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Olhar Olímpico

Card com Esquiva e Robson será teste para disputa de cinturão no Brasil

Demétrio Vecchioli

29/01/2019 04h00

Esquiva Falcão (esq) vai lutar no Brasil em março (Divulgação)

Com Robson Conceição e os irmãos Esquiva e Yamaguchi Falcão, o Brasil tem material humano para voltar a frequentar a elite do boxe mundial. Em que medida, porém, isso pode aquecer o mercado de lutas no país, a ponto de voltar a encher ginásios e aparecer na televisão aberta? Essa é a grande pergunta que a Top Rank e o manager Sérgio Batarelli querem responder. O grande teste vai acontecer em 31 de março, em um evento em Mangaratiba (RJ) com Esquiva e Robson no mesmo card.

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Há um emaranhado de interesses em jogo. O Boxing for You, evento que pertence a Batarelli e está indo para a sexta edição, já estava marcado para acontecer em um resort no litoral sul do Estado do Rio quando a Top Rank propôs incluir lutas de Robson e Esquiva no card. A Top Rank é a promotora dos dois brasileiros, que têm Batarelli como manager. Por fim, ele atua como representante da agência no Brasil.

Com carreiras construídas quase inteiramente nos Estados Unidos (Esquiva fez uma luta em Macau e Robson uma em Porto Rico), os dois maiores nomes do boxe masculino brasileiro nunca lutaram profissionalmente no Brasil. A oportunidade só virá porque a Top Rank topou pagar a conta, que não é barata. Cada vez que vão lutar, os dois têm direito, por exemplo, a cinco passagens aéreas, das quais três em classe executiva, e cinco quartos de hotel. Isso sem contar bolsas para eles e para os adversários.

A iniciativa, explica Batarelli, é entender o potencial de um grande evento de boxe no Brasil. "A Top Rank quer fazer um teste de popularidade, quer ver como vai de audiência. Todo o dinheiro vem de fora, dos Estados Unidos. Apenas abri o espaço para colocar os dois. Se der certo, quem sabe o título mundial do Esquiva seja aqui no Brasil. Aí, em um evento da Top Rank", detalha o agente, que prevê um custo entre US$ 2 milhões e US$ 3 milhões para fazer um evento por título mundial no Brasil. 

A sexta edição do Boxing for You, de qualquer forma, não será um fenômeno de público. O evento, pelo que estava acertado antes da escalação de Esquiva e Robson, será dentro do Portobello Resort. Os detalhes ainda estão sendo definidos, mas só deverão ter acesso a ingresso os hóspedes do complexo, que também conta com um safári. Na prática, será um evento restrito a uma platéia VIP.

Mesmo assim, a expectativa é alta. Ao menos as lutas de Esquiva e de Robson, as principais do card, serão transmitidas para os Estados Unidos pela ESPN Plus, segundo Batarelli. Ele também já divulga que todo o card estará na programação do SporTV 2, ao vivo, no dia 31 de março, um domingo. Além dos dois, também luta a medalhista olímpica Adriana Araújo, que fará uma revanche contra Elaine Albuquerque, rival de quem ganhou por pontos em sua estreia, em junho de 2017, também em uma edição do Boxing for You – a baiana agora tem cartel de duas lutas e duas vitórias.

Esquiva e Robson estão em outro patamar. O primeiro vem pleiteando, há meses, a chance de disputar o cinturão regular dos médios da Associação Mundial de Boxe (WBA, na sigla em inglês) contra o japonês Ryota Murata. Mas, primeiro, o rival, de quem perdeu na final olímpica de Londres-2012, rejeitou o confronto. Depois, Murata foi derrotado pelo norte-americano Rob Brant, que ficou com o cinturão. Podendo escolher seu primeiro rival, Brant rejeitou pegar o canhoto Esquiva.

Assim, o brasileiro fará, em Mangaratiba, sua 23ª luta profissional, em busca de 23ª vitória. Talvez a última antes da chance de disputar o cinturão regular da WBA – o associação tem também o "supercampeão" Saúl Canelo Álvarez. Já Robson Conceição, que recentemente conseguiu sua 11ª vitória em 11 lutas, começou a carreira mais tarde, no fim de 2016, depois de ser campeão olímpico, e ainda vem se adaptando ao boxe profissional.

Se tudo der certo e o boxe passar no "teste", Batarelli já planeja levar lutas dos dois medalhistas olímpicos para suas terras natais: o Espírito Santo e a Bahia. "Eu acredito que se a gente fizer ou em Vitória ou em Salvador, mesmo com só um dos dois, lota. Não tenha dúvida nenhuma. Em São Paulo também vai muita gente. Mas vai depender muito da Top Rank, da performance, da audiência desse evento", projeta o agente.

 

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.