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Olhar Olímpico

Consultor do COB está suspenso nos Estados Unidos por 'má-conduta'

Demétrio Vecchioli

25/07/2018 13h43

Loren Seagrave, consultor do COB para as provas de velocidade

O Brasil vive o melhor momento de sua história nas provas de velocidade do atletismo masculino, mas pode perder o treinador que vinha sendo responsável pela equipe. O experiente Loren Seagrave, contratado pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB) como consultor, foi suspenso pela federação de atletismo dos Estados Unidos (USATF) por "má-conduta". Ele também foi demitido do centro de treinamento que serve como base de treinamentos da equipe brasileira nos EUA.

O COB diz que fez contato com o Comitê Olímpico dos Estados Unidos e com o próprio treinador, e que "está aguardando um posicionamento sobre o andamento do processo e da devida apuração dos fatos". Até agora, porém, o comitê brasileiro diz que não sabe qual teria sido a "má-conduta" de Seagrave.

No final da década de 1980, o treinador foi demitido da Universidade Estadual da Louisiana por conta de uma suposta relação amorosa com uma de suas atletas. Vale ressaltar, porém, que pelo código de ética do COB, caso os dois sejam adultos e a relação seja consensual e fora do ambiente de trabalho, não há impedimento para esse tipo de relação.

Desta vez, a dúvida sobre o que teria causado a suspensão provisória, aplicada em 13 de junho, gera preocupação no COB. "Preocupa, pois o treinador vem fazendo um bom trabalho auxiliando os atletas brasileiros a melhorarem suas marcas e realizando um intercâmbio de conhecimento com os treinadores brasileiros", explicou o comitê, em nota.

Até o ano passado, o COB não contratava Seagrave diretamente. Pagava à IMG pela utilização de suas instalações esportivas, que "devido à sua localização e condições de hospedagem, alimentação e de treinamentos, atende perfeitamente o plano de preparação anual para as competições de início de ano nos EUA".

Em 2018, porém, o treinador passou a ser um consultor do comitê. De acordo com o COB, no primeiro semestre ele recebeu dois pagamentos trimestrais de 5 mil dólares. Ou seja: em seis meses, ele recebeu cerca de R$ 37 mil, pela cotação atual.

Seagrave fica pouco tempo com os velocistas brasileiros, apenas quando eles vão aos Estados Unidos. Mas é incontestável que atletas que têm treinadores diferentes no Brasil evoluíram de forma expressiva este ano.

Desde 2006, só um brasileiro havia corrido (uma vez) os 100 metros abaixo de 10s15. Só este ano já foram cinco: Paulo André (10s06), Jorge Vides (10s09), Derick Silva (10s10), Vitor Hugo (10s12) e Rodrigo Pereira (10s14) – os dois últimos não participaram dos campings com o norte-americano esse ano. No total, eles já somam 13 apresentações abaixo de 10s15 em 2018.

Além disso, Seagrave tem trabalhado com Gabriel Constantino, que bateu o recorde sul-americano dos 110m com barreiras, é o oitavo do ranking mundial e foi finalista do Mundial Indoor nos 60m com barreiras.

O Olhar Olímpico não conseguiu contato com Seagrave.

 

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.