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Olhar Olímpico

Jovem formado na Mangueira vê sonho de medalha olímpica cada vez mais perto

Demétrio Vecchioli

09/08/2018 04h00

Gabriel Constantino, novo recordista sul-americano dos 110m com barreiras

Nascido e criado no Morro do Juramento, em Vicente de Carvalho, na zona norte do Rio, Gabriel Constantino contou com o destino para chegar ao atletismo. Voltando de uma entrevista de emprego, a mãe passou de ônibus pelo viaduto que cai na frente da Estação Primeira de Mangueira e viu lá embaixo a Vila Olímpica que leva o nome da comunidade mais famosa do samba. Descobriu que ali, mais do que atletas, formavam-se cidadãos. E deu ao menino a chance que ele agarrou com a determinação de quem, a dois anos dos Jogos Olímpicos de Tóquio, não pensa em outra coisa senão a medalha. E, se possível, de ouro.

Gabriel Constantino é a grande revelação do atletismo brasileiro em 2018. Hoje funcionário do Pinheiros, um dos clubes sociais mais ricos e bem-estruturados do país, bateu aos 23 anos o recorde sul-americano dos 110m com barreiras, prova que o Brasil não tem grande tradição. Quando fala em uma medalha olímpica, sabe que o degrau a subir até o patamar dos melhores do mundo é superável.

"Eu já corri 13s23, show de bola, mas preciso estar preparado para correr de 13s20 para baixo. No Mundial do ano que vem, objetivo para mim é final e medalha. São duas coisas que para mim são realidade e estão próximas. Na Olimpíada, penso muito no ouro", diz o garoto carioca, que até o começo do ano nunca havia corrido abaixo de 13s50.

Dois números explicam o tamanho da evolução: o índice olímpico para a Rio-2016 foi 13s47, enquanto que a medalha de bronze no Mundial do ano passado saiu em 13s28. Em um ano, Gabriel passou do nível de um atleta que beliscava uma participação em grandes competições para o de um possível medalhista. "O que é mais importante? Se garantir em um Mundial ou fazer uma final de Mundial? Consegui fixar o (antigo) recorde de 13s29 na minha cabeça. Preciso pensar alto, pensar em correr no mesmo nível que os atletas estrangeiros de alto nível".

Até agora, Gabriel teve poucas oportunidades de correr contra esses caras. Na primeira, no primeiro trimestre, foi finalista do Mundial Indoor. Na segunda, na prova mais relevante da carreira, deixou para trás o cubano naturalizado espanhol Orlando Ortega, vice-campeão olímpico, ganhando o Meeting de Madrid. Ainda faturou uma prata em outra prova do mesmo nível em Ostrava (República Tcheca) e dois ouros e uma prata em eventos menores também na Europa.

Feitos de um garoto que não deixa escapar oportunidades. "Logo que entrei no atletismo, em 2007, consegui ganhar duas provas no estadual, o que me deu muitas coisas boas, como uma bolsa em um colégio particular. Aí fui me dedicando mais aos treinos", lembra Gabriel, que, como a maioria dos garotos, fez várias provas (especialmente salto em altura) até se firmar naquela que viria a ser sua especialidade, os 110m com barreiras.

Mas não só. Mesmo sem treinamentos específicos, Gabriel também tem feito bons resultados nos 100m rasos. Tanto que foi reserva do revezamento 4x100m nos Jogos Pan-Americanos e com regularidade treina com a equipe de velocidade. Hoje ele é o oitavo do ranking nacional, mas com um resultado que o faria quinto no ano passado. O nível dos companheiros evoluiu de forma significativa, a ponto de uma medalha olímpica no revezamento também voltar a ser tangível.

"O revezamento é como se fosse uma consequência dos treinos e resultados. Pra mim o primeiro plano sempre foi e sempre vai ser os 110m com barreiras, que consigo executar muito bem. Se essa chance vier, vai ser como se fosse um bônus. Não vou pegar pra me divertir, vou levar a sério", promete. nal e assim, corri 13s23, show de bola, mas precisa estar preparado 13s20 para baixo. Não adianta correr 13s34 e parar aí. O bojetivo é final e medalha. Duas coisas que para mim são realidade e estão próximas. Na Olimpíada, penso muito no ouro. Eu me doou 100%, estou ganhando experiência contra medalhsitas, recordistas, as duas competições.

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.