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Olhar Olímpico

Parapan começa com incertezas e debate sobre classificação de atletas

Demétrio Vecchioli

23/08/2019 04h00

Cerimônia de hasteamento da bandeira do Brasil na Vila dos Altetas. Foto: Ale Cabral/CPB

Se nos Jogos Pan-Americanos de Lima o Brasil obteve a melhor campanha de sua história, no Parapan, que começa hoje (23) também na capital peruana, o Comitê Paraolímpico Brasileiro (CPB) não prevê um resultado melhor do que o obtido em Toronto, há quatro anos. Um dos motivos é que os Estados Unidos terão força máxima em mais modalidades. Outro é a mudança de última hora no calendário de provas e o risco de alterações nas classificações funcionais de atletas.

A confusão é tanta que o Comitê Organizador informou o CPB que a categoria peso pesado do judô para deficientes visuais não havia tido inscrições suficientes e seria juntada à categoria abaixo. Antônio Tenório iniciou um treinamento de última hora para perder oito quilos e se encaixar no limite de 100 quilos. Mas aí os organizadores perceberam que havia um erro que o peso pesado seria sim disputado.

"A gente teve, há uma semana, o cancelamento de mais de dez provas. E chegando aqui provas que foram agrupadas. Além de diminuir as possibilidades, isso faz também com que o resultado não seja fidedigno porque você tem classes diferentes competindo na mesma prova. Isso atrapalha estimativa de medalha", explica o presidente do CPB, Mizael Conrado. 

Além disso, diz o antigo melhor jogador do mundo de futebol de 5, o comitê teme que atletas sejam reclassificados durante o Parapan. Funciona assim: um nadador ou atleta do atletismo disputa sua primeira prova no evento e, dependendo do entendimento dos avaliadores, ele pode mudar de classe, seja para uma de atletas com deficiência maior, ou para competir contra rivais com deficiência menor.

Um exemplo é André Rocha, que compete no lançamento do disco e no arremesso de peso. Ele foi campeão mundial na classe F52 em 2017 e chegou a Lima classificado na F54, para atletas com mobilidade muito menos reduzida. "É a sexta classificação dele diferente. Se ele voltar para a F53, muda completamente o resultado. Então a gente não consegue saber o que vai acontecer, qual a prova exata", conta Mizael.

Por conta da reclassificação, o Brasil perdeu André Brasil, que no primeiro semestre perdeu sua classificação paraolímpica ao ser avaliado por uma banca que entendeu que a deficiência dele na perna não reduz sua mobilidade o suficiente para que ele compita sequer na classe mais alta.

Incomodado com a postura do Comitê Paraolímpico Internacional (IPC), hoje presidido pelo brasileiro Andrew Parsons, antecessor de Mizael no CBP, o comitê brasileiro decidiu ir às últimas consequências. Decidiu que vai processar o IPC na justiça comum da Alemanha, onde fica a entidade internacional. A única dúvida é se antes o CPB vai tentar uma ação na Corte Arbitral do Esporte (CAS), na Suíça. A decisão deve sair em até duas semanas.

Parapan

O Brasil venceu todas as edições do Parapan desde que a competição passou a acontecer na mesma sede dos Jogos Pan-Americanos, em 2007, repetindo o modelo Olimpíada/Paraolimpíada. Em Toronto-2015, o país conquistou 257 pódios, faturando 109 de medalhas de ouro, 74 de prata e 74 de bronze. Em Lima, a expectativa é algo em torno de 230 a 240 medalhas, de acordo com Mizael.

No número de atletas o Brasil já bateu recorde. A delegação tem 513 integrantes, dos quais 337 atletas, em todas as 17 modalidades em disputa – os Estados Unidos terão 257 atletas. Na comparação com Toronto, entraram no programa o badminton, o tiro esportivo e o taewkondo. Por outro lado, o tiro com arco saiu.

Bicampeão mundial e principal nome da seleção brasileira de goalball, Leomon Moreno será o porta-bandeira do Brasil na cerimônia de abertura, que acontece nesta sexta-feira, às 21h (de Brasília), no Estádio Nacional do Peru, mesmo local onde ocorreu o evento equivalente do Pan. 

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.