Atletismo começa ano pré-olímpico com racha e calendário alternativo
De um lado, os principais clubes do país e a Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt). De outro, a Federação Paulista (FPA). Os principais responsáveis pela estrutura do atletismo brasileiro estão rachados e quem vai pagar por isso são os atletas, já prejudicados pela escassez de locais para treinar e de clubes que ofereçam a possibilidade de serem profissionais.
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Na semana que vem, enfim, começa oficialmente a temporada 2019 para o atletismo brasileiro, mas ninguém sabe exatamente como. A FPA "original" promete realizar na quarta (20) uma edição do seu tradicional Torneio FPA – uma das poucas competições que servem de tomada de índice e de preparação para os atletas brasileiros. Já o interventor da entidade, Joel Lucas Vieira de Oliveira, anunciou um calendário que começa com um evento no sábado (23), no Pinheiros.
A disputa já dura pelo menos oito meses e teve como gatilho uma série de reportagens do Olhar Olímpico que apontou indícios de fraudes tanto na CBAt quanto na FPA. Federações e atletas se uniram e derrubaram o então presidente da CBAt, Toninho Fernandes. Em São Paulo, os clubes também se uniram, com apoio da nova diretoria da CBAt, para destituir o presidente Mauro Chekin, que há anos não presta contas à assembleia.
Ainda que os clubes tenham votado, em assembleia, por sua deposição, e que a CBAt tenha nomeado Joel, ligado ao Sesi-SP, como interventor, Chekin literalmente não entregou a federação. Colocou uma batalhão de advogados para impedir que Joel entrasse na sede da entidade. A CBAt tenta que a Justiça determine que ele saia da cadeira de presidente e tem o apoio de todos os clubes relevantes de São Paulo – e, consequentemente, praticamente todos os principais clubes do país. Até agora, não conseguiu. Uma liminar foi negada em primeira instância até a análise do mérito.
Chekin, dirigente também da equipe de vôlei de São Caetano, diz que não reconhece a legitimidade das ações de Joel. Já a CBAt e os clubes não reconhecem a legitimidade de Chekin, que inclusive parou de receber os repasses mensais da confederação. Por trás da disputa de poder, um mercado de autorização de corridas de rua que movimenta pelo menos R$ 2 milhões ao ano – ninguém sabe ao certo o valor, porque descobriu-se que a FPA omitia receitas.
Por ser, de longe, o principal polo do atletismo brasileiro, São Paulo é também o local onde se concentram as poucas competições interclubes realizadas no país. E é esse calendário que também está em disputa. Até abril, seriam oito "Torneios FPA" no calendário versão Chekin, contra sete do calendário "alternativo", reconhecido pela CBAt. O primeiro promete utilizar a pista de São Bernardo do Campo, até 2017 local oficial das competições tanto da FPA quanto da CBAt. O segundo marcou eventos nos clubes e em Bragança Paulista, onde hoje é a sede da CBAt. A tendência é que os primeiros, se realizados, tenham um número irrelevante de participantes.
Em nota, Chekin diz que seu calendário está mantido, "apesar da manifestação em sentido contrário, do autointitulado 'Interventor' da FPA inserida no site da CBAt e comunicada por meio de grupos de WhatsApp". Ele alega que a Justiça ainda vai julgar a legalidade da intervenção e que a assembleia que o destituiu não foi registrada no cartório "oficial" da FPA. "Não tendo qualquer validade, portanto." Chekin ainda diz que as competições que não constarem no calendário da FPA não serão por ela reconhecidas.
Procurada, a CBAt disse que apoia os atos do interventor. A reportagem questionou se a confederação tem preocupação com o cenário de um calendário alternativo ao da FPA. Na resposta, a CBAt disse apenas que "reconhece os atos do interventor".
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