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Olhar Olímpico

Boxe ignora COI, elege suposto narcotraficante e pode ficar fora de Tóquio

Demétrio Vecchioli

03/11/2018 18h19

(Peter Cziborra/Reuters)

A comunidade internacional do boxe amador ignorou as ameaças feitas pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) e elegeu neste sábado (3) o usbeque Gafur Rakhimov para ser seu presidente pelos próximos quatro anos. O COI havia deixado claro que se isso ocorresse a entidade sentiria-se no direito de excluir o boxe do programa dos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2020.

Rakhimov está em uma lista-negra dos Estados Unidos, onde teve seus bens congelados pelo Departamento do Tesouro. Os norte-americanos acusam o empresário de ter ser um dos principais criminosos da Uzbequistão, envolvido no comércio de heroína. Com sua entrada proibida em diversos países, organizou em Dubai, onde tem residência, uma assembleia que o elevou ao cargo de presidente interino da Associação Internacional de Boxe Amador (Aiba) em janeiro passado.

A Aiba vinha sofrendo com problemas de governança, financeiros e políticos até que encontrou em Rakhimov a solução. Para o COI, porém, isso só agravou a situação. Ao longo de todo o ano, o comitê alertou que manter o usbque no poder seria um sinônimo de desinteresse em resolver as demandas e uma clara afronta à comunidade internacional do esporte. Entre as medidas tomadas, cortou qualquer tipo de repasse financeiro à Aiba.

Os avisos, porém, foram ignorados pelos presidentes de 86 federações nacionais, inclusive a brasileira (CBBoxe), que votou em Rakhimov contra o azarão Serik Konakbayev, do Cazaquistão. Agora devem vir as consequências. "Estamos cientes das decisões tomadas pelo Congresso da Aiba em Moscou. O COI deixou claro desde o início que há questões de grande preocupação sobre a Aiba em relação a finanças, justiça, controle antidoping e governança, o que inclui mas não se limita à eleição do presidente da Aiba", disse o porta-voz do COI, Mark Adams, ao site britânico Inside The Games.

O boxe tomou sua decisão e agora é a vez de o COI tomar a dela. Há uma reunião do Comitê Executivo marcada para o fim do mês, em Tóquio, mas antes disso Serik Konakbayev, que também é presidente da associação asiática, viaja a Lausanne, na Suíça, para se reunir com a cúpula do COI. Hoje, a tendência que parece mais forte é que de uma nova entidade seja criada para gerir o boxe olímpico.

De acordo com o próprio COI, segue em vigor a decisão mais recente, que diz que o COI "sente-se no direito" de não garantir o boxe em Tóquio-2020. E que corta qualquer repasse à Aiba, o que deve esmagar financeiramente a entidade, que até hoje não conseguiu criar uma liga amadora lucrativa e que está à beira da faência. De acordo com o Inside The Games, a Aiba fez uma previsão de ter uma receita de 27,6 milhões de francos suíços (R$ 100 milhões) no atual ciclo olímpico. Só os repasses do COI, agora suspensos, representaram 60% disso.

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.