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Olhar Olímpico

Quem é a ginasta nota 10 que está encantando o mundo

Demétrio Vecchioli

14/01/2019 09h11

Katelyn Ohashi é sexy, é ousada, é talentosa. É, também, diferente de tudo que existe na ginástica artística mundial. Por isso é que, mesmo sem disputar competições "oficiais", ela é a ginasta mais comentada do mundo neste início de ano. No ano passado, a americana já havia repercutido no mundo todo com um vídeo que se tornou viral e fez dela a ginasta que todos querem ver se apresentando.

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A palavra não é utilizada na ginástica, mas o paralelo com outras modalidades permite dizer que Ohashi é uma atleta de várzea, aos 21 anos, depois de uma carreira vitoriosa. No passado não tão distante, foi a maior promessa da sua geração. Em 2011, foi campeã nacional júnior no individual geral e em outros três aparelhos. Em 2013, no primeiro ano como adulta, venceu a America's Cup, torneio internacional tradicionalíssimo.

Aquele torneio, em março, foi um marco para a história do esporte. Não só porque foi a última competição oficial disputada por Ohashi, que sofreria uma grave lesão no ombro em abril. Mas porque foi a última vez, até hoje, que Simone Biles participou de uma competição no individual geral e não ganhou.

As duas têm a mesma idade, separadas por 28 dias, e passaram a seguir caminhos diferentes. Quando Ohashi voltou ao esporte, em 2015, aos 18 anos, procurou a Miss Val, como é conhecida a técnica da UCLA, Valorie Kondos Field. Na Universidade de Los Angeles desde 1983, ela implantou um novo modelo, baseado em uma visão mais "refrescante" do esporte. A ginástica mais ligada ao prazer do que à dor.

Na universidade, Ohashi voltou ao "nível 10", torneios que seguem lógica pouco diferente da ginástica artística mundial. O "10" do nome vem do fato de essas competições nunca terem acompanhado a Federação Internacional de Ginástica (FIG), que mudou seu código de notas em 2006 e acabou com o conceito do "10 perfeito".

Na ginástica disputada por Ohashi o "10 perfeito" ainda existe. E ela sabe bem disso. Só no ano passado foram três notas dessas. O novo ano está apenas entrando na sua terceira semana e ela já tem mais dois na conta, ambos em amistosos "universidade contra universidade". Nestes torneios, só dois juízes dão nota, levantando plaquinha, como antigamente.

Pouco mais de 24 horas depois de ser postado pelo Twitter da UCLA, o vídeo da apresentação de sábado de Ohashi já tinha 12 milhões de visualizações só naquela rede social.  No Facebook, mais 1,8 milhões. Ainda não é nada para quem, no ano passado, somou mais de 90 milhões de visualizações com a apresentação que valeu a ela o título da NCAA, a liga universitária, também no solo.

Encanta principalmente a capacidade de Ohashi contagiar o público. Como é usual na NCAA (onde a cultura da prova por equipes é mais forte do que a individual, diferente da ginástica internacional), as colegas praticamente dançam junto. Também com uma preocupação menor, pelo código de notas, de apresentar elementos de alta dificuldade, Ohashi não tem medo de ser sensual, como fosse uma estrela pop. E, da fato, talvez esteja começando a ser.

Fica a lição para a ginástica artística mundial. Com a ultrapopular Simone Biles, a modalidade vai bem, obrigado. Mas o código absolutamente técnico não dá margem para espetáculos como de Ohashi, que poderiam ser capazes de atrair ainda mais visibilidade para o esporte. E nada se compara à apoteose da nota 10. Ela bem que poderia voltar.

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.