nesse caso, embora tenhamos ficado muito inconformados, a arbitragem é soberana. Na orientação teve problema e a equipe chinesa foi desclassificada. Ou seja, a organização funcionou. Os outros casos são conversas que não tiveram sustentação", disse.

Smicelato, que comanda o esporte militar brasileiro, deixou claro que saiu satisfeito da competição. "Na minha opinião houve na organização muita competência. E quando a imparcialidade foi contestada, tanto a organização como o comitê (CISM, o equivalente do COI no desporto militar) intervieram a tempo. Nos casos em que não havia robustez nas queixas, valeu a analise da arbitragem. Algumas favoráveis ao anfitrião e outras não. Foram os Jogos mais bem organizados que tenho notícia. Principalmente pela simpatia do povo chinês, sempre pronto a ajudar o estrangeiro", argumentou.

Outros atletas também já haviam reclamado da arbitragem chinesa. "Houve alguns imprevistos referente aos árbitros chineses e pista inadequada mas tudo bem, eu fiz minha parte e joguei limpo", escreveu, também no Instagram, Augusto Dutra, do salto com vara.

Também neste domingo, Caio foi o porta-bandeira da delegação brasileira na Cerimônia de Abertura. Em nova postagem no Instagram, depois da festa, deixou as críticas de lado. "Uma honra servir meu país e levar a sua bandeira. Obrigado pela oportunidade Comissão Desportiva Militar do Brasil, por tudo que passei aqui. Esse gesto mostra realmente o espírito de corpo. Saio ainda mais forte e honrado", escreveu.

O Brasil terminou em terceiro no quadro de medalhas dos Jogos Militares, atrás dos dois países que inspiram o modelo militar brasileiro, de recrutar atletas de alto-rendimento já formados: a China e a Rússia. Os chineses conquistaram 239 medalhas, sendo 133 de ouro. A Rússia ficou em segundo, com 161 medalhas no total e 51 de ouro. Já o Brasil ganhou 99 medalhas, das quais apenas 21 douradas.

A delegação brasileira vinha de um segundo lugar nos jogos de 2015, na Coreia do Sul, quando ganhou 84 medalhas, sendo 34 de ouro, contra 59 douradas da Rússia. A China, na ocasião, ficou em terceiro.

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.