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Olhar Olímpico

Natação brasileira mostra altos e baixos no Pan-Pacífico

Demétrio Vecchioli

13/08/2018 04h00

Revezamento 4x100m livre ganhou o ouro no Pan-Pacífico

Com apenas 16 vagas na equipe, o Brasil levou apenas a elite de sua natação para o Pan-Pacífico, disputado no Japão. O time selecionado no Troféu Brasil, em abril, deu a impressão de que poderia "estourar" nesse torneio realizado a cada quatro anos contra EUA, Austrália, Japão e Canadá, entre outros. Num momento de renovação, as quatro medalhas conquistadas (mesmo número de 2010 e 2014), sendo uma de ouro, uma de prata e duas de bronze, não é um resultado ruim. Mas não há como negar que havia expectativa de coisas melhores.

Especialmente porque a renovação era a oportunidade de o Brasil se livrar de um vício que há anos vem sendo a pedra no sapato da natação brasileira: a periodização. O diagnóstico é público e quase unânime: mais brasileiros precisam aprender a dar o melhor do ano na competição mais importante do ano. Quem aprendeu (Cesar Cielo, Bruno Fratus, Thiago Pereira) chegou lá. Mas casos assim continuam sendo a exceção, não a regra. Nenhum recorde brasileiro foi quebrado em Tóquio.

No Pan-Pac, quem conseguiu crescer se deu bem. Tantas vezes criticado por resultados medianos e competições importantes, Leonardo de Deus fez o melhor da carreira nos 200m borboleta (1min54s89) e foi prata, repetindo o resultado de 2014. Desde então, parou nas semifinais dos Mundiais de 2015 e 2017 e da Olimpíada do Rio, sempre nadando longe do seu melhor. Se repetir o desempenho do Pan-Pac em Tóquio-2020, tem tudo para fazer final.

Recordista sul-americano dos 200m e dos 400m livre, Fernando Scheffer não melhorou suas marcas, mas não ficou distante delas, principalmente na prova mais curta, em que foi quarto, com 1min46s12. É um resultado para pegar final de Mundial e Olimpíada. Nos 400m, o tempo não foi tão bom (3min50s55), mas o nível para entrar numa final olímpica (não há semifinal) ainda está muito distante do recorde brasileiro.

Gabriel Fantoni, de só 20 anos, também cresceu no Pan-Pac. Fez o melhor da carreira na final B dos 100m costas e, depois, evoluiu de novo no revezamento 4x100m medley, com 53s72. No ano passado, Guilherme Guido entrou na final do Mundial com uma marca um centésimo mais baixa, o que indica o potencial de Fantoni, que ainda precisa melhorar mais de um segundo para começar a pensar em medalhas. Um passo de cada vez.

Outro que foi por esse caminho – positivo – foi Vinicius Lanza, de 21 anos, bronze nos 100m borboleta. Ele não chegou a igualar o resultado do Troféu Brasil, mas chegou a 2 centésimos disso. Detalhes. Com 51s44, também mostrou potencial para ser finalista de grandes eventos – com esse tempo, chegaria à final do Mundial de 2015 e da Olimpíada de 2016, mas não do Mundial do ano passado.

4x100m medley começa a sonhar

Juntos, eles podem ajudar a elevar o Brasil a candidato a medalha no revezamento 4x100m medley. No Pan-Pac, a equipe brasileira foi quarta colocada (3min32s16), mas competindo contra três das cinco principais forças da prova: EUA, Austrália e Japão – Rússia e Grã-Bretanha completam o grupo. Hoje o Brasil é a sexta força, com potencial para crescer.

Peitista brasileiro no Pan-Pac, João Luiz Gomes Jr continua longe dos melhores do mundo, fez um resultado que não valeria vaga em final de Mundial (59s60), mas ganhou uma honrosa medalha de bronze. E, mais uma vez, fez bem a parte dele no revezamento – a 0s02 do concorrente australiano, e 0s10 melhor que o norte-americano.

