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Olhar Olímpico

Um ano após Bolt, atletismo tem garotos na disputa pela sucessão do trono

Demétrio Vecchioli

13/08/2018 04h00

(Eric Gaillard/Reuters)

Doze de agosto de 2017 entrou para a história do atletismo como o fim de uma era. Usain Bolt sentiu uma lesão na reta de final do revezamento 4 x 100m rasos do Mundial de Londres e encerrou ali a carreira mais vitoriosa que a modalidade já viu. Desde então há um trono vago e uma disputa cada vez mais acirrada para ocupá-lo. Um novo rei não será proclamado tão cedo – um domínio não se constrói da noite pro dia – mas os favoritos já começam a vislumbrar a coroa.

Um deles parece estar um passo à frente dos demais, ao menos entre os velocistas. Noah Lyles acabou de completar 21 anos e já carrega um recorde mundial, ainda que de uma prova tradicional apenas nos Estados Unidos: os 300 m rasos indoor. Nos 200 m, não perde uma prova desde 2016.

O currículo pesa a favor dele nessa concorrência. Lyles fez quase tudo que podia: foi ouro nos Jogos Olímpicos da Juventude, em 2014, o melhor atleta de high school (ensino médio) dos EUA em 2015 e campeão mundial juvenil em 2016. Assim como LeBron James no basquete, abriu mão de cursar uma faculdade respeitada (Florida) para ir direto da escola para o esporte profissional. Em 2016, assinou com a Adidas e pulou etapas.

Em 2018, no ano 1 D.B. (depois de Bolt), estourou. Lyles não só lidera o ranking mundial tanto nos 100 m quanto nos 200 m com ganhou as duas provas no Campeonato Norte-Americano, torneio mais acirrado do ano. Tudo isso sendo um talento precoce. Quando completou 21 anos, no último dia 18, já tinha corrido os 100 m abaixo de 10 segundos e os 200 m abaixo dos 20 segundos. Algo que ninguém nunca havia feito tão cedo nos EUA.

"Estou apenas tentando ser o próximo Noah Lyles. Não tenho tempo para me preocupar com Usain Bolt. Estou fazendo o que posso fazer para ser o melhor", disse, em recente entrevista para o jornal Washington Post. O comportamento, porém, é de quem quer ser o próximo Bolt. "Meu objetivo é ser a figura dominante no próximo ano. Quando estivermos no Mundial no ano que vem e chamarem meu nome, quero que as pessoas digam: 'Esse é o garoto que vai ganhar'."

Nos 100 m ainda não é assim. A marca de 9s88, que lhe deu o título nacional, seria suficiente para a prata na Rio-2016. Mas diversos outros atletas atuais têm condições de fazer uma marca dessa. Entre eles, Roonie Baker, também norte-americano, 24 anos, e um 9s88 e três 9s90 na temporada.

Mas nos 200 m a sensação é de que só um outro fenômeno poderá vencer Lyles no futuro próximo. "Eu definitivamente gosto mais dos 200 m. Os 100 m é mais para eu ser rápido e me divertir, mas não levo tão a sério. Quero que as pessoas me desafiem nos 200 m. Nos 200 m eu quero dominar."

Dois dias depois de completar 21 anos, Lyles fez 19s65 para vencer a Diamond League em Mônaco, na melhor apresentação nessa prova desde 2015. E a apresentação não foi exceção. Tanto em Eugene (EUA) quanto em Lausanne (Suíça) também pela Diamond League, venceu com 19s69.

(Michael Dalder/Reuters)

Espetáculo

Bolt não era só o grande nome das provas de velocidade, mas do atletismo como um todo. E isso amplia o leque de sua sucessão, dando a chance para um garoto que acaba de mostrar a cara. Talvez essa seja a primeira de muitas vezes que você lerá o nome de Armand Duplantis, um sueco de 18 anos.

No domingo, ele ganhou a prova de salto com vara no Campeonato Europeu com um salto de 6,05 m. Basta dizer que em seu primeiro ano de juvenil, o sueco agora é o segundo melhor de todos os tempos (empatado com outros três saltadores), só atrás de Sergey Bubka. Tudo isso em uma prova onde o desenvolvimento costuma ser tardio. Como efeito de comparação, Thiago Braz saltou 5,92 m aos 21 anos e 6,03 m, uma única vez, aos 22. E foi campeão olímpico.

Qualquer comparação com Duplantis, porém, é desleal para o comparado. Até o ano passado, o recorde mundial sub-20 do salto com vara era 5,80 m. O sueco já passou essa marca em 12 competições, sendo seis vezes acima de 5,90 m. Com uma temporada na carreira, tem o dobro de saltos acima de 5,90 m que Thiago Braz, outro fenômeno, fez em quatro anos competindo contra os melhores.

 

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.