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Olhar Olímpico

Presidente da CBDA ignora vice e escolhe medalhista olímpico para seu lugar

Demétrio Vecchioli

13/09/2019 12h53

Ricardo Prado (divulgação)

Ricardo Prado será o presidente em exercício da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) daqui em diante. O medalhista olímpico, porém, nunca recebeu um voto para ocupar este lugar. Ele foi nomeado para o posto pelo presidente Miguel Cagnoni, que ignorou a existência de um vice-presidente eleito junto com ele, Luis Coelho.

A decisão foi publicada em boletim assinado por Cagnoni ontem (12), mas revelado só hoje (13). O Ato da Presidência "resolve nomear e designar o Diretor Executivo como Secretário-Geral da CBDA para substituir o presidente nos seus impedimentos e afastamentos no período que antecede as eleições até a posse dos novos eleitos".

Dúbio, o artigo 30 do estatuto da CBDA abre a possibilidade de o presidente escolher, entre seus aliados, que o substitui em caso de afastamento. "O presidente, em seus impedimentos legais de qualquer natureza, inclusive licença, será substituído pelo vice-presidente, diretor secretário ou qualquer outro membro da diretoria com todas as atribuições inerentes ao cargo, conforme ordem previamente estabelecida pelo presidente".

A ordem estabelecida pelo presidente deveria ser apenas para escolher o primeiro diretor a assumir depois na impossibilidade do vice e do secretário, mas o texto dúbio coloca todos no mesmo balaio e permite, em tese, que o presidente dê preferência a um diretor.

As últimas semanas têm sido de forte agitação política no mundo da natação, em um guerra de poder ainda mais forte do que no fim da era Coaracy. Dirigentes de ao menos 13 federações estaduais devem participar na próxima segunda-feira (13) de uma Assembleia Geral Extraordinária, convocada por eles para derrubar Cagnoni da presidência.

Cagnoni não reconhece a assembleia e, se esta de fato votar pela sua derrubada, ele provavelmente não vai entregar a confederação, porque não quer que Coelho fique no seu lugar. Também ontem ele publicou o edital de convocação de uma nova eleição, para o dia 28 de novembro. Por decisão dele, a eleição é pra "completar o mandato" da atual gestão, que vai até fevereiro de 2021.

 

Os antigos aliados de Cagnoni, que hoje formam o núcleo duro de sua oposição, contestam as duas posições. Primeiro porque, alegam, o estatuto determina que, em a presidência ficando vaga antes de um fim do mandato, quem assume é o vice. Segundo porque novas eleições só poderiam ser convocadas para um mandato de quatro anos. E terceiro porque as eleições só poderiam ser convocadas por uma Assembleia Extraordinária.

Miguel, que não tem o apoio de quase ninguém para permanecer na CBDA – seu único aliado é Ricardo Prado -, alega que está convocando eleições para atender uma recomendação do Conselho de Ética do COB, que ele inicialmente ironizou. Quando se viu sozinho, resolveu acatá-la, sem, contudo, atender às outras recomendações que exigiam maior transparência da entidade.

Essa possível nova eleição tem hoje um candidato em campanha: o deputado estadual paraibano Ricardo Barbosa, presidente da federação daquele estado, mas muito pouco atuante nos esportes aquáticos. Principal federação aquática do país e berço de Cagnoni, São Paulo articula uma candidatura de oposição.

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.