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Olhar Olímpico

Por "apropriação cultural", seleção de rúgbi abandona apelido de "Tupi"

Demétrio Vecchioli

21/08/2018 04h00

"Pumas" é sinônimo de "seleção argentina de rúgbi XV". Muito mais comum do que falar "seleção neozelandesa de rúgbi XV" é dizer "All-Blacks". O rúgbi tem como padrão a adoção de um apelido oficial para as equipes nacionais, assim como nas franquias profissionais norte-americanas. Por aqui, porém, a Confederação Brasileira de Rúgbi (CBRu) vai descartar o trabalho dos últimos seis anos para associar o time ao apelido de "Tupis".

A informação foi revelada pelo CEO da confederação, o argentino Agustin Danza, em entrevista ao jornal La Nación, também argentino. "Somos a única federação de rúgbi que tem uma figura masculina em seu escudo", alegou Danza. Ainda pelo relato do jornal, o dirigente sente que há uma "apropriação cultural" dos Tupis, assim como, no entender dele, o rúgbi feminino ficaria ofuscado pelo símbolo masculino na camisa.

Ao Olhar Olímpico, Danza disse que a confederação "está no meio de um processo de avaliação de potenciais marcas" e que o processo ainda não terminou. "Nada foi decidido ainda." Nas últimas semanas, porém, os materiais de divulgação da CBRu simplesmente aboliram o apelido dos "Tupis".

O entendimento crítico ao uso de símbolos indígenas como "apelidos" não é novo. Uma das principais universidades norte-americanas, de Stanford, na Califórnia, adotava para seus times o nome de "Stanford Indians", sendo representada pelo desenho de uma figura indígena com cocar – assim como a CBRu. Em 1972, estudantes e funcionários de origem indígena lançaram um protesto e, em 1975, Stanford mudou seu apelido, para Cardinals, abolindo o "Indians".

Cinquenta anos depois daquele protesto, a CBRu abriu uma votação online para a escolha do nome da seleção brasileira de rúgbi, até então chamada (apenas oficialmente, não na prática) de "Vitória Régia". Na ocasião, em 2012, apontou três finalistas: Tupis, Sucuris e Araras. Os "Tupis" ganharam com 47%.

Mas logo houve o entendimento de que a figura masculina não representava também o time feminino. Por isso, em 2014, a equipe feminina de sevens passou a ser nomeada de "Yaras", ainda que no uniforme fosse mantido o símbolo único das seleções. Já o time júnior ganhou o apelido de "Curumins".

Agora a CBRu, que passa por crise financeira, decidiu fazer um novo trabalho de "re-branding", contratando uma consultoria por R$ 100 mil. O resultado deve ser apresentado antes daquele que a CBRu quer que seja o maior jogo de rúgbi já realizado no país, contra o All-Blacks Maori, um time de exibição da Nova Zelândia.

O duelo vai acontecer no dia 10 de novembro, no estádio do Morumbi. A expectativa é de que o amistoso bata recorde de público na modalidade. Para tanto, os ingressos estão sendo vendidos a partir de R$ 40 (arquibancada).

 

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.