Olhar Pan-Americano: Pan começa com desafio de reconquistar brasileiros
À medida que o Brasil se desenvolve como potência poliesportiva, os Jogos Pan-Americanos parecem ficar mais desinteressantes para o público brasileiro. Reverter essa tendência é o grande desafio do Comitê Olímpico do Brasil (COB), das confederações e dos atletas a partir desta quarta-feira (24), quando a bola começa a rolar para os primeiros jogos do Pan de Lima, no Peru.
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Nada ajuda o fato de o evento deste ano ser o terceiro consecutivo com transmissão exclusiva de uma rede que não é a líder de audiência e que não tem o fã de esporte como público cativo. Se a Record TV vai pior que a Globo no Ibope, é natural que o Pan seja visto por menos gente. Mas essa é só uma das tantas explicações para o visível afastamento entre o torcedor e o Pan.
Grande parte da responsabilidade é da maturação do esporte brasileiro. O tênis de mesa, aqui, serve como grande exemplo. Hugo Hoyama mereceu enorme atenção da mídia pela sua robusta coleção de medalhas nos Jogos Pan-Americanos. Os incríveis feitos do hoje treinador da seleção feminina, porém, parecem pequenos perto da carreira de Hugo Calderano, que joga de igual para igual contra os melhores do mundo toda semana.
A consolidação da Lei Agnelo/Piva, que passou a permitir a confederações pequenas pensarem a médio e longo prazo, e os investimentos do governo federal e da iniciativa privada pensando na Olimpíada Rio-2016 permitiram ao Brasil passar a ser relevante internacionalmente em gama maior de modalidades. Tiro com arco, wrestling, esgrima, boxe, taekwondo, BMX, polo aquático, todas tiveram conquistas internacionais nos últimos anos. Antes prioridade, o Pan virou um evento a mais no calendário.
O advento da Rio-2016 ainda proporcionou um natural boom da cobertura jornalística dos esportes olímpicos. Se antes o Pan era a oportunidade de apresentar um novo nome ao grande público, agora o torcedor um pouco melhor informado ao menos já ouviu falar de quem é boa parte da delegação. As sempre emocionantes histórias de superação pessoal são cada vez mais raras no esporte profissional brasileiro.
Em número de conquistas, o Brasil até evoluiu de 2003 até 2015. Mas pouco, se comparado à evolução de sua estrutura. Pesa, aqui, o fato de Estados Unidos e Canadá enviarem ao Pan equipes cada vez mais fortes, e o investimento crescente de países como Argentina, Colômbia (principalmente), México e Venezuela (esta última agora em crise).
Dificilmente será o Pan de Lima a reaproximar o evento do público brasileiro. Pelas poucas horas de transmissão prometidas em TV aberta (a cerimônia de abertura não será transmitida, por exemplo), pelo número pequeno de jornalistas brasileiros em Lima e pelo péssimo calendário de competições.
O Pan começa com uma modalidade onde os melhores do continente não vieram a Lima (o vôlei de praia) e continua, depois da cerimônia de abertura, com só um esporte tido como carro-chefe de um evento assim: a ginástica artística. O Pan só deve pegar fogo de verdade na última semana, quando as finais do judô, do atletismo e da natação vão acontecer praticamente ao mesmo tempo. Até lá, quem sabe o torcedor e o Pan não voltam as e apaixonar?
Aviso aos leitores: este blogueiro está em Lima, na cobertura do Pan. O noticiário diário está sendo publicado na lista de últimas notícias do UOL Esporte. No Olhar Olímpico, durante esses dias, vou postar comentários diários. A série, que começa com este texto, vai se chamar Olhar Pan-Americano.
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