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Olhar Olímpico

Falha em cronômetro muda recorde mundial e levanta dúvidas na natação

Demétrio Vecchioli

07/08/2018 16h06

Britânico Adam Peaty celebra vitória no Campeonato Europeu (OLI SCARFF/AFP)

Adam Peaty por muito pouco não conseguiu um feito histórico no sábado. Ao terminar a final dos 100m peito no Campeonato Europeu de Natação, em Glasgow (Escócia), olhou para o telão e viu o tempo: 57s00. Novo recorde mundial, a um centésimo de quebrar uma barreira que parecia intangível três anos atrás: completar a prova na distância dos 56 segundos.

Só que, na verdade, Peaty não completou a distância em 57s00. Só no dia seguinte, depois de uma postagem no blog do brasileiro Alex Pussieldi, é que a Liga Europeia de Natação (LEN) revelou ter descoberto uma falha no sistema de medição de tempo. O que significa que não só a marca do britânico, mas de todo mundo que nadou as finais de sábado, foram auferidas erradas. Foi feita então uma correção: mais 10 centésimos no tempo de todo mundo.

No caso de Peaty, um dos melhores nadadores que o esporte já viu, o resultado oficial da prova passou a ser 57s10, o que significa ainda assim um novo recorde mundial, três centésimos melhor do que o tempo que o britânico fez na Rio-2016, exatamente dois anos arás. Mas para o "tempo recorde' virar "recorde" é necessária a validação da Federação Internacional de Natação (Fina).

E é aí que entra o debate. Não existe qualquer regulamentação para casos assim. A LEN chegou a explicar a falha que levou a auferição de resultados falsos, a partir de um erro na medição do tempo de reação dos atletas, mas não convenceu sobre como chegou à medida corretiva de adicionar 10 centésimos ao tempo de cada atleta.

Há muita coisa em jogo. A começar por uma questão política entre a Fina do uruguaio  Julio Maglione e a LEN do italiano Paolo Barelli, derrotado por lavada na eleição presidencial da Fina no ano passado.

Mas, principalmente, uma discussão sobre a credibilidade da natação e da sua capacidade de oferecer condições justas para os melhores do mundo baterem recordes mundiais. Em 2014, Peaty já havia sido envolvido em outra polêmica. Na ocasião, ele bateu o recorde mundial dos 50m peito no Mundial de Piscina Curta, mas a marca não foi reconhecida porque ele não foi submetido a exame antidoping.

A natação britânica recorreu à Corta Arbitral do Esporte, alegando que Peaty não tinha responsabilidade por uma falha dos organizadores, e conseguiu validar o recorde dois anos depois. Agora, a expectativa é que mais uma vez o recorde seja decidido nos tribunais, e não nas piscinas.

Não que haja qualquer possibilidade de alguém bater o recorde de Adam Peaty tão cedo. Até o surgimento do fenômeno britânico, o recorde mundial era 58s46, do sul-africano Cameron van der Burgh. Agora, a discussão está na casa de 57s1 ou 57s0. O segundo colocado no Europeu, também britânico, fez 58s64, mesmo resultado do vice-campeão mundial do ano passado. Ou seja: Peaty tem um segundo e meio de vantagem sobre qualquer outro nadador na atualidade.

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.