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Olhar Olímpico

Mais do que o ouro: por que o 4x200m é sim esperança de medalha olímpica

Demétrio Vecchioli

14/12/2018 15h24

Foto: REUTERS/Aly Song

Na terça-feira, abri a matéria que contava que o Brasil ganhou o bronze no revezamento 4x100m livre escrevendo: "Breno Correia, anote este nome". Agora, dá para falar: não só o dele, anote também os nomes de Fernando Scheffer e Luiz Altamir Melo. Você ainda vai ouvir falar muito deles – e, provavelmente, de Murilo Sartori também.

Os céticos dirão, com razão, que eles ainda precisam de um grande resultado em piscina longa. É verdade. Depois do bronze no 4x100m, nesta sexta o Brasil ganhou o ouro no 4x200m, uma prova na qual o país absolutamente não tem tradição recemte, e ainda por cima com recorde mundial. Tudo isso, no contestável Mundial de Piscina Curta.

A ausência do Reino Unido (cuja federação não pagou para seus atletas irem ao Mundial) e da força máxima dos Estados Unidos servem, claro, para colocar um asterisco na conquista desta sexta-feira. Não dá para dizer, de uma hora para outra, que o Brasil, tem a melhor equipe do mundo no 4x200m. Não tem. Mas pode vir a ter uma das melhores.

Hoje o Brasil tem três atletas que parecem estar em curva de crescimento, com potencial para nadar mais rápido do que nadou nesta sexta. Breno Correia é o maior exemplo. Tinha 1min49s06 como melhor resultado da vida no ano passado em piscina longa. Na atual temporada, tem 1min47s94. Baixou mais de um segundo só no primeiro semestre. No segundo, dedicou-se à piscina curta.

Na final do Mundial, foi dele a melhor parcial da prova. Breno, que já havia dado ao Brasil a medalha no 4x100m, assegurou o ouro no 4x200m. Fechou os dois revezamentos de forma espetacular. Neste, caindo na piscina em terceiro para levar a equipe ao título e ao recorde. Mostrou uma característica fundamental neste tipo de prova: crescer na hora da decisão. Isso aos 19 anos, em seu primeiro Mundial adulto.

O time campeão ainda tem Fernando Scheffer, um gaúcho de 20 anos que melhorou seu tempo em piscina longa em quase um segundo e meio este ano e que é o mais rápido da turma. Foi quarto nos 200m livre no Pan-Pacifico e desde já é cotado para ser finalista olímpico na prova individual.

E Luiz Altamir Melo, de 22 anos, que já há alguns anos vem frequentando a elite da natação brasileira e que agora vive a melhor fase da carreira. A equipe, que teve Leo de Deus muito mal nas eliminatórias, foi completado na final por Leonardo Santos, de 23 anos, que nos registros da CBDA tem só quatro exibições na distância. Completou o time como pôde e não decepcionou.

O Brasil acostumou-se, nos últimos anos, a uma maturação tardia de seus melhores nomes, indo no sentido contrário do que é a natação mundial. Etiene Medeiros ganhou sua primeira medalha em Mundiais cinco anos depois de sua primeira grande competição. Bruno Fratus, quatro anos depois. Nicholas Santos, caso único no esporte, virou recordista mundial dos 38 anos.

A "turma" do 4x200m faz diferente e já é recordista e campeã mundial com uma base que tem 21 anos de média. E que tem tudo para ser completada com o menino de ouro da natação brasileira. Murilo Sartori tem só 17 anos e venceu o Brasileiro Juvenil, na quinta, com 1min48s91. A evolução de Breno e de Scheffer entre os 17 e os 19 ou 20 anos e é demonstrativo de onde Murilo, que ainda compete por um clube pequeno, Americana (SP), pode chegar até Tóquio.

Além disso, a sensação de que o 4x200m pode fazer bonito na Olimpíada deve mudar o status da prova de 200m livre no Brasil, que pode virar prioritária para atletas que não exatamente serão candidatos à vaga oljmpica individual, mas que podem ser úteis ao time seja como quarto homem, seja nadando eliminatórias, como fizeram Leo de Deus e Leonardo Santos no Mundial de Curta.

Nesse grupo estão não apenas os dois xarás, mas também João de Lucca, que terá 30 anos em Tóquio e já foi o melhor do país na distância, Caio Pumputis e Brendonn Pierry, que são especialistas nos 200m medley e poderiam colocar os 200m livre em seus programas, nem que seja só para colaborar com o revezamento.

Alem disso tudo, a conquista do 4x200m é importante para dar corpo à natação brasileira, cada vez mais recheada de nomes relevantes. Até 2020, você ainda vai ouvir falar muito de Breno, Scheffer, Altamir, Murilo… Mas também do pessoal do 4x100m livre (Bruno Fratus Gabriel Santos, Marcelo Chierighini, Pedro Spajari, Matheus Santana…), do pessoal do 4x100m medley (Guilherme Guido, Vini Lanza, Gabriel Fantoni, Felipe Lima…) e de outros tantos jovens talentosos como Guilherme Costa, Caio Pumputis, Leonardo Santos. As coisas estão melhorando.

 

 

 

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.