Topo

Olhar Olímpico

Perto do primeiro sub10, GP Brasil expõe decadência do atletismo no Brasil

Demétrio Vecchioli

07/07/2018 11h25

Paulo André Camilo será destaque do GP Brasil (reprodução/Instagram)

Não se surpreenda se, neste domingo, você vier a ser informado de que pela primeira vez um brasileiro correu os 100 metros rasos num tempo abaixo de 10 segundos. O primeiro sub10 nunca esteve tão perto, mas o atletismo no Brasil nunca esteve tão longe das manchetes. Basta observar que o principal evento da temporada será neste domingo e pouca gente está se importando com isso, apesar das transmissões previstas na TV Brasil e no SporTV.

A coincidência com a Copa do Mundo não é a única culpada pela buraco de fala de visibilidade no qual o atletismo se afundou. Antes principal dos quatro meetings internacionais que o país recebia, o GP Brasil virou filho único e, com isso, deixou de ser atrativo para quem vem de longe. Isso apesar de ter uma chancela inferior apenas aos dos eventos da Diamond League, organizado desde 1985.

Antes realizado no Ibirapuera, no Engenhão ou no Mangueirão, o GP aconteceu em São Bernardo do Campo nos últimos anos e neste domingo será disputado em Bragança Paulista, no interior de São Paulo, no antigo centro de treinamento da Rede Atletismo (exatamente o palco do grande escândalo de doping de uma década atrás).

Mais uma consequência da crise: Belém se viu sem condições econômicas para bancar o evento, o Engenhão é caro demais, o Ícaro de Castro Mello (Ibirapuera) não tem condições de receber provas, o Célio de Abreu (Maracanã) foi destruído e a Caixa retirou o apoio que dava ao estádio de São Bernardo. Bragança é solução em 2018, mas ninguém sabe o que acontecerá em 2019, uma vez que o Ministério do Esporte cancelou o convênio que bancava o CT instalado lá.

Como problema pouco é bobagem, ainda há a crise político/administrativa pela qual passa a Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt), que recentemente perdeu seu presidente, Toninho Fernandes, que agora é alvo de investigação interna comandada pelo seu antigo vice, Warlindo Carneiro. Em São Paulo, o presidente da federação paulista usa lacunas para evitar uma assembleia que quer sua deposição, e o melhor CT do país, em São Caetano do Sul, foi fechado para quem não é da cidade – ou seja, quase todo mundo que treinava lá.

 

Momento bom esportivamente

Todo esse cenário de terra arrasada coincide com um momento muito bom esportivamente para o atletismo brasileiro, que faz do GP Brasil o mais interessante em muito tempo para o fã da modalidade. Principalmente porque já não é um sonho distante imaginar que o primeiro sub10 do país venha neste domingo. Motivos para sonhar não faltam.

Depois de 19 anos, o Brasil novamente tem um atleta na casa de 10s0: aos 19 anos, Paulo Andre de Oliveira fez 10s06 há três semanas, em Madri (Espanha), exatamente na etapa anterior do IAAF World Challenger – circuito do qual o GP Brasil faz parte. Mas não é só ele. Derick Silva, de 19 anos, fez 10s10 na quinta-feira, também na Espanha.

Ambos agora estão entre os cinco melhores resultados do país em todos os tempos, junto com Robson Caetano (10s00 em 1988), André Domingos (10s06 em 1999) e Fernando Botasso (10s08 em 1990).  E a prova dos 100m, fechando o programa às 16h30, ainda terá como coadjuvantes Aldemir Gomes, que no ano passado fez 20s15 nos 200m, terceiro melhor tempo brasileiro da história, e Gabriel Constantino, novo recordista sul-americano dos 110m com barreiras.

Também a prova feminina promete, uma vez que Vitória Rosa vem de 11s03 em Guadalajara (Espanha) na quinta, terceiro melhor resultado brasileiro na história. Ela terá como rival Rosângela Santos, que bateu o estabeleceu recorde sul-americano (10s91) ao avançar à final do Mundial do ano passado.

Além deles, o GP Brasil terá outros brasileiros que vivem grande fase no cenário internacional. Almir Júnior é terceiro do ranking mundial do salto triplo e foi prata no Mundial Indoor deste ano. Darlan Romani é quarto do mundo no arremesso de peso e vem de dois pódios na Diamond League, enquanto Andressa de Morais é nona do ranking mundial do disco e já está garantida na etapa final da Diamond.

Em péssima fase (não acertou nenhum salto em dois eventos e saltou apenas 5,45m num terceiro), Thiago Braz tentará se recuperar em casa – isso se não desistir de competir em cima da hora, como fez em Lausanne, na quinta. Também será a oportunidade de bons resultados em casa os finalistas olímpicos Geisa Arcanjo (do peso), Wagner Domingos (do martelo) e Altobeli Santos da Silva (dos 3.000m com obstáculos). Este último terá quatro rivais quenianos e pode aproveitar para fazer uma boa marca.

Também vale ficar de olho no que pode fazer Márcio Teles, que é 24º do mundo nos 400m com barreiras e agora ocupa o quarto lugar no ranking histórico da prova no Brasil.

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.