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Olhar Olímpico

Futmesa flerta com famosos, cria liga e sonha em ser esporte olímpico

Demétrio Vecchioli

09/04/2019 13h25

Futmesa (divulgação)

Recreação? Esporte? Negócio? O futmesa é tudo isso. Apostando na divulgação promovida por jogadores famosos como Neymar, Coutinho, Firmino e Casemiro e por clubes de futebol, uma empresa que vende mesas parecidas com as de ping pong está criando uma liga. Quer organizar competições e, quem sabe um dia, transformar a ideia que começou como uma brincadeira de quintal em um esporte olímpico. Claro, não é um caminho fácil. 

Flávio Deleo e Juliano Alvizi são os empresários que se apresentam como os "idealizadores" do futmesa. São também os donos da Futmesa Brasil, empresa baseada em Alphaville que desenvolveu a mesa do novo esporte. Também foram eles quem criaram as regras da modalidade e fundaram a Liga Brasileira de Futmesa (LBFM), que deve organizar suas primeiras competições esse ano e que homologa a mesa.

Sim, é como se eles fossem os donos do esporte. Mas isso não é novidade no Brasil. O beach soccer, por exemplo, também foi criado por uma empresa brasileira, a Koch Tavares, que transformou a prática esportiva de jogar futebol na areia em um esporte. É o que Deleo e Alvizi querem fazer com o futmesa.

"Nossa ideia sempre foi criar um esporte. Por uma necessidade, para fazer a liga, ter as coisas organizadas, a gente precisou começar a vender as mesas, porque tudo isso tem um custo", explica Alvizi. A ideia surgiu há cerca de dois anos, depois que seu amigo e sócio viu um vídeo de Neymar jogando teqball em casa.

Esse é um ponto importante. Lembre-se dos vídeos de "futmesa" que você já assistiu. Se vier à sua memória uma mesa curva, mais alta no meio, onde fica a rede, e mais baixa nas pontas, você está pensando em outro esporte. Esse é o teqball, um esporte/equipamento desenvolvido na Hungria e que está uns passos à frente do "futmesa". Já teve, inclusive, duas etapas de Copa do Mundo. A empresa que desenvolveu a mesa inventou também outros esportes: taqpong, taqvolley, taqtenis e qutch (esse último, menos óbvio, é handebol de mesa).

"No Brasil eles copiaram a mesa da Hungria chamando pelo nome do nosso esporte, que é o futmesa. O taqball tem outras regras. Por exemplo, a pessoa pode dar dois toques. São coisas que você olhando é totalmente diferente. O futmesa mesmo é nessa mesa, nessas regras. São esportes parecidos, similares, mas totalmente diferentes de se jogar", explica Alvizi, que desenvolveu uma mesa plana e sem arestas, para facilitar a movimentação de ataque.

Não entendeu? É confuso mesmo. Por exemplo, no fim do ano, Neymar postou um vídeo jogando contra Nathalia Guitler, atleta profissional de futvôlei. As "regras" da pelada eram do futmesa, mas a mesa era de taqball. Por via das dúvidas, o UOL chamou de "futmesa". "A ideia é que todos os esportes sobre a mesa sejam chamados de futmesa", completa o empresário.

Rafael Moura e sua futmesa (divulgação)

Estratégia de divulgação

Nathalia Guitler é um exemplo dessa confusão. Ela foi quarta colocada na última Copa do Mundo de Taqball, jogou futmesa na mesa de taqball contra Neymar e foi uma das garotas-propagandas da apresentação da Futmesa Brasil, nesta terça-feira (9), no Museu do Futebol. Também estiveram presentes os ex-jogadores Fábio Luciano, da ESPN Brasil, e Caio Ribeiro, da Rede Globo.

A estratégia de marketing da Futmesa passa por essas celebridades. Em outubro de 2017, a empresa fez uma mesa personalizada para a CBF e levou até o treino da seleção. Diz Alvizi que os jogadores da seleção se divertiram na mesa, mas os vídeos que bombaram nas redes sociais são deles jogando na mesa da taqball, levada na mesma ocasião pela Vivo, patrocinadora da confederação.

Se Ronaldinho joga taqball, a Futmesa já entregou equipamentos para Neymar (que também tem a concorrente), Thiago Silva, Philippe Coutinho, Roberto Firmino, Nenê, Casemiro e Rafael Moura, entre outros. Entre os clubes, São Paulo, Corinthians, São Paulo, Palmeiras, Inter e Atlético-MG também têm o equipamento em seus centros de treinamento.

A ideia da empresa é que os clubes sociais montem departamentos de futmesa e incentivem a prática entre os sócios. Esses associados disputariam competições internas, depois interclubes, e enfim nacionais. Por isso, nesse primeiro momento, a mesa oficial não é ainda vendida. Com mais de 100kg e feita de fibra de vidro, ela é fornecida apenas para clubes ou jogadores profissionais.

Há também, porém, um equipamento mais simples, a "Futmesa Home", menor, ideal para jogar um contra um. De acordo com a empresa, 200 já foram comercializadas, somando as duas versões, e outras pelo menos 250 devem ser produzidas esse ano. A meta também é criar uma bola especial para a modalidade, mais leve e mais macia do que a de futebol.

Lançamento do Futmesa no Museu do Futebol

Regras do futmesa

As partidas podem ser individuais ou em duplas, com sets que vão até 11 ou 18 pontos. O saque é feito com o pé ou com a cabeça, com direito a segundo serviço, igual no tênis. No saque, a bola tem que bater na área central da mesa do time adversário, que não pode devolver de primeira. Como no vôlei de praia, cada dupla dá três toques: defesa, levantamento e ataque.

É liberado subir na mesa, só não pode invadir, por cima, a quadra do time rival. A mão não serve pra nada, a não ser jogar a bola para cima na hora do saque. É proibido tocar com ela tanto na mesa quanto na bola. E, dica importante: não se arrisque a subir em uma mesa de ping pong achando que está jogando futmesa. Você pode se machucar.

 

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.