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Neto de Servilio, Bolinha vira aposta para 2020 e não aceita menos que ouro

Demétrio Vecchioli

12/07/2018 04h00

Bolinha, neto de Servilio de Oliveira e promessa para 2020

Quando criança, Luiz Gabriel recebeu do avô um apelido ingrato que carrega até hoje: "Bolinha". O tempo passou, Luiz agora é um garoto de 17 anos com pouquíssima gordura no corpo, mas continua sendo chamado assim pelo seu grande conselheiro. "A lição mais importante que ele me passou é não aceitar o bronze. Se chegou no bronze, queira mais, queira o ouro", conta.

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O avô, no caso, é Servilio de Oliveira, 70, primeiro medalhista olímpico da história do boxe brasileiro. Em 1968, na Cidade do México, entre os pesos mosca, faturou exatamente uma medalha de bronze. Profissionalizou-se em seguida e nunca pôde querer mais. Como profissional, estava em ascensão, invicto, sonhando com o cinturão mundial, quando deslocou a retina em uma luta.

Agora, o Bolinha pode entregar o que o avô se viu impedido de conquistar. A começar pelo título mundial. Em agosto, o jovem de 17 anos vai à Hungria para o Mundial Juvenil, e cheio de expectativa. "Sem dúvida dá para voltar com medalha, e até ser campeão", aposta. Depois, em outubro, ele luta a Olimpíada da Juventude, em Buenos Aires, contra atletas um ano mais velhos, com boas chances de um pódio – cada categoria terá apenas seis boxeadores, com metade deles ganhando medalha.

O currículo pesa a favor de Bolinha. Convocado para a seleção brasileira juvenil pela primeira vez em meados do ano passado, sagrou-se campeão continental (pan-americano) em maio, nos Estados Unidos. Há uma semana, em sua segunda competição internacional, foi prata de um torneio no Equador – perdeu para o atleta da casa, em decisão dividida dos juízes.

A influência familiar, claro, ajudou. Luiz começou cedo no boxe, aos 10 anos. Assistia os treinos comandados pelo pai Ivan de Oliveira, o Pitu, em São Caetano do Sul (SP), até que resolveu pedir para treinar também. Foram três anos fazendo aulas só ele, o pai e um irmão, até que a academia também passou a receber outras crianças da mesma idade.

O boxe ajudou Luiz a "esticar" e emagrecer. Com 1,72m, ele é ao menos cinco centímetros mais alto que a média de seus rivais da categoria mosca, até 52kg, a mesma que consagrou o avô. Na seleção permanente, que treina em um CT em Santo Amaro, na zona sul de São Paulo, ele é o único da categoria, entre juvenis e adultos.

Uma porta aberta para tentar disputar já a Olimpíada de Tóquio, aos 19 anos. "Eu e meu pai a gente já vinhamos conversando sobre isso e a gente pensa em estar em Tóquio 2020, já vê algumas possibilidades.  É capaz que a seleção convoque mais atletas de 52kg para poder escolher um. Preciso estar dando resultados no Mundial e na Olimpíada da Juventude, para que a seleção olhe bem para mim".

Ser "o neto do Servilio", segundo ele, deixou de ser um peso para se tornar um incentivo. "Quando eu era mais criança, subia no ringue com esse peso nas costas. Hoje evito isso. Essa pressão tentei tornar como incentivo. De lá para cá mudei minha cabeça, deixei de entender como pressão e estou entendo como incentivo a mais".

A meta é estar em 2020 e, depois, chegar forte à disputa por medalhas em 2024, já mais madura. O profissionalismo só vai entrar no radar, diz Bolinha, depois de ser campeão mundial amador.

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.