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Olhar Olímpico

Preso pela PF, presidente da Rio-2016 chamava Nuzman de "irmão"

Demétrio Vecchioli

16/08/2018 09h44

Já combalido e endividado, o Comitê Rio-2016 sofreu mais um duro golpe nesta quinta-feira (16), quando a Polícia Federal do Rio de Janeiro deflagrou a operação Golias e prendeu de forma preventiva Edson Figueiredo Menezes, ex-presidente do Banco Prosper. Investigado pelo pagamento de propina para a contratação do Prosper no processo de leilão do Banco do Estado do Rio de Janeiro (BERJ), Edson Menezes é também o atual presidente da Rio-2016.

A prisão não tem qualquer relação com o cargo que ele ocupa desde que Carlos Arthur Nuzman renunciou, ainda na prisão, em outubro de 2017. Mas a relação entre os dois é citada ao longo do pedido de prisão apresentado pela Força-Tarefa da Lava-Jato no Ministério Público Federal (MPF-RJ) à Justiça Federal.

"É íntima a relação de proximidade entre Edson Menezes e Carlos Arthur Nuzman. Ambos tratam-se como irmãos nas várias mensagens extraídas do celular de Nuzman. No período em que Nuzman era presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB), Edson ocupava o cargo de diretor financeiro. Com o afastamento de Nuzman da presidência do Comitê Rio-2016, em razão da denúncia decorrente da Operação Unfair Play, Edson Menezes assumiu o cargo", escrevem os promotores.

A denúncia contém dois trechos de conversas triviais de Whatsapp entre Nuzman e Edson Menezes. Em uma, o banqueiro pede para o amigo colocar água no feijão que ele vai almoçar. Nuzman responde que já botou, mas que a comida é japonesa. Em outra, Nuzman agradece o "magnífico jantar" oferecido pelo amigo e pela esposa. "Querido irmão, este jantar foi o mínimo que poderíamos fazer por uma pessoa que dedicou sua vida por um ideal", responde Edson. As duas conversas datam de agosto do ano passado.

Quando ainda estava preso de forma preventiva, em 6 de outubro do ano passado, Nuzman pediu afastamento da presidência do COB antes de ver aberto um processo disciplinar contra si. Na ocasião, também abdicou da presidência do Comitê Rio-2016. Uma semana depois, o conselho da entidade se reuniu e decidiu que Edson Menezes, como primeiro vice-presidente, deveria ser mantido no cargo na ausência do presidente.

À época, o conselho era formado pela empresária Luiza Trajano, o ex-jogador de vôlei Bernard Rajzman, Manoel Felix Cintra Neto (ex-presidente da BM&F) e José Antônio do Nascimento Brito (ex-presidente do conselho editorial do Jornal do Brasil). Ficou decidido que Edson, remador que chegou a disputar os Jogos Pan-Americanos, ficaria no cargo por 180 dias, até que um novo presidente fosse apontado. Paulo Wanderley, do COB, porém, deixou claro que não aceitaria o cargo de jeito nenhum.

O escolhido foi Toninho Fernandes, então presidente da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt). Ele aceitou o cargo e tomaria posse em abril. Em março, porém, renunciou à presidência da CBAt, também antes de ser derrubado por uma denúncia de corrupção. Favorito a ser eleito vice do COB, não conseguiu votos nem para uma vaga no conselho. Enfraquecido politicamente, deu para trás e recusou a Rio-2016.

A solução encontrada então foi manter Edson Menezes na presidência do comitê e contratar um diretor-geral (CEO), responsável pelas decisões do dia-a-dia. Em junho, Ricardo Trade, o Baka, que já havia sido o CEO do Comitê Organizador Local da Copa do Mundo de 2014, assumiu o cargo.

Desde então o trabalho vinha sendo de tentar recuperar a imagem do comitê, que não tem mais recursos a receber e acumula uma dívida que ultrapassa a casa de R$ 100 milhões. A ideia era que o Comitê Rio-2016 primeiro mostrasse um trabalho sério para depois voltar a bater à porta do Comitê Olímpico Internacional (COI) e de órgãos governamentais para pedir socorro. Agora esse trabalho deverá ficar mais difícil.

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.