Vinicius Lanza virou nadador para pescar e hoje é a maior promessa por 2020
A prosa, mansa, com um indefectível sotaque mineiro, parece de pescador. E poderia ser. Afinal, foi para poder sair em segurança para pescar que Vinicius Lanza foi colocado para fazer aulas de natação. Seu lugar, porém, era dentro d'água. As andanças pelo Pantanal vão ter que esperar porque a prioridade agora é outra: justificar o rótulo de maior esperança da natação brasileira para os Jogos Olímpicos de Tóquio.
"Comecei a nadar porque minha família tem tradição de pescar, meu pai queria muito que eu fosse companheiro dele e me colocou na aula só por segurança mesmo. Eu até fui duas vezes para o Pantanal com ele, mas agora fica mais difícil, né? Vou ter que esperar chegar o fim da carreira", diz o nadador de sorriso largo, que nem precisa dizer que é mineiro, de Belo Horizonte.
As pescarias, hoje, são restritas aos muitos lagos de Indiana, estado norte-americano onde cursa a universidade. "Mas agora parou de ser o foco. O foco é nadar o mais rápido possível", conta. Se antes o espelho era o pescador, agora é o peixe.
O status de promessa não vem de hoje. Em 2015, Lanza foi prata nos 100m borboleta no Mundial Júnior. Mas, no início de 2016, se viu entre dois sonhos: continuar treinando no Minas Tênis Clube visando uma vaga olímpica ou fazer as malas para cursar universidade nos Estados Unidos, rompendo com o programa que vinha dando certo. Aos 19 anos, fez o índice olímpico, vencendo a última seletiva, mas ficou de fora porque outros dois atletas foram mais rápidos.
Foram dois anos de espera até a primeira convocação para uma seleção adulta e a afirmação. No Pan-Pacífico, disputado em Tóquio, no começo do mês, foi bronze nos 100m borboleta. "Cada vez mais eu consigo bater de frente com os melhores do mundo nas competições. Eu sei que estou do lado deles, mas eles também olham para o lado e sabem que estão do meu lado."
No Pan-Pacífico, Lanza foi superado por dois norte-americanos: Caeleb Dressel, favoritíssimo a ser o sucessor de Michael Phelps, e Jack Conger. Dois velhos conhecidos. Conger foi campeão universitário em 2017. Dressel, em 2018. Agora que os dois se formaram, assim como o cingapuriano Joseph Schooling, campeão universitário e olímpico de 2016, o próximo da lista é exatamente Lanza, bronze tanto nos 100m quanto nos 200m borboleta na NCAA em março.
Mas quando ouve uma pergunta sobre ter como inspiração qualquer um desses rivais, Lanza começa a resposta com uma expressão facial que diz claramente: "Tá louco?". É no Brasil que o garoto de 22 anos se sente em casa. "Meus ídolos são Nicolas Nilo, Kaio Márcio, não esses caras", revela.
Nilo, que tem uma agência que leva nadadores brasileiros para estudar nos Estados Unidos, é um dos conselheiros de Lanza. Já Kaio Márcio, colega de equipe no Minas, foi recordista mundial dos 200m borboleta em piscina curta. Hoje, é dos superados por Lanza. Em quatro dias de Troféu José Finkel, o garoto que começou na natação para ser pescador ganhou os 100m e 200m borboleta e os 200m medley, obtendo índice para o Mundial de Piscina Curta nas últimas duas provas. E ainda foi prata nos 50m borboleta, com marca que valeria vaga na final do Mundial de 2016.
"Eu sei que existe a pressão em cima de mim, mas não só em mim. O Brasil não conseguiu medalha no Rio, então a cobrança em cima de todos nós é muito grande. Mas eu vejo isso como algo bom, sempre gostei de pressão, consigo usar a meu favor", diz.
Não será surpresa se, nesta terça-feira, na última etapa do Finkel, Lanza vencer mais uma prova. Ele é um dos favoritos ao título nos 100m medley, distância que não é disputada nos Jogos Olímpicos.
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