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Olhar Olímpico

Daiene e Etiene quebram tabu com primeiras medalhas em distâncias olímpicas

Demétrio Vecchioli

16/12/2018 09h43

Daiene Dias  (Satiro Sodré/SSPress/CBDA)

A natação brasileira feminina nunca havia subido ao pódio em provas de distâncias olímpicas.  Não até este domingo (16), no último dia de disputas do Mundial de Piscina Curta da Hangzou, na China. Primeiro com Daiene Dias, nos 100m borboleta, e depois com Etiene Medeiros, nos 50m livre, o tabu está finalmente quebrado. As duas, que são colegas de quarto na competição, faturaram medalhas de bronze. Felipe Lima, nos 50 costas – esta, prova não-olímpica -, também ficou em terceiro. O revezamento 4x100m medley masculino, que tinha esperança de medalha, terminou em quarto.

Aos 29 anos, Daiene é a mais experiente das nadadoras brasileiras de alto-rendimento. Na final, apostou em uma estratégia de passar forte os primeiros 50 metros, em primeiro, até perdeu velocidade, mas só ficou atrás das duas norte-americanas. O bronze veio com 56s31, a apenas 0s09 da prata, com novo recorde sul-americano.

Daiene é uma atleta da mesma geração de Cesar Cielo, Thiago Pereira, Felipe Lima e Kaio Márcio, que ganhou protagonismo a partir do Pan Rio-2007, quando se tornou recordista sul-americana dos 100m borboleta aos 18 anos. No ano seguinte perdeu o recorde e o protagonismo da prova para Daynara de Paula, com quem passou a se revezar como campeã brasileira. Na última década, nas vezes em que chegou à seleção, o fez como coadjuvante. Nos últimos dois Mundiais de Piscina Curta, havia sido oitava colocada.

Agora aos 30 anos, vive a melhor fase da carreira, treinando no Espírito Santo (estado natal) e representando o Flamengo. Em agosto, foi prata no Mundial Militar na Rússia, voltou correndo para o Brasil, direto para a piscina, e fez um grande tempo no Troféu José Finkel. No Mundial, fez três vezes a melhor marca da vida: nas eliminatórias, na semifinal e na final.

Etiene dá a volta por cima

Etiene Medeiros está acostumada com pódios em Mundiais e já havia quebrado diversos tabus na natação brasileira feminina. Primeira medalha em Mundiais, primeiro ouro, primeira medalha em Mundiais de piscina longa, primeiro ouro em Mundiais de piscina longa, primeiro recorde mundial… Mas sempre nos 50m costas, distância que não é olímpica.

Em Hangzou, ela errou na semifinal dos 50m costas, escorregando do bloco de largada, e ficou fora da final de forma surpreendente para quem é bicampeã mundial. Mas a pernambucana conseguiu se recuperar mentalmente em uma noite, para no sábado começar sua trajetória nos 50m livre, passando à semifinal e, depois, à final.

Neste domingo, assim como havia acontecido na semi, Etiene só foi mais lenta que as duas holandesas, que eram amplas favoritas. Ranomi Kromowidjojo venceu com 23s19, novo recorde do campeonato, seguida de Femke Heemskerk, com 23s67. Etiene bateu em 23s76, que não só é novo recorde sul-americano, mas também de todas as Américas – logo, melhor do que qualquer norte-americana na história, também.

Peito brilha de novo

As medalhas nas provas de velocidade no nado peito já são tradição para o Brasil. O próprio Felipe Lima já tinha dois bronzes, nos 50m no Mundial de Curta de 2016, e nos 100m no Mundial de 2013. Neste domingo, ganhou mais um, desta vez na distância mais curta.

Por 0s03 não vei uma prata, uma vez que Felipe completou a prova em 25s80, melhor marca da vida, contra 25s77 de Ilya Shymanovich, da Ucrânia. O ouro, mais um, foi para o peito de Cameron Van der Burgh, da África do Sul. E foi também o último, uma vez que essa foi a última prova da carreira dele, que tem duas medalhas olímpicas e, em Mundiais de piscina longa, ganhou 10 medalhas em 11 possíveis nas provas individuais. O Brasil também teve João Luiz Gomes Jr na final, mas ele foi apenas o sexto, com 26s02.

4x100m medley não chega lá

Para terminar o dia, e o Mundial, o revezamento 4x100m medley do Brasil sonhava com medalha. Mas não chegou a ameaçar os três primeiros colocados na reta final. Muito por conta da falta de sincronia entre os nadadores, o que ficou evidenciado pelo alto tempo de reação (entre quem está na piscina completar a prova e o próximo largar). Na Rússia, segunda colocada, os tempos de reação somaram 0s30. No Japão, teceiro, 0s36. No Brasil, 0s93.

Guilherme Guido abriu a prova forte, mas não aguentou o ritmo e entregou em quarto para Felipe Lima. Mesmo cansado, este foi o quarto mais rápido do nado peito e bateu em terceiro. Nicholas Santos nadou bem, terceiro melhor do borboleta, mas o Brasil foi ultrapassado pelos Estados Unidos, que tinham Caeleb Dressel.

Ainda que não tenha se classificado para nadar os 100m livre no Mundial (Cesar Cielo e Marcelo Chierighini foram os dois primeiros da seletiva), quem nadou o revezamento no estilo crawl foi Breno Correia, melhor brasileiro no Mundial. Mas o jovem de 20 anos não conseguiu repetir o feito do 4x100m livre e do 4x200m, quando foi decisivo para o resultado. Caiu na água com o Brasil a 0s26 do Japão, mas encerrou a 0s93 de distância, em quarto.

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.