Escândalo que derrubou Nuzman força queda de líder de Tóquio-2020
Indiciado por corrupção ativa, o homem mais forte do esporte japonês anunciou que vai deixar a presidência do Comitê Olímpico do Japão (JOC, na sigla em inglês) em julho. A informação, antecipada na segunda por diversos jornais, foi confirmada nesta terça-feira (19), a menos de 500 dias da abertura da Olimpíada em Tóquio. Tsunekazu Takeda não resistiu à pressão após ter seu nome cada vez mais relacionado à denúncia de que o Japão comprou votos para ser escolhido como sede dos Jogos de 2020. Qualquer comparação com Carlos Arthur Nuzman não é mera coincidência.
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Takeda, aliás, é o que Nuzman foi para a Rio-2016: seu principal idealizador. Foi presidente do comitê de campanha e vice do comitê organizador. E a acusação, a partir do Ministério Público da França, também chega da mesma fonte. A grande diferença é que o Brasil só teve que lidar com a desconfiança da opinião pública sobre a legitimidade dos Jogos no Rio quando a Olimpíada já havia acabado. O Japão vive as acusações enquanto estrutura os Jogos.
Em reunião do conselho executivo do JOC nesta terça, Takeda anunciou sua saída, mas negou qualquer crime. "Eu não acho que eu tenho feito qualquer coisa ilegal ou errada. É lamentável que uma sombra tenha sido lançada no evento por minha causa, mas também acho que é meu dever abandonar o resto do meu mandato como presidente", declarou o cartola de 71 anos, de acordo com o site Japan Times.
O veterano foi presidente do JOC durante 10 mandatos, desde 2001. Ele também é presidente da comissão de marketing do Comitê Olímpico Internacional (COI), cargo ao qual também promete renunciar. "Quero me afastar para dar espaço para a geração mais jovem se aproximar e liderar o caminho", disse Takeda.
Os indícios de compra de voto são fortes. E, o método, parecido. Pouco antes da assembleia geral do Comitê Olímpico Internacional (COI) em que Tóquio foi escolhida sede da Olimpíada de 2020, US$ 2 milhões foram depositados na conta de uma empresa baseada em Cingapura, a Black Tidings. Essa empresa seria ligada a Papa Massata Diack, senegalês, filho do então presidente da Associação Internacional das Federações de Atletismo (IAAF), Lamine Diack.
Foram as investigações da procuradoria francesa sobre as movimentações financeiras dos Diack que descobriram os pagamentos supostamente relacionados às compras de voto por brasileiros e japoneses. No caso da Rio-2016, os franceses passaram a atuar em cooperação com o Ministério Público Federal do Brasil, onde não existe o crime de corrupção privada.
Por aqui, Nuzman se tornou réu em processo na Justiça Federal porque o MPF construiu a denúncia relacionando o pagamento de US$ 2 milhões do empresário Arthur Soares a uma conta relacionada aos Diack como uma troca de vantagens entre o governo do Rio, o Comitê Rio-2016, e o empresário, conhecido como Rei Arthur. Ao comprar votos do cartola senegalês, ele estaria comprando vantagens que viriam a ser pagas com recursos públicos. Para os promotores, houve crime de corrupção ativa. Nuzman se diz inocente.
No caso do Japão, o processo corre na França, onde existe o crime de corrupção privada. De acordo com o jornal Le Monde, Takeda foi ouvido pela primeira vez no começo de 2017 e depois novamente em dezembro passado. Só então teria sido indiciado.
Takeda vem de uma linhagem admirada e é bisneto do Imperador Meiji, que governou entre 1867 e 1912. Como Nuzman, é ex-atleta olímpico, tendo participado das Olimpíadas de 1972 e 1976. Sua influência sobre o esporte japonês é tão grande que ele tendia a ser reeleito para um 11º mandato no comitê olímpico.
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