Por "apropriação cultural", seleção de rúgbi abandona apelido de "Tupi"
"Pumas" é sinônimo de "seleção argentina de rúgbi XV". Muito mais comum do que falar "seleção neozelandesa de rúgbi XV" é dizer "All-Blacks". O rúgbi tem como padrão a adoção de um apelido oficial para as equipes nacionais, assim como nas franquias profissionais norte-americanas. Por aqui, porém, a Confederação Brasileira de Rúgbi (CBRu) vai descartar o trabalho dos últimos seis anos para associar o time ao apelido de "Tupis".
A informação foi revelada pelo CEO da confederação, o argentino Agustin Danza, em entrevista ao jornal La Nación, também argentino. "Somos a única federação de rúgbi que tem uma figura masculina em seu escudo", alegou Danza. Ainda pelo relato do jornal, o dirigente sente que há uma "apropriação cultural" dos Tupis, assim como, no entender dele, o rúgbi feminino ficaria ofuscado pelo símbolo masculino na camisa.
Ao Olhar Olímpico, Danza disse que a confederação "está no meio de um processo de avaliação de potenciais marcas" e que o processo ainda não terminou. "Nada foi decidido ainda." Nas últimas semanas, porém, os materiais de divulgação da CBRu simplesmente aboliram o apelido dos "Tupis".
O entendimento crítico ao uso de símbolos indígenas como "apelidos" não é novo. Uma das principais universidades norte-americanas, de Stanford, na Califórnia, adotava para seus times o nome de "Stanford Indians", sendo representada pelo desenho de uma figura indígena com cocar – assim como a CBRu. Em 1972, estudantes e funcionários de origem indígena lançaram um protesto e, em 1975, Stanford mudou seu apelido, para Cardinals, abolindo o "Indians".
Cinquenta anos depois daquele protesto, a CBRu abriu uma votação online para a escolha do nome da seleção brasileira de rúgbi, até então chamada (apenas oficialmente, não na prática) de "Vitória Régia". Na ocasião, em 2012, apontou três finalistas: Tupis, Sucuris e Araras. Os "Tupis" ganharam com 47%.
Mas logo houve o entendimento de que a figura masculina não representava também o time feminino. Por isso, em 2014, a equipe feminina de sevens passou a ser nomeada de "Yaras", ainda que no uniforme fosse mantido o símbolo único das seleções. Já o time júnior ganhou o apelido de "Curumins".
Agora a CBRu, que passa por crise financeira, decidiu fazer um novo trabalho de "re-branding", contratando uma consultoria por R$ 100 mil. O resultado deve ser apresentado antes daquele que a CBRu quer que seja o maior jogo de rúgbi já realizado no país, contra o All-Blacks Maori, um time de exibição da Nova Zelândia.
O duelo vai acontecer no dia 10 de novembro, no estádio do Morumbi. A expectativa é de que o amistoso bata recorde de público na modalidade. Para tanto, os ingressos estão sendo vendidos a partir de R$ 40 (arquibancada).
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