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Olhar Olímpico

Riner leva 20 segundos para vencer brasileiro e ganhar ouro em Brasília

Demétrio Vecchioli

08/10/2019 18h04

Teddy Riner e David Moura (EVARISTO SA / AFP)

Em nenhum momento da última década Teddy Riner correu tanto risco de perder uma luta quanto na estreia do Grand Slam de Brasília, contra o japonês Kokoro Kageura. Foram necessários quase 10 minutos de confronto para o francês, invicto desde 2010, conseguir a vitória. Parecia que a invencibilidade enfim estaria em risco, mas era só um alarme falso. Na final, Riner precisou de meros 20 segundos para conseguir um ippon sobre o brasileiro David Moura e levar o ouro na categoria peso pesado, que encerrou o Grand Slam de Brasília.

Riner chegou a Brasília só como número 58 do ranking mundial, uma vez que competiu uma única vez nos últimos dois anos: participou do Grand Prix de Montreal (Canadá), em julho. Lá, ele já sofreu muito para conseguir vencer o tcheco Lukas Krpalek, um judoca que foi campeão olímpico na categoria abaixo e subiu para o peso-pesado mesmo sendo mais leve que os rivais. Em agosto, sem Riner na chave, sagrou-se campeão mundial.

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A "mamata", porém, acabou de vez em Brasília. Faltando menos de um ano para a Olimpíada, Riner precisa subir no ranking mundial para conseguir a vaga em Tóquio e garantir um bom lugar na chave. Por isso, voltou a competir. Nesta terça, sofreu muito contra Kageura, mas depois se recuperou vencendo o próprio Krpalek na semifinal e, depois, David Moura na decisão do ouro.

Rafael Silva, que estava no outro lado da chave, perdeu para David Moura na semifinal e para um russo na decisão do bronze. Terminou no quinto lugar, com mais 360 pontos no ranking mundial. David, que somou 700, vai assumir o posto de melhor brasileiro no ranking olímpico com 2.777 pontos, contra 2.575 de Baby, que venceu a corrida olímpica em 2016. No judô, cada categoria só pode ter um judoca de cada país.

Ao receber um Grand Slam no país pela primeira vez desde 2012, o Brasil ofereceu oportunidade a 55 judocas competirem em evento que distribui mil pontos ao campeão – Mayra Aguiar, que seria a 56ª brasileira, sofreu uma lesão no joelho e acabou não competindo.

Muitos brasileiros aproveitaram muito bem a oportunidade. Uma delas foi Bia Souza, de 21 anos, que venceu a final do peso pesado feminino contra Maria Suelen Altheman, de 31. Com o resultado, a diferença entre elas no ranking olímpico vai cair para 410 pontos, com Bia em franca evolução.  Foi a primeira vez que a jovem atleta do Pinheiros venceu a colega de clube em um evento do circuito mundial.

Outro confronto direto aconteceu na final da categoria até 63kg feminina, ontem, entre duas judocas da Sogipa: Ketleyn Quadros e Alexia Castilhos, em mais um duelo de gerações. Desta vez quem levou a melhor foi a medalhista olímpica, de 32 anos, que lutou em casa e saltou para 2.262 pontos no ranking mundial. Alexia tem 1.777. Correndo muito por fora, Mariana Silva ficou só em quinto.

Francisco Medeiros/Rede do Esporte

Campanha histórica

O Grand Slam de Brasília inicialmente não estava previsto no calendário da temporada, que previa um período de três meses sem eventos de grande porte entre o Mundial (fim de agosto) e o Grand Slam de Osaka (fim de novembro). Muitos atletas planejaram descansar nesse período, para começar a temporada olímpica ainda no fim de 2019. Por isso, o torneio no Distrito Federal não foi dos mais fortes.

Bom para os brasileiros que ganharam 17 medalhas, sendo quatro de ouro, nove de prata e quatro de bronze. Outros 11 brasileiros chegaram ao quadro final, entre os oito primeiros. Na categoria até 60kg, todos os quatro inscritos ficaram entre os oito melhores. Allan Kubawara ganhou o ouro contra Eric Takabatake, enquanto Felipe Katadai e Renan Torres foram eliminados por um espanhol na repescagem.

Quem saiu ganhando no fim das contas foi Takabatake, que agora tem 2.422 pontos. Kubawara, que só tinha 35 pontos, vai pular para 1.035, ainda atrás do medalhista olímpico Kitadai, que tem 1.185. Pelos critérios da IJF, cada atleta computou seus cinco melhores resultados entre maio/2018 e maio/2019, mais um resultado extra, que pode ser o campeonato continental ou o Masters. Essas pontuações têm redução de 50%. De maio/2019 a maio/2020 o formato se repete, com mais seis resultados sendo computados.

A CBJ vai convocar para Tóquio quem, dentro dos critérios estabelecidos pela IJF, for o melhor brasileiro. Caso haja um empate técnico, com dois ou mais atletas com pontuação próxima, a comissão técnica fará a escolha dentro de uma série de critérios.

Por isso os diversos confrontos diretos entre brasileiros em Brasília foi tão importante. Na categoria até 52kg, por exemplo, Larissa Pimenta venceu Eleudis Valentim na semifinal e ficou com a prata, enquanto a rival ganhou bronze. Grande revelação do Brasil na temporada, Larissa vai a 2.282 pontos, contra 1.487 da agora noiva de Rafaela Silva. Sarah Menezes, que não competiu por estar machucada, está muito distante, com 656 pontos.

Na até 66kg, Daniel Cargnin ganhou o ouro e chegou a 2.690 pontos. Seu rival direto é Charles Chibana, que soma 803 pontos. Campeão do reality Ippon, da Globo, em 2017, Willian Lima ganhou o bronze, sua primeira medalha no Circuito.

Rafael Buzacarini também ficou mais perto da Olimpíada ao ganhar a prata na categoria até 100kg, chegando a 2.173 pontos. Leonardo Gonçalves terminou em sétimo e chega a 1.562 pontos. Nas categorias até 90kg e até 81kg, nenhum brasileiro foi ao pódio. Na primeira, Rafael Macedo tem vantagem confortável. Na segunda, Eduardo Yudi é só o 32º do ranking mundial e hoje só estaria na Olimpíada por conta continental.

No feminino, a grande surpresa foi a vitória de Ketelyn Nascimento sobre Rafaela Silva na semifinal da categoria até 75kg. A jovem de 21 anos acabou com a prata, mas somou 700 pontos importantes para o caso de Rafaela ser suspensa por doping e ficar fora da Olimpíada. Até então ela só tinha os três pontos da participação no Mundial Júnior do ano passado. Rafaela conquistou o bronze e vai se manter entre as três primeiras do mundo.

Maria Portela também foi bronze, na categoria até 70kg, e chega a 2.328 pontos. Sua principal concorrente é Ellen Santana, que perdeu na estreia e só tem 500 pontos. Já na categoria até 48kg, Gabriela Chibana aproveitou a oportunidade, foi prata, e agora tem 1.292 pontos, ultrapassando Nathalia Brígida, que está com 1.005. Mas Brígida ainda não competiu nessa metade final da corrida olímpica, por estar machucada, e pode somar pontos em mais cinco eventos.

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.