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Olhar Olímpico

NBB defende torcida única enquanto busca arenas maiores

Demétrio Vecchioli

09/10/2019 04h00

(Beto Miller/Corinthians)

Dos 240 jogos da fase de classificação do Novo Basquete Brasil (NBB), pelo menos 12 deles serão realizados com a presença apenas de torcedores do time da casa. Pelo segundo ano consecutivo o regulamento do principal torneio de basquete do país prevê torcida única nas partidas que envolverem "equipes de futebol", ou seja: São Paulo, Corinthians, Flamengo e Botafogo, quatro dos candidatos a chegarem até pelo menos a semifinal.

A postura é uma decisão da liga e dos clubes e não tem a ver, ao menos em São Paulo, com recomendações do Ministério Público ou da polícia. No Rio, o Grupamento Especial de Policiamento em Estádios (Gepe) determinou torcida única nos clássicos de basquete na temporada 2017/2018, quando o Maracanãzinho estava fechado para o público. Na temporada seguinte isso virou regra no regulamento.09

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"A gente tem uma arena pequena, onde cabem 2 mil pessoas, eu vou dividir entre duas torcidas de futebol? Não acaba o jogo. A torcida ainda não está educada. A torcida que está indo ainda é uma mistura de cara que vai jogo de futebol, não de basquete. O Flamengo já amadureceu um pouco, tem família. Queremos fazer isso também com Botafogo, São Paulo e Corinthians, que já está mais avançado. Quando a gente conseguir selecionar quem gosta do basquete, aí a gente pode pensar", diz Kouros Monadjemi, presidente da Liga Nacional de Basquete (LNB), organizadora do NBB.

No fim da semana passada, a partida decisiva da final do Campeonato Carioca, entre Flamengo e Botafogo, no ginásio do Tijuca, foi interrompida quando uma torcida organizada alvinegra tentou invadir a arquibancada em jogo com mando rubro-negro – e, portanto, presença apenas de flamenguistas. Os dois times correram para o vestiário e o jogo demorou a ser reiniciado.

 

"Eu não posso ter isso no jogo da liga, ainda mais agora com multiplataforma, televisionamento. Se dá uma briga e para o jogo, como eu fico? Eu não posso perder essa parte da mídia. O espetáculo precisa de arenas maiores e lá sim podemos fazer divisões", avalia Kouros, reforçando que Flamengo e Botafogo não querem jogar no Maracanãzinho, que tem estrutura para separar duas torcidas rivais.

Em outros ginásios não há a menor condição de isso ocorrer, como vai ficar claro já na primeira rodada do NBB, quando Corinthians e São Paulo se enfrentam pela primeira vez em muitos anos. O jogo está marcado para 15 de outubro no Ginásio Wlamir Marques, novo nome do velho Parque São Jorge. O clássico poderia ocorrer antes, já esta semana, se o time tricolor tivesse eliminado o Franca e avançado à final do Paulista contra o rival alvinegro.

Enquanto havia essa possibilidade, São Paulo e Corinthians concordaram que não havia a menor chance de colocar duas torcidas em um mesmo ginásio. "O ginásio é dentro do clube. O visitante tem que atravessar todo o clube. A gente não consegue garantir a segurança e a convivência harmônica", diz Antonio Romero, gerente de basquete do Corinthians.

"Nosso ginásio tem lotação de 2 mil pessoas. Não temos vazão para torcida dos dois lados. Tem as torcidas organizadas, a paixão é muito grande, são dois clubes muito grandes, muito fortes. O basquete é um jogo muito mais apaixonante e a gente fica preocupado em salvaguardar a segurança de todo mundo", explica Maurício Sanzi, diretor de basquete do São Paulo.

Tanto o ginásio do Morumbi quanto o do Parque São Jorge ficam dentro da área social do respectivo clube, o que permite apenas a entrada de torcedores do time da casa ou, no máximo, de rivais que não são "equipes de futebol" (como consta no regulamento). Mesmo os jogos contra Flamengo e Botafogo terão torcida única.

Para o presidente do LNB, jogar em ginásios maiores e mais bem estruturados é um dos desafios da liga para os próximos anos. "Estamos criando mecanismos. Para disputar fase classificatória vai te que ter ginásio com mais de 2 mil lugares. Semifinal e final vai te que te mais de 4 mil lugares. Nossa ideia é ir dificultando até que o mínimo para a fase classificatória seja 2 mil lugares.".

 

 

 

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.