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Olhar Olímpico

Defesa de Nuzman vê depoimento de Cabral como 'positivo' para ex-dirigente

Demétrio Vecchioli

04/07/2019 16h39

A defesa do ex-presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB) Carlos Arthur Nuzman saiu contente do depoimento do ex-governador do Rio Sergio Cabral, nesta quinta-feira (4), à Lava-Jato do Rio. Cabral confirmou ao juiz federal Marcelo Bretas que intermediou a compra dos votos de nove membros Comitê Olímpico Internacional (COI) para que a cidade do Rio fosse escolhida sede dos Jogos Olímpicos de 2016, por recomendação exatamente de Nuzman. Entre os que venderam seus votos estariam dois campeões olímpicos.

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"O depoimento do ex-governador Sergio Cabral foi muito positivo para a defesa do senhor Nuzman. Ele falou de uma suposta compra de votos, que é uma alegação que ele faz talvez por estar em uma situação de condenado a mais de 200 anos de prisão. Cada processo ele tem que dizer alguma coisa. Ele resolveu dizer aquilo que ele não pode provar: que houve uma suposta intermediação na compra de votos", avaliou João Francisco Neto, advogado do Nuzman. 

Segundo ele, Nuzman, que foi presidente do comitê de campanha e do Comitê Organizador da Rio-2016, refuta essa versão. "Isso não aconteceu. Cabral não apresentou provas desse fato", afirma Neto, ressaltando que mesmo que tivesse havido o pagamento de propina, não haveria crime. "Seria um crime de corrupção privada, que não é tipificado como crime no Brasil. Essa denúncia nesse momento se encontra completamente vazia e destituída de justa causa."

Neto diz que o depoimento de Cabral foi positivo para o ex-dirigente porque, segundo ele, o ex-governador afirmou que Nuzman não fazia parte do seu grupo criminoso. "Ele disse em alto e bom som que o senhor Nuzman nunca recebeu um centavo de propina, não participou de sua organização criminosa, não beneficiou qualquer empresa da organização na Olimpíada, nunca concedeu beneficio aos empresários que estão sendo julgados no âmbito da Lava-Jato. Afastou Nuzman das acusações que estão sendo feitas pelo MPF."

A tese do Ministério Público Federal (MPF) ao denunciar Nuzman na operação Unfair Play é a de que Cabral ajudou Nuzman a comprar votos, obtendo os recursos com o empresário conhecido como Rei Arthur, e em troca Nuzman contratou, como presidente da Rio-2016, empresas da organização criminosa de Cabral.

Confissão

No depoimento, Cabral afirmou que Arthur Soares não pediu vantagens específicas para fazer o depósito, mas que os valores repassados a membros do COI foram debitados da propina que o ex-governador recebia mensalmente do empresário.

Em seu último depoimento, Cabral já havia dito que o empresário pagou propina a ele ao longo dos seus dois mandatos, além de ter contribuído para campanhas por meio de caixa 2. No entanto, o ex-governador sempre havia negado a compra dos votos para que o Rio sediasse a Olimpíada de 2016.

Agora ele mudou sua versão: "Precisávamos de um número mínimo de votos. Montamos um time muito profissional e o presidente Lula foi acionado para que, sempre que visitasse um país, pedisse o apoio dos delegados daquele país à candidatura do Rio. De maneira muito profissional, fomos à frente", disse.

Em 2009, o Rio passou à final com Chicago, Madri e Tóquio. "Nesta época, eu estava inseguro, pois o COI é muito 'europeuzado'. Nuzman me ligou e pediu uma reunião de emergência. Ele foi junto do Leo Gryner [ex-diretor de operações do Rio 2016] à minha casa e disse que podíamos ganhar."

Segundo Cabral, Nuzman disse que o presidente da Federação das Associações Internacionais de Atletismo (IAAF), Lamine Diack, se abria a vantagens indevidas. Leo Gryner havia falado com o filho dele, Papa Diack, que assegurava cinco a seis votos, em troca de US$ 1,5 milhão.

O ex-governador afirmou não ter tido dificuldades para levantar o valor. Cabral afirmou ter dito a Nuzman: "Presidente, não vou me meter nisto. Mas vou arrumar um empresário com contas no exterior e vai viabilizar este pagamento. Chamei o Arthur Soares na minha casa, expliquei a necessidade desse dinheiro para obtenção de votos e ele fez este primeiro depósito".

Em setembro daquele ano, em um novo encontro, desta vez em Paris, Nuzman e Diack teriam pedido mais US$ 500 mil para garantir até nove votos ao Rio. "Eu fui ao lançamento do Guia Michelin em Paris. Este encontro ficou famoso pelo episódio conhecido como "A Farra dos Guardanapos". Fui chamado pelo Gryner e pelo Nuzman num canto, que me disseram que o Diack conseguiria chegar a nove votos comprados, mas para isto precisaria de mais US$ 500 mil".

Mais uma vez, o empresário teria sido acionado, segundo relato de Cabral. "Liguei novamente para o Arthur Soares e disse que precisava deste dinheiro até o dia 3 de outubro para a compra de votos. Em 29 de setembro de 2008, o depósito foi feito. Ele me mandou o comprovante de depósito."

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.