Para pensar em coisas grandes para o 4x100m medley, é fundamental ter um grande fechador. E Pedro Spajari mostrou que pode desempenhar esse papel. Aos 21 anos, ele fez 47s71 fechando o revezamento medley (contra 48s08 de Marcelo Chierighini no Mundial de 2017, por exemplo) e incríveis 46s94 no final do revezamento 4x100m livre. Em sua primeira competição com a seleção brasileira, mostrou que é fundamental para a equipe.

O 4x100m livre

Mas a grande expectativa da natação brasileira é, hoje, o 4x100m livre. Prata no Mundial do ano passado, o Brasil voltou a ser derrotado pelos Estados Unidos na piscina, desta vez com uma diferença maior. Mas o time norte-americano acabou desclassificado, porque os nadadores caíram na piscina em ordem diferente da informada na súmula. O ouro acabou com o Brasil.

Pensando nos Jogos de Tóquio, porém, o importante é o desempenho, e não a cor da medalha. E por isso o resultado pode ser considerado bom, não ótimo. A marca de 3min12s02 é boa, mas valeria o quinto lugar nos Jogos Olímpicos do Rio. E o Brasil tem time para brigar por vitória. Pelo talento, tem a obrigação de pensar grande.

Para isso, precisa ter uma boa abertura e três nadadores na casa de 47 segundos. No Pan-Pac, Gabriel Santos abriu com 48s93, quase um segundo mais lento do que os 47s98 do Troféu Brasil, quando quebrou a barreira dos 47 segundos pela primeira vez. Além disso, Marco Antônio Ferreira, que teve 48s46 no campeonato nacional, foi ainda mais lento (48s53), apesar da largada lançada. Marcelo Chierighini (47s62) e Pedro Spajari (46s94) fizeram muito bem a parte deles.

Gabriel, Spajari e Chierighini parecem nomes certos no revezamento, mas há uma disputa em aberto não por uma, mas por três vagas remanescentes – o Brasil teria direito de convocar seis atletas. Pela forma como nada grandes competições, Bruno Fratus não pode ficar de fora. No ano passado, no Mundial, ele fechou para 47s18. Até 2020 ainda devem crescer o próprio Marco Antonio (nascido em 1998), Breno Correia (em 1999) e André Luiz Souza (2000).

Velocidade vai mal nas provas individuais

Entre os desempenhos ruins do Brasil no Pan-Pac estão as provas de velocidade. Nos 100m, Chierighini foi quarto (48s36) e Spajari o sétimo (48s51). Na final B, Gabriel Santos fez 49s24 e Marco Antônio 49s60. No Troféu Brasil, todos nadaram para 48s baixo. Chierighini, já acostumado a crescer na hora agá, foi o único a evoluir.

Mesma situação nos 50m: os três brasileiros fizeram abaixo de 22s25 no Maria Lenk, mas no Pan-Pac o melhor deles, Pedro Spajari, anotou 22s30, sendo meio segundo mais lento do que no torneio nacional. Tivesse repetido o resultado, seria prata. Foi sexto. Spajari será um grande nadador, mas falhou na primeira chance de provar isso internacionalmente.

Entre as mulheres, nenhum brilho. Só Lorrane Ferreira e Larissa Oliveira conseguiram vaga na equipe e só Larissa chegou às finais A, dos 50m e dos 100m livre, terminando em oitavo e último lugar. Fez 54s78 e 25s03, em ambas um pouco acima do resultado do Troféu Brasil. Lorrane fez final B dos 50m, com 25s08. Machucada, Etiene Medeiros não nadou a seletiva.

Medley vai bem

Nas provas de medley, o destaque ficou para Brandonn Almeida, que foi sexto, mas com 4min14s53, marca que o colocaria na final do Mundial do ano passado – mas não da Olimpíada do Rio. Ainda há cinco segundos a melhorar para sonhar com medalha.

O novato Leonardo Santos também foi bem. Ele fez 1min58s83 para ser sétimo nos 200m e 4min18s90 para repetir a colocação nos 400m. Melhorou em quase um segundo na primeira prova e em mais de dois segundos na segunda.

Guilherme Costa, o Cachorrão, não nadou bem nas provas de fundo, sem conseguir melhorar seus recordes sul-americanos dos 800m e dos 1.500m livre. Mas ele estava com virose.

 

 

 

 

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.