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Olhar Olímpico

Na piscina do recorde, Cielo pode fazer sua última prova no Brasil

Demétrio Vecchioli

24/08/2018 04h00

Satiro Sodré/SSPress

18 de dezembro de 2009. A poucos dias dos trajes tecnológicos serem proibidos na natação, Cesar Cielo cai na piscina do Pinheiros, então seu clube, para completar os 50m em 20s91. Quase nove anos depois, a marca segue sendo recorde mundial, mas o tempo passou para Cesão. Quando voltar a cair naquela mesma piscina, na terça-feira (28), no último dia do Troféu José Finkel, pode fazer sua despedida da natação competitiva.

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Ele não fala isso abertamente. O plano sempre foi claramente explicado: ir bem no Finkel, conseguir vaga na seleção que vai para o Mundial de Piscina Curta que será realizado na China, em dezembro, e lá tentar ampliar sua ampla coleção de medalhas. E só depois disso, com o contrato com o Pinheiros por encerrar no fim do ano, decidir (ou anunciar) se continua na natação por mais um ano, talvez dois, ou se para por aí.

Mas planos não planos, não certezas. Fazia parte dos planos a vaga na Rio-2016, por exemplo. A frustração de ficar de fora dos Jogos em casa fez Cielo ficar um tempo afastado da natação, pensando se ainda tinha vontade de nadar. Decidiu que sim, conseguiu vaga no Mundial do ano passado, ajudou o Brasil a ganhar a prata no revezamento 4x100m livre e foi finalista dos 50m livre. Mas não voltou a ser aquele Cielo recordista mundial.

Seu potencial aos 31 anos é uma incógnita. Cielo ganhou o Open do ano passado com 22s03, mas, em abril, com 22s01, foi superado por Bruno Fratus e Pedro Spajari no Troféu Brasil. Depois de dizer que não aceitaria uma eventual convocação para o Troféu Pan-Pacífico, principal evento da temporada para a maioria dos principais nadadores brasileiros, não conseguiu a vaga.

Desde então, tem se dedicado à natação de uma forma diferente da habitual. Ele nega, o Pinheiros também, mas é fato que Cielo teve desavenças com o técnico Alberto Silva, o Albertinho, e desde então treina em horário separado do restante da equipe. Cai na água todo dia com os juvenis, treinado pelo técnico do juvenil, Régis Mencia, e não com os companheiros do adulto.

A explicação oficial é de que Cielo precisa encaixar os treinos com outras prioridades, como o filho de dois anos e a Fiore Sports, empresa do ramo de material esportivo do qual recentemente tornou-se sócio. A piscina, diz ele, ainda é a prioridade número 1, mas a concentração já não é total. No mundo da natação, a aposta é de que Cielo para ainda este ano.

E nada como parar por cima, com um bom desempenho no Mundial de Piscina Curta, que ele trata como prioridade há um ano. A ida à China, porém, passa pela seletiva: o Finkel, na piscina coberta do Pinheiros, aquela mesma do recorde ainda vigente – depois de reformada, ela passou a ser adaptável, com 50x25m. Para isso, Cesão precisa ser um dos dois primeiros colocados da final dos 50m livre, com um dos 20 melhores índices técnicos individuais da competição, mesmo que não faça o índice de 21s29.

Joga a favor de Cielo a ausência de Bruno Fratus, que fraturou o ombro, e o fato de que os principais velocistas do país fizeram polimento para disputar o Pan-Pacífico, há duas semanas, no Japão. A prova dos 50m vai ocorrer na terça, com eliminatórias pela manhã e final à tarde.  Antes, no domingo, Cielo está inscrito para nadar também os 100m livre, onde não é favorito a ficar com uma das vagas.

Caso consiga a vaga, Cielo disputa o Mundial entre 11 e 16 de dezembro. Já a participação no Open, em Porto Alegre (RS), é incerta não só para ele, mas também para a maior parte da elite do país. O torneio vai acontecer logo em seguida, de 19 a 22 do mesmo mês, e não classifica para nenhuma competição. Se ficar sem vaga no Mundial, Cielo teria que continuar treinando mais três meses e meio apenas para estar no Open, o que não parece das alternativas mais animadoras.

O Finkel começa nesta sexta-feira e distribui 20 vagas para formar a seleção brasileira na China. Neste primeiro dia a expectativa é pelos resultados de Fernando Scheffer, nos 400m livre, e Vinicius Lanza, nos 100m borboleta.

 

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.