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Olhar Olímpico

Câmara dos EUA aprova lei para pôr na cadeia atletas rivais que se doparem

Demétrio Vecchioli

22/10/2019 19h34

Lei Rodchenkov prevê penas para atletas que se valerem de substâncias proibidas em eventos com participação de atletas norte-americanos, como é o caso de Rafaela Silva, que testou positivo durante os Jogos Pan-Americanos – ela alega inocência (Roberto Castro/Rede do Esporte)

A Câmara dos Deputados dos Estados Unidos aprovou nesta terça-feira (22) um polêmico projeto, batizado Lei Rodchenkov, que prevê punições que podem chegar a 10 anos de prisão para atletas que fizerem uso de substâncias proibidas no esporte. O detalhe que torna esse projeto único no mundo é que, pela proposta, os EUA teriam o direito de punir qualquer esportistas que se dopar, mesmo de outros países.

Grigory Rodchenkov é o ex-chefe do laboratório antidoping nacional da Rússia que delatou o esquema de doping do seu país e que foi personagem central do documentário Icarus, Oscar de melhor documentário no ano passado. Foi ele quem incentivou o senador democrata Sheldon Whitehouse, de Rhode Island, a apresentar este projeto de lei, que ainda precisa ser aprovado no Senado antes de seguir para sansão presidencial.

Pelo projeto, as agências norte-americanas passariam a ter poder legal de denunciar atletas dopados para a Justiça, em mecanismo semelhante ao que levou às prisões americanas alguns dos principais dirigentes do futebol sul-americano, incluindo o brasileiro José Maria Marin.

Ainda que seus crimes não tenham sido cometidos nos Estados Unidos, seus atos prejudicaram empresas norte-americanas e, por isso, entraram na jurisprudência da Justiça daquele país. O mesmo princípio seria aplicado no doping: um atleta que se dopar e competir contra um norte-americano poderia ser julgado pelos EUA e condenado à prisão em solo norte-americano, correndo o risco de ser deportado por países com quem os EUA têm acordo de extradição.

Mesmo eventos sem a participação dos Estados Unidos poderiam ser prejudicados, caso empresas norte-americanas sejam patrocinadoras ou mesmo proprietárias de direitos de transmissão dessas competições, como os Jogos Asiáticos ou uma Copa do Mundo para a qual a seleção norte-americana não se classificar, por exemplo.

O projeto prevê que a punição aos trapaceiros chegue a multas de US$ 1 milhão e até 10 anos de prisão. "Hoje nós fizemos história pelo ideal do esporte justo e tudo que isso engloba", disse Rodchenkov, comemorando a aprovação do projeto e afirmando que, agora, o combate ao doping pode chegar a um novo nível de eficácia.

 

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.