Com Ana Moser "mentora", ONGs de atletas crescem com apoio de empresas
Ana Moser, Flávio Canto e Magic Paula estão entre os precursores de um movimento que tem ganhado força no esporte brasileiro: ex-atletas (ou atletas na parte final da carreira) que estruturam organizações não-governamentais para oferecer oportunidade esportiva a jovens carente. Famosos, têm portas mais facilmente abertas em grandes empresas e conseguem atrair financiamento.
"Ser um ex-atleta ajuda porque aumenta a possibilidade de acontecer esses encontro. Atleta consegue muitas vezes, quase toda vez, uma primeira conversa. A sequência depende de uma série de fatores, mas essa primeira conversa já não é possível para uma série de pessoas", avalia Ana Moser, que comanda o Instituto Esporte & Educação (IEE) há 17 anos.
Na terça-feira (13), ela foi apresentada como mentora de uma plataforma da BV, que promete investir R$ 10 milhões pelos próximos dois anos, divididos em seis entidades comandadas por ex-atletas. Caberá a Ana Moser ao IEE ajudar a capacitar novas instituições e gestores, incluindo aquelas que mal nasceram e já fazem parte do projeto.
O Instituto Serginho 10, do ainda líbero Serginho Escadinha, pode atender mais de mil pessoas na sede construída em Guarulhos (SP). "Eu acho que a gente é só um grão de areia num mar de atletas renomados que poderiam fazer a mesma coisa. Eu não posso chegar, parar de jogar vôlei e ficar dentro da minha casa, sem passar tudo que eu aprendi durante anos. Tem que passar pra molecada, para eles serem uma pessoa de bem", diz o jogador, que já comanda um núcleo do VivaVôlei, da CBV, em Pirituba, Zona Norte de São Paulo.
Além do projeto dele, também será beneficiado pela plataforma o M4 nas Escolas, do recém-aposentado como jogador de basquete Marcelinho Machado, que inicialmente vai levar uma nova metodologia de ensino de basquete a duas escolas públicas do Rio. Já a parceria com o skatista Bob Burnquist promete produzir e instalar 10 kits modulares skate em escolas públicas e reformar quatro pistas públicas de skate pelo Brasil. O BV não informa quanto vai custar cada projeto.
De acordo com a financeira, que diz pensar o projeto a "longo e médio prazo", todo o recurso será investido de forma direta. Ou seja: sem utilizar mecanismos de isenção tributária, como as Leis de Incentivo ao Esporte nacional e estaduais. O caso é exceção. Cerca de 80% da receita da IEE de Ana Moser, por exemplo, vem dessas leis, com doações inclusive do Grupo Votorantim – só no ano passado foram mais de R$ 700 mil, contra cerca de R$ 80 mil no patrocínio anunciado na terça.
"Depois que o Brasil foi escolhido sede da Olimpíada, houve uma queda na captação, mas depois disso foi evoluindo, foi qualificando esse investimento. Sem dúvida aumentou o número de ações. As agências de captação que antes só faziam Lei Rouanet agora fazem esporte também, porque as empresas passaram a investir no esporte. Hoje o setor está em expansão", avalia Ana Moser.
Os números de outra entidade beneficiada pela plataforma da BV, o Instituto Reação, comprovam isso. Em 2014, a ONG teve receita de R$ 1,9 milhão. O valor cresceu ano a ano, até chegar a R$ 5,1 milhões no ano passado. Com o investimento da financeira, uma nova unidade, a primeira fora do Rio, será construída em Cuiabá (MT). Será tocada pelo judoca David Moura, que mora e treina no Mato Grosso, mas defende o próprio Reação.
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