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Olhar Olímpico

Influência de militares pode fazer Esporte continuar como ministério

Demétrio Vecchioli

20/11/2018 04h00

Há duas semanas, ninguém no meio esportivo apostaria qualquer ficha na continuidade do Esporte como ministério. Mas o humor mudou nas últimas horas, principalmente depois de o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) deixar no ar essa possibilidade durante visita a um torneio de jíu-jitsu. Fontes do Olhar Olímpico apontam que a influência dos futuros ministros Augusto Heleno e Fernando Azevedo e Silva, ambos generais do Exército, pode pesar a favor do Esporte.

Logo nos primeiros dias de Bolsonaro como presidente eleito, a equipe dele se reuniu e definiu que o governo teria entre 15 e 17 ministérios. No esboço apresentado, Esporte e Cultura seriam fundidos ao Ministério da Educação, sob o guarda-chuva do MEC. A proposta, vinda da área econômica, encontrou resistência silenciosa de quem no esporte se opunha ao projeto. Além disso, diversos stakeholders importantes do setor que apoiaram a candidatura do PSL, ainda em clima de campanha eleitoral, preferiram endossar a proposta – ainda que fossem contra.

O debate sobre o futuro do Ministério do Esporte logo tornou-se letra morta, com o setor passando a aguardar apenas a nomeação do secretário. Mas, no círculo próximo a Bolsonaro, a discussão não se encerrou. O futuro ministro da Defesa, general Fernando, comandou a organização dos Jogos Militares no Rio e tem ótima relação com o setor. Já o futuro ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Heleno, foi diretor do COB.

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No entender de fontes do Olhar Olímpico, os dois seriam os responsáveis por ainda manter a situação do Ministério do Esporte indefinida, defendendo a sua independência. Além deles, também o professor Antônio Flávio Testa, membro da equipe de transição e conselheiro de Bolsonaro no setor esportivo, é a favor da manutenção do Esporte como ministério independente.

No próprio ME, o humor melhorou nos últimos dias. Na quarta-feira da semana passada, a Folha entrevistou o ministro Leandro Cruz, que revelou que a pasta sequer havia sido procurada até então pela equipe de transição. Agora, Cruz tem uma reunião marcada na próxima quarta-feira exatamente com Testa, para que as conversas enfim tenham início.

Antes, nesta terça, representantes dos ministérios da Educação, do Esporte, da Defesa e da Secretaria Nacional da Juventude vão se reunir para discutir um decreto que definiria o papel de cada pasta no Programa Forças no Esporte (PROFESP), vitrine da união entre os militares e o esporte. O encontro já deve levar em consideração a formatação jurídica do decreto com Esporte e Educação sendo um ministério só.

Mesmo aqueles que não acreditam em uma reviravolta, porém, sabem que um fator decisivo na definição será o nome escolhido para ser ministro da Educação. É que o indicado pode alegar ser contra a fusão e convencer Bolsonaro a manter duas ou três pastas separadas.

Também pode ser decisivo, no próximo domingo, um encontro entre antigos alunos da Escola de Educação Física do Exército (EsEFEx), na qual é esperada a participação de Bolsonaro. Seria uma oportunidade de convidados ilustres do meio esportivo conversarem diretamente com o presidente eleito sobre o tema.

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.