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Olhar Olímpico

NBB diz não temer CBB: 'Manda a Fiba falar que não posso fazer campeonato'

Demétrio Vecchioli

20/12/2018 14h17

Kouros Monadjemi (divulgação/LNB)

"Não temos medo. A Liga está fazendo o campeonato dela e vai continuar fazendo. (A CBB) que mande a Fiba vir falar que não posso fazer o campeonato." O tom da resposta do presidente da Liga Nacional de Basquete (LNB), Kouros Monadjemi, à pergunta sobre o medo de o NBB ser paralisado, mostra o nível da tensão entre a LNB e a Confederação Brasileira de Basquete (CBB). "A gente não tem diálogo franco, aberto. A liga não tem nenhum problema com a CBB, a CBB que tem problema conosco", alega.

CBB racha com clubes e impõe condições para NBB continuar existindo

O dirigente, que recentemente reassumiu a presidência, diz que não está "incomodado" com a postura da confederação. "Eu tô é com pena", afirmou, em entrevista por telefone ao Olhar Olímpico. "Os clubes estão unidos, fechados e vamos continuar fazendo nosso campeonato" 

Em uma conversa de sete minutos com a reportagem, Kouros repetiu diversas vezes que "não sabe o que a CBB quer", depois de a confederação publicar portaria (a primeira do ano) em que listou condições para continuar a oferecer chancela à LNB para a realização do NBB e da Liga Ouro. A confederação diz que nada ali é diferente do que já havia sido acordado em outras ocasiões, em contratos que não são públicos.

"Ele (Guy Peixoto) divulgou o problema que poderia ser interno entre nós e ele. Ele quer mostrar, fazer barulho, mostrar", reclamou Kouros, dizendo que, desde que Guy Peixoto chegou à confederação, no começo do ano passado, as duas partes "nunca se entenderam". "Eles nunca tiveram o espirito de cooperação, de discutir. Eles têm o ponto de vista deles mas eu não quero discutir pela imprensa assunto que deveria ser interno. É o fim do mundo isso (a questão ter se tornado pública)."

Porta-voz da CBB para este tema, o diretor sênior de operação, Ricardo Trade, o Baka, diz que apenas cumpriu o que manda o regimento. "Não tem como eu fazer algo que não seja regimental. A CBB tem que publicar suas decisões. Se soltamos uma portaria, temos que publicar. Vocês (jornalistas) tanto cobram que seja transparente, então publicamos a portaria que somos obrigados." 

Liga e CBB estão em rota de colisão há quase dois meses, desde que a CBB anunciou a criação de um "Campeonato Brasileiro Nacional Adulto", sem citar que aquela seria uma competição de segunda divisão. A Liga enviou ofício com duras críticas e avisando que montaria seu próprio STJD, uma vez que o da CBB vinha apresentando diversas falhas. A CBB respondeu um mês e meio depois, em 11 de dezembro, avisando que exigia um STJD único, sob seu comando.

"Nós não abrimos mão do STJD. Pronto, tá resolvido. O STJD vai ser feito por nós", disse Baka, também ao telefone, admitindo que o tribunal prejudicou a liga no passado. "Não podemos mais errar como erramos lá atrás. Trocamos um procedimento interno para que não tivesse esse problema." Dois casos prescreveram por falta de ação do STJD.

Evitando entrar em detalhes sobre a questão, o presidente da Liga disse que vai pedir para a Fiba mediar a questão. "Não preciso entrar nessa discussão. É problema da Fiba resolver.  Resolvi que a Liga não vai discutir mais nada com a CBB. Não quero, o basquete é mais importante que CBB e a Liga. Ambos temos como objetivo melhorar o basquete brasileiro e não entrar em desacordo. Estou ajudando a desenvolver o basquete. Se a CBB tem problemas com isso, então vamos resolver os problemas."

De acordo com Kouros, a Liga não quer conflito com a CBB e por isso fez diversas concessões recentemente. Entre elas, topou aumentar os "royalties" que paga à confederação, de 3% para 4%, além de ter cedido placas publicitárias em posições privilegiadas na quadra para a CBB, que está no mercado oferecendo esse espaço – e que pretende lucrar com ele.

"Eu quero ajudar, mas tá difícil", reclama Kouros. "Abrimos mão de varias coisas, que não era para abrir mão. Aumentei os royalties. Ele quis passar a Liga Ouro para eles. Quer fazer? Ótimo. Bato palma para ele fazer o campeonato, que faça um em cada estado, ninguém é contra. Só que eles querem fazer turbulência. A gente só quer fazer um campeonato, ajudar a desenvolver o basquete. Se a liga estiver atrapalhando, ele que me diga. Eu acho que não, acho que tô ajudando".

Tentando colocar panos quentes na discussão, Baka diz que a confederação não quer nada além do que está na portaria e lembra que tudo ali já estava previamente acordado, incluindo o STJD sob o comando da CBB. "Foi acordado, escrito e assinado por eles. Não estamos em nenhum momento pedindo nada."

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.