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CBDA deixa passar prazo e tem que devolver mais de R$ 1 milhão

Demétrio Vecchioli

21/12/2018 04h00

O planejamento financeiro da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) para 2018 previa que a viagem e a aclimatação para o Mundial de Piscina Curta, disputado neste mês de dezembro na China, fossem bancados com recursos da Lei de Incentivo ao Esporte. Mas os planos precisaram ser modificados porque a confederação deixou passar um prazo e terá que devolver cerca de R$ 1 milhão, que segue em uma conta bancária específica e que agora precisa ser devolvido aos cofres públicos.

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O dinheiro é relativo a um projeto de 2015, que visava cobrir custos de treinamentos e competições de natação da CBDA durante a temporada 2016 e o início de 2017. Como nem toda a verba foi utilizada, a entidade pediu remanejamento para que pudesse usá-la ao longo do ano passado. Novamente sobrou dinheiro e, em 31 de outubro de 2017, o presidente da confederação, Miguel Cagnoni, assinou ofício endereçado ao Ministério do Esporte solicitando prorrogação do projeto até 31 de dezembro de 2018.

Ao menos é isso que diz a CBDA. Porque o documento, ao qual o Olhar Olímpico teve acesso, de fato tem como data outubro de 2017, mas segundo o Ministério do Esporte só foi postado pela CBDA nos Correios em 9 de novembro de 2018. Nesse meio-tempo, em 31 de dezembro de 2017, venceu o prazo de vigência do projeto. Detalhe: os Correios são patrocinadores da CBDA.

Como o governo não recebeu pedido de prorrogação do termo de compromisso a tempo (a 30 dias do seu fim), naturalmente o mesmo não foi prorrogado. Isso significa que todo o dinheiro que está na conta corrente específica precisa ser devolvido ao Ministério do Esporte, por não ter sido usado. No ofício postado com mais de um ano de atraso, Cagnoni informa que havia na conta "mais de R$ 1 milhão".

Como a gestão da conta corrente é responsabilidade da CBDA, o Ministério do Esporte não informa qual o exato valor que, doado pelos patrocinadores da CBDA entre 2015 e 2016, não foi utilizado. Procurada pelo Olhar Olímpico no começo da semana passada, a confederação não teceu qualquer comentário – a entidade, presidida pela chapa "inovação e transparência", não tem respondido às reportagens do blog. Pela legislação, ela deveria ter apresentado a prestação de contas do projeto até 60 dias depois do término do mesmo – em 2 de março, portanto.

Sem poder contar com recursos da Lei de Incentivo e com verbas bloqueadas pelo COB, uma vez que está inadimplente em diversos projetos, a CBDA teve que contar com a ajuda do comitê, que aprovou projeto e pagou as despesas relativas à viagem ao Mundial.

Open vazio

Quatro dias depois do fim do Mundial de Piscina Curta, começou na quarta-feira (19) em Porto Alegre (RS), na piscina do Grêmio Náutico União, uma das três competições nacionais da natação brasileiro: o Torneio Open. Enquanto busca patrocinadores para tentar repor a provável saída dos Correios, a CBDA organiza o evento mais esvaziado de sua história recente.

Apenas 122 nadadores foram inscritos pelos clubes, sendo quase 20% deles (23) pelo GNU. Potências como Pinheiros, Minas Tênis Clube, Corinthians, Sesi e Unisanta enviaram menos da metade de suas equipes, enquanto clubes importantes como o Flamengo sequer se inscreveram. 

Isso está criando algumas situações constrangedoras. Nesta quinta-feira (20), a prova de 200 metros costas foi realizada com apenas dois nadadores, sendo um deles oito segundos mais lento que o outro. Nos 200 metros borboleta feminino também foram só quatro atletas inscritas – e três que apareceram para competir.

Nos últimos anos, o Open serviu de seletiva para principal evento da temporada seguinte – neste caso, o Mundial. A nova gestão da CBDA, porém, mudou o formato de classificação, deixando só o Troféu Brasil (antigo Maria Lenk) como seletiva, o que naturalmente esvaziou o Open.

A solução proposta pelo então diretor de natação Renato Cordani foi transformar o Open em um evento diferente, com disputas mano a mano e premiação em dinheiro – o que não existe em outras competições nacionais. O conselho técnico formado pelos principais clubes do país não topou, Cordani pediu demissão por outros motivos, e a ideia foi engavetada.

 

 

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